O processo de evolução do Estado, e do Direito Administrativo, até a consolidação do Estado Democrático de Direito, propiciou a construção da consensualidade, inaugurando o primado da concertação sobre a imposição nas relações de poder entre a Administração Pública e os cidadãos.
Dessa forma, uma das principais tarefas da Administração Pública consensual diz respeito ao emprego de mecanismos consensuais como soluções preferenciais aos comandos estatais unilaterais e imperativos que dominavam o Direito Administrativo clássico.
Nesse sentido, a consensualidade surge para propiciar a consagração de uma estrutura participativa, com vistas à realização do ideal democrático e em plena sintonia com os princípios que consagram a Administração Pública Democrática em sua visão plural.
Conforme se demonstrou, a redefinição do conceito de interesse público foi imprescindível para a admissibilidade do consenso administrativo em decisões outrora puramente reservadas às decisões de império. Assim, o processo de determinação do interesse público passa a ser desenvolvido a partir de uma perspectiva consensual e dialógica.
A Constituição da República de 1988 constitui-se num corte epistemológico no ordenamento jurídico nacional, vindo a consolidar princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito. É nesse contexto que o interesse público passa a concretizar-se pela intangibilidade dos valores relacionados aos direitos fundamentais dos cidadãos e pela proteção da dignidade da pessoa humana. Assim sendo, impõe-se a lógica do consenso na proteção destes valores, concorrendo, sobremaneira, para o enriquecimento dos modos e formas de atendimento do interesse público.
A nova administração pública põe fim à arbitrariedade burocrática, e orienta-se, precipuamente, pelo cidadão e pela dinâmica da obtenção de
resultados. Nesse diapasão, o agir estatal deve se submeter a todo o ordenamento jurídico, aos princípios constitucionais e jurídicos. Eis a consagração do princípio da juridicidade, em que a Administração não deve vincular-se meramente ao princípio da legalidade formal, mas sim ao próprio Direito, mormente aos princípios constitucionais albergados na Constituição da República de 1988, destacando-se, dentre eles, o princípio da eficiência.
Destarte, a consensualidade aumenta a eficiência, a transparência, a legitimação e a estabilidade da função administrativa, contribuindo para que o Estado, modelo aberto e democrático, a bem desempenhe suas tarefas, e atinja seus objetivos de maneira compartilhada com os cidadãos.
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