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CONCLUSÃO: REPROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA E O FUTURO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA

SIEd – Sistema Integrado de Informações da Educação Superior SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior

ANO/ REGIÃO

8. CONCLUSÃO: REPROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA E O FUTURO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR PRIVADA

8.1 O NEGÓCIO DO ENSINO SUPERIOR

O ensino superior privado no Brasil é um setor conspícuo enquanto objeto do desejo do investidor, pois é um campo de investimento que mobiliza mais de US$ 8.000.000.000 (oito bilhões de dólares) por ano, como parte integrante significativa do mercado de especulação financeiro. Apesar da crise conjuntural decorrente da abertura indiscriminada de IESP e a conseqüente multiplicação da oferta de vagas e da pouca elasticidade da demanda, entre 1996 e 2002, anos de consideráveis excedentes de demanda reprimida, várias instituições consolidaram-se e passaram a uma fase de expansão seletiva, inclusive mediante a incorporação de concorrentes.

“Um rápido resumo das principais transações ocorridas no setor em menos de dez anos revela crescente envolvimento de bancos e de outras empresas, apesar da alta inadimplência dos alunos e do grande número de vagas ociosas. Esses investidores parecem sentir-se confortáveis com as isenções fiscais propiciadas pelo ProUni, bem como com o fato de que a expansão das instituições públicas de ensino superior é muito tímida, deixando enorme espaço para o setor privado.” (Andes: 2007, in: http://www.andes.org.br/imprensa/ultimas/contatoview.asp?key=4695).

A diversificação de investidores estende-se dos fundos de investimento e empresas como a JP Morgan Partners, Advent International a grupos nacionais, consoante procedimentos de praxe como aquisição parcial dos negócios, investimentos e mesmo participação na gestão institucional, com o objetivo de otimizar os lucros.

Entretanto, a transparência financeira do negócio educação superior é precária e a gestão extremamente amadorística, o que obstaculiza o investimento de fundos e de

empresas nacionais e multinacionais em função de sua racionalidade técnica e contábil. De fato, a gestão patrimonialista e a quase ausência de transparência contável inviabilizam o investimento dos fundos e de empresas de grande porte. Além disso, a supervalorização patrimonial, prática comum à maioria dos mantenedores, bem como o valor das mensalidades cobradas são fatores importantes à obstaculização de investimentos de monta.

Não obstante essas limitações, a Faculdade IBMEC foi adquirida em 1999, por Claudio Haddad e Paulo Guedes, respectivamente, ex-proprietários dos Bancos Garantia e Pactual. O empresário Antoninho Marmo Trevisan, a fim de fundar a faculdade que leva seu nome, tornou-se sócio do Banco Fator. Em 2003, o processo de financeirização do ensino privado continua em desenvolvimento: o grupo Anhangüera foi adquirido, em grande parte, pelo Banco Pátria Investimento; em fins de 2005, o Laureate, uma das mais representativas corporações do setor da educação privada nos Estados Unidos, passou a ter o controle acionário, em uma vultosa operação financeira, das faculdades Anhembi- Morumbi.

Em 2007, acelera-se o processo de financeirização acima referido, com o controle acionário da Faculdade Jorge Amado pelo grupo norte-americano Whitney (Valor Econômico, 26/7/2007). O Grupo Anhangüera disponibilizou suas ações na Bolsa de Valores, com excelentes resultados financeiros (Época n° 483). É também ilustrativo o fato de a Rede Estácio de Sá ter aberto seu capital, também com extraordinária lucratividade (Exame, 8/8/2007).46

Até 1997 os estabelecimentos de ensino superior privados eram, por determinação legal, exclusivamente, “associações sem fins lucrativos”. É por essa razão que, de 1.934 IESP, somente 1520 são associações com fins lucrativos. Embora haja diversas isenções tributárias para as “associações sem fins lucrativos” (ISS, PIS, COFINS) no valor médio de 13% da receita bruta, Por outro lado, há desvantagens no sentido de sua definição

46 Ambas operações na Bolsa de Valores foram articuladas, paradoxalmente, por Bancos de Investimentos

patrimonial, ou seja, o patrimônio institucional não pertence ao mantenedor e, conseqüentemente, aos seus herdeiros e sucessores.

