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Concluir a pesquisa aqui desenvolvida talvez signifique ir em direção à retomada do seu próprio percurso. O “lugar do espaço” em Ser e Tempo, na verdade, só pode ser definido enquanto um ‘ir-se’ dando a cada momento estrutural que é investigado na ontologia heideggeriana, como uma noção que vai insinuando-se em seu aspecto cada vez mais originário, por assim dizer. Nesse sentido, o trabalho aqui realizado vai ao encontro do movimento do pensamento de Heidegger, qual seja, o de pôr-se a caminho do mais originário; do ser em seu acontecimento. Portanto, não se pode pensar que o “lugar do espaço” seja um ‘lugar’ específico, estritamente localizável em Ser e Tempo. Somente recorrendo-se à noção de lugar conforme considerada por Heidegger e também apresentada neste trabalho, que se pode compreender o que essencialmente está sugerido na frase do título: o lugar do espaço.

De todo modo, talvez o terceiro capítulo pudesse assumir o lugar de conclusão, já que sua própria denominação – os caminhos do espaço - indica tratar-se dos desdobramentos da noção de espacialidade. Mas o que se pode dizer desses caminhos? Qual o problema em questão? Qual a hipótese – já que se fala nessas categorias como critérios da pesquisa acadêmica? E, então,qual é a conclusão?

Para tentar responder a tais questões, e ao mesmo tempo instabilizá-las, vale lembrar o objetivo primeiro da pesquisa, que diz respeito ao delineamento do estatuto do espaço em Ser e Tempo. Aqui, o próprio termo ‘delineamento’ aponta para um propósito que não solicita uma definição per si; refere-se ao âmbito do que pode ser dito a partir do que está implícito no texto, da interpretação que se contenta com uma possibilidade e que prescinde de uma verificabilidade, a menos que esta signifique um voltar-se à obra orientado por essa

possibilidade. E assim a verificação teria êxito, porque não são poucos os indícios de que a noção de espaço vai além dos parágrafos que se destinam a explicitá-la; e foi essa observação que deu origem à pesquisa.

Após tais considerações, pode-se, então, concluir que o presente trabalho apresentou uma investigação acerