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A partir do presente estudo, é possível perceber o quão árduo foi o caminho que as mulheres tiveram que percorrer para chegar aos dias atuais com certa igualdade de condições em relação aos homens. Pode-se tomar como exemplo o acesso à educação: no Brasil Colônia, era proibido às mulheres; obrigando-as a ficarem restritas ao lar e à família.

No Brasil hodierno, as mulheres podem escolher uma profissão, têm garantido por lei o acesso à educação e ao mercado de trabalho. Embora existam avanços, ainda não foi possível apagar por completo do imaginário popular brasileiro que são das mulheres a responsabilidade pelos cuidados do lar e dos filhos e talvez esse seja o principal preconceito ainda a ser superado.

Ficou claro durante este estudo que o princípio da igualdade de gêneros, num primeiro momento, teve o viés de proteger a mulher em um momento histórico que ela era muito subjugada e explorada, ou seja, o princípio da igualdade teve um papel de tratá-las diferentes, pois assim elas poderiam disfrutar do direito de trabalhar em igualdade de condições, por exemplo. Entretanto, com o passar do tempo e com cada vez mais homens fazendo papéis outrora incumbidos às mulheres, muitas proteções acabaram por gerar preferência à mão-de-obra masculina e entraves na manutenção feminina no mercado de trabalho.

O momento histórico atual é o de extensão de direitos tidos como exclusivamente femininos aos homens para que superem os preconceitos já relatados anteriormente. Por exemplo, a licença maternidade, em outros países, já é um direito a ser compartilhado entre pais e mães. Com algumas mudanças, iríamos ter a verdadeira igualdade objetivada na Constituição Federal. Dispositivos pátrios como o que limita a quantidade de peso supostamente suportado pela mulher deveriam ser analisados sob o prisma do bom-senso, pois, antes e hoje sempre existiram mulheres com tanta força física quanto um homem. Tais normas mais parecem um escancaro de fragilidade feminina do que busca por igualdade. Tais normas acabam servindo de fundamento para discriminações por parte de empregadores.

Em relação ao quesito salário, estatísticas trazidas pelo IBGE mostram que as mulheres recebem menos que os homens. Isso expõe uma desvalorização da mão-de-obra feminina. E são por discriminações como essas que ainda existem leis protetivas às mulheres.

Percebe-se, pois, que, em certos casos, buscar a igualdade é tratar o desigual na medida da desigualdade, para que assim se alcance os mesmos direitos.

No que se refere aos textos legais, foi nítido o vultoso processo de transformação, tanto nas Constituição como nas demais normas. As mulheres sequer foram mencionadas nas primeiras Constituições brasileiras, não eram consideradas cidadãs, não tinham direito ao voto e não tinham autonomia, dependiam sempre de alguma figura masculina, que poderia ser o pai, o marido, o filho.

Todavia, com a CF/88, restou garantida a igualdade entre homens e mulheres e também foram dados benefícios exclusivos às mulheres, como a proteção ao trabalho da mulher.

Os textos legais analisados realmente tentam garantir a igualdade e a proteção ao trabalho da mulher, porém cada norma foi escrita de acordo com as suas realidades históricas e sociais e atualmente é preciso que sejam feitos novos dispositivos a fim de adequar algumas normas à realidade do presente, como a citada licença maternidade, por exemplo.

Em relação à reforma trabalhista também analisada, um dos pontos de mudança dispõe sobre a gestante ser afastada de ambientes insalubres de qualquer grau de modo automático, porém garantiu a possibilidade do trabalho ser continuado em ambientes insalubres de grau baixo ou médio, mediante apresentação de atestado médico autorizativo. Outra mudança também trazida pela reforma trabalhista foi o fim do direito de intervalo de quinze minutos antes da jornada suplementar de trabalho. Quanto aos horários de intervalos para amamentação, agora existe a possibilidade de negociação em relação ao melhor momento para que eles sejam gozados. Tais mudanças tem que ser analisadas com cuidado nos próximos anos, pois é necessário se averiguar se a mulher ficou mais vulnerável aos seus respectivos empregadores, por exemplo.

A partir das interpretações jurisprudenciais analisadas, verifica-se que o Poder Judiciário está procurando equilibrar as relações entre os sexos. Ora são vanguardistas e equiparam direitos de mulheres a homens, ora levam em consideração os dispositivos legais na busca da manutenção da igualdade, isto restou demonstrado quando o judiciário tenta fazer com que o princípio da proteção ao trabalho da mulher não fira o princípio da isonomia nem sirva como justificativa para a discriminação.

Com tudo isso, responde-se a pergunta da pesquisa: Em que medida a legislação trabalhista brasileira possibilita a efetividade do princípio constitucional da igualdade entre homens e mulheres previsto do art. 5º, I CF/88? Ora, a legislação trabalhista foi escrita em um contexto histórico anterior ao de hoje e, à época, garantia sim o principio da igualdade, pois os desiguais devem ser tratados com desigualdade, na medida da sua desigualdade. Porém, tanta proteção à mulher está se tornando um entrave a mais na relação de trabalho, ainda tão estigmatizada.

Por isso, faz-se necessário uma aplicação gradativa e proporcional dos direitos exclusivos às mulheres aos homens, para que ambos possam assumir as responsabilidades do lar, do trabalho e da família. Dessa forma, se entende que a igualdade não ficará restrita apenas à teoria e aos textos legais, mas também à cultura e à vida cotidiana dos cidadãos e cidadãs do Brasil.

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