As transformações das IESP em associações com fins lucrativos atende à necessidade de viabilização de investimentos de capital. Não obstante, efetivamente, há sempre nas “associações sem fins lucrativos” a figura de um mantenedor “propietário” que exerce um poder discricionário absoluto e absorve os lucros para fins próprios, mediante uma série de artifícios. Os referidos artifícios têm legalidade questionável e fazem-se acompanhar de um “caixa dois”.

Portanto, diante da argumentação acima apresentada, cabe a pergunta referente à oportunidade da transição de “associação sem fins lucrativos” à condição de associação com fins lucrativos, pois abdicar das isenções tributárias, em um mercado hiper- competitivo é um risco 47. A instituição-exemplo (UNIEURO), objeto desta pesquisa, confirma as considerações acima.

As IESP têm uma dívida acumulada para com o Estado, até o momento, de cerca de R$ 12.000.000.000 (doze bilhões de reais), dos quais, em torno de 70%, referem-se à previdência social e são objeto dos “Refis” destinados às IESP e inserem-se no dito “PAC da Educação” (Programa de Aceleração do Crescimento voltado à Educação). O projeto de lei do Poder Executivo engloba também a reformulação do FIES e concede às IESP um prazo de no máximo dez anos para que saldem seus débitos para com a Receita Federal. O referido parcelamento da dívida é garantido apenas às IESP que integrarem o PROUNI.48

A concorrência desenfreada entre as IESP impõe limites à onda de expansão, a qual se dá ainda, porém em intensidade reduzida, no interior. Os imperativos de

47 CMV Consultoria – Pesquisa, in: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?id=2308 . A CMV

Consultoria considerou uma amostra de 70 IESP das quais 20 com mais de 5.000 alunos, 30 de 1.000 a 5.000 alunos e 20 com menos de 1.000 alunos.

48 Essas informações foram obtidas junto à Comissão de Educação da Câmara Federal. Segundo o Deputado

profissionalização da gestão são essenciais ao êxito e às vantagens competitivas dos empreendimentos em educação superior. Na atual conjuntura, esboça-se uma saturação da oferta de vagas, acompanhada de uma certa recessão, principalmente, nas grandes capitais.

As IESP, em um processo de seleção competitiva, social-darwinista, têm, teoricamente, na qualidade a única alternativa de êxito no mercado. Entretanto, uma conjugação de fatores como inadimplência crescente, anuidades reduzidas como atrativo para os alunos, elevadas taxas de evasão, uma legislação leniente (“a lei do calote”) de proteção ao aluno inadimplente compromete a própria existência de grande parte das IESP49.

No tocante à transformação das IES em Universidades privadas, políticas de profissionalização da gestão, de valorização da docência e os imprescindíveis investimentos de grande monta na pós-graduação stricto sensu e na pesquisa científica, à qual cabe a função estratégica de condição sine qua non para assegurar o desenvolvimento institucional de excelência, significam, praticamente, a inviabilização financeira de uma possivel transição dos Centros Universitários à condição de Universidades de fato.

8.2 ENSINO SUPERIOR PRIVADO E QUALIDADE

O cerne da reproblematização desta pesquisa expressa-se, emblematicamente, na pergunta: É possível a existência de uma Universidade privada de qualidade no Brasil?

Qualquer resposta a esta pergunta exige um esquadrinhamento lógico que leve em conta elementos de ordem socio-genética, como por exemplo, origem e desenvolvimento institucional, tradição, vocação, missão, capital político e contexto mercadológico. Portanto, não é possível uma resposta definitiva e reducionista à pergunta.

49 Trata-se de uma antinomia, pois a leniência da legislação oficial para com os devedores não desobriga as

IESP de manter em dia o pagamento de salários, de professores e funcionários, luz, água, telefone e outros encargos inalienáveis.