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CAPÍTULO 3: Umbanda Esotérica

3.6 Conclusão

55 Arrematando os apontamentos iniciáticos e esotéricos da O.I.C.D. é lúcido ressaltar que a iniciação está presente, também, em cultos e religiões outras do Brasil, como por exemplo, em outras linhas de Umbanda, no Candomblé, no Catolicismo, na Ayahuasca, etc. não obstante, o mesmo pode ser dito dos outros componentes ressaltados por Faivre (1994):

(...) os seis componentes que Faivre elenca como características básicas do que ele chama “pensamento esotérico” (as correspondências; a concepção da natureza como um ser vivo; a imaginação ativa e as mediações; a experiência de transmutação; a concordância, ou comparabilidade; e a ênfase na transmissão de mestre a discípulo) não estão muito distantes dos parâmetros iniciáticos presentes no xamanismo indígena e nas religiões de matriz africana, tradições espirituais muito vivas na América Latina em geral e no Brasil em particular. (CARVALHO, 2006. P. 4)

Dessa maneira, os procedimentos rituais, iniciáticos e mágicos, que ocorrem nos meandros da O.I.C.D. ou nas explicações de Rivas Neto, não constituem necessariamente uma “novidade” ou até mesmo, algo que “não existia na cultura brasileira”. Porém as bases explicativas, elucidativas, e referencia livresca que os adeptos utilizam, estão fundamentadas num “intercambio cultural” que se entrelaça para além da “cosmogonia” Ocidental.

56 Em se tratando de particularidades, em meio a essas tantas repetições do termo

“pluralidade”, encontra-se a Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, como uma das principais correntes da chamada Umbanda Esotérica.

A O.I.C.D. em Brasília reproduz em sua liturgia, um discurso Mágico, Iniciático, contemplativo, etc. de correntes mágicas, doutrinárias, filosóficas, entre outras, presentes tanto nas manifestações europeias de séculos passados, quanto das culturas orientais antigas, seculares, milenares, etc.

A presença dessa linha de Umbanda em Brasília encontra um público “disposto”

a compreendê-la, vivenciá-la, iniciar-se talvez, ou simplesmente utilizar desse esoterismo para resolver seus problemas de ordem pessoal. Afinal de contas, esse

“esoterismo” da O.I.C.D. lança mão de talismãs, incensos, “banhos”, plantas específicas, sinais riscados, metais, pedras, etc. que juntos, formam uma gama de artifícios variados, a que o indivíduo recorre sem deixar um segundo sequer de “praticar Umbanda”. Muito pelo contrário, na Umbanda Esotérica esses artifícios que a priori são

“de culturas diferentes” encontram suas justificativas, explicações, ligações e legitimidade, nas bases teóricas que caracterizam essa modalidade de Umbanda.

A forma como a O.I.C.D. “dialoga” com o “Esoterismo Moderno”, não é de forma subjetiva ou indireta, isto é, os formadores, dirigentes, mestres, entre outros, que assumem papéis fundamentais na Umbanda Esotérica, não utilizam esses elementos sem antes tecer sobre eles extensas explicações e legitima-los à luz de seus teóricos, no caso analisado: Matta e Silva e Rivas Neto.

Os “teóricos esotéricos da Umbanda” encontram nas “construções simbólicas”

(GEERTZ, 2013) de culturas outras, possibilidades de lhes combinar, reinterpretar e comparar diferentes elementos simbólicos para deles extrair uma “síntese”, um

“conhecimento uno”. A Umbanda Esotérica é uma das possibilidades de compreender esse “conhecimento uno”. O que significa dizer que, através dela o “iniciado”

compreenderá dos “mistérios do mundo”: a parcela que essa Umbanda revelou, seja através da iniciação em seus ritos, ou através de sua Faculdade Teológica.

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