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É possível concluir que ocorreu uma superestimação das vazões afluentes geradas pelo WASA, provavelmente ocasionada pelo escoamento de base, visto tal fenômeno ocorrer com maior raridade no semiárido nordestino pelas suas características climáticas e geológicas. Tal superestimação repercutiu em resultados de garantia muito elevada. Mesmo com a superestimação das vazões, o modelo representou bem o comportamento de secas históricas do Ceará a partir de 1980, no caso a de 1980-84, 1993, 1998-99, 2001, 2010 e 2012-17.

A predição de volumes pelo SIGA foi satisfatória. O coeficiente Nash-Sutcliffe (NS) variou de 0,29 a 0,98 para oito reservatórios dos dez analisados, com mediana de 0,66 e média de 0,42, podendo-se destacar excelente eficiência de predição para os reservatórios Carão, Carmina, Edson Queiroz, Forquilha e São Vicente, com valores acima de 0,75.

A diferença média entre garantias calculadas pelo SIGA e pelo VYELAS foi baixa, na ordem de 6%. A semelhança estatística entre médias dos dois modelos foi constatada pelo teste t-Student, exceto para os Açudes Farias de Souza, Forquilha e Edson Queiroz. A diferença de escala temporal entre o SIGA (mensal) e o VYELAS (anual) tende a gerar diferenças de garantia entre os modelos. A escala anual do VYELAS permite compensação de falhas entre meses resultando em maior garantia. Portanto, o VYELAS, como ferramenta de planejamento, tende a apresentar garantias ligeiramente maiores em relação ao SIGA.

Os níveis de atendimento das demandas foram elevados, com valor médio de 93% e mediana de 98% do tempo. Alguns resultados insatisfatórios para as demandas dos Açudes Farias de Souza e Forquilha já eram esperados devido às suas baixas garantias e pela diferença entre a vazão liberada pela COGERH de 220 L/s e a vazão máxima outorgável calculada pelo VYELAS de 90 L/s para o Açude Forquilha. Para este último reservatório, o demandante mais penalizado foi o Perímetro Irrigado Forquilha, que ficou desabastecido por todo o período.

Os reservatórios que elevaram sua garantia, com a inclusão do reúso indireto, foram o Acaraú-mirim (0,4%), Araras (0,2%), Ayres de Sousa (0,9%), Carão (0,2%) e Taquara (0,4%), pelo fato de serem os únicos com demandas a montante, e, portanto, com vazão de retorno afluente aos reservatórios. Os aumentos de garantia apresentados com a introdução do reúso direto e indireto combinados, são também pouco representativos, com maior impacto para o Açude Forquilha (1,1%). Os baixos valores de garantia são explicados pelo fato de as vazões incrementais de reúso indireto serem muito pequenas em relação às vazões afluentes naturais. Além disso, as garantias, para essas faixas de vazão liberada, possuem baixa sensibilidade à variação da vazão.

Analisando apenas o período de seca de 2012 a 2017, é possível constatar que o reúso indireto e direto passa a ter papel relevante na manutenção do estoque dos reservatórios, principalmente nos meses mais críticos. O reúso indireto foi responsável, neste período, pelo aporte de 3,3 a 18% dos volumes estocados nos reservatórios estratégicos da bacia do rio Acaraú, atingindo a parcela máxima de contribuição de 71,2% para o reservatório Carão, 43,3% para o Araras, 21,7% para o Acaraú-mirim, 10,6% para o Ayres de Sousa e 9,2% para o Taquara. Ao adicionar os efeitos do reúso direto para os açudes Araras, Ayres de Sousa e Taquara, obteve-se, respectivamente, um aporte médio de reúso de 7,9%, 14,2% e 9,4%. As parcelas máximas para estes reservatórios, foram, respectivamente, de 43,3%, 33,6% e 32,4%, para os seus meses mais críticos.

A implementação de projetos de reúso direto não potável são normalmente complexos e de difícil viabilização. As principais recomendações para criação de ambiente propício à projetos de reúso são: a criação de um marco regulatório de reúso que facilite a sua prática e a criação de arranjos institucionais; a criação de mecanismos de incentivo ao reúso por meio de subsídios governamentais; e o equilíbrio tarifário de água bruta para aumento da competitividade da água de reúso.

Dos três projetos propostos de reúso direto para fins agrícolas e industriais, o projeto 2 (reúso em Sobral) foi selecionado para o detalhamento de custos estimados, pela seu porte e relevância. Este projeto seria capaz de gerar significativo impacto em uma de suas demandas, no caso, o Perímetro Irrigado Forquilha, que passaria a ter nível de atendimento de 98,7%. Este aumento é explicado pelo fato desta demanda ter sido submetida à restrição hídrica, ficando desabastecida no Cenário 1 (sem reúso). Com a elevação do nível de cobertura de esgoto de Sobral de 48,35 para 63,13%, seria possível dar autonomia às suas demandas não potáveis mais próximas com água de reúso, que é de 265 L/s.

A proximidades dos Perímetros Irrigados Ayres de Sousa e Forquilha e de indústrias de porte ao Município de Sobral são um atrativo para o desenvolvimento de um projeto de reúso na região, poupando o uso de água bruta para fins mais nobres e reduzindo o aporte de nutrientes aos reservatórios a jusante. Dentre os três usuários supramencionados, o mais prioritário seria o Perímetro Irrigado Forquilha, pela existência de restrição na liberação de vazão do Açude Forquilha.

Os custos estimados da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), Estações Elevatórias (EE) e Linhas de Recalque (LE), para o atendimento de 76,6% da demanda não potável da região de Sobral, com água de reúso (203,5 L/s), totalizam aproximadamente R$ 52 milhões de reais.

Analisando as garantias, pode-se dizer que tanto o reúso indireto, como o indireto, geraram ganhos discretos aos reservatórios, mas do ponto de vista individual de cada demanda, o reúso direto não potável pode impactar significativamente no seu nível de atendimento, principalmente quando a mesma está submetida a restrições hídricas.

Os projetos de reúso, além de apresentarem ganhos de segurança hídrica, também são vetores de desenvolvimento social, econômico e principalmente ambiental, pela redução de aporte de nutrientes aos reservatórios que aceleram o processo de eutrofização. Ao mesmo tempo, a água de reúso é considerada uma água fertirrigada, reduzindo custos com nutrientes utilizados na agricultura.

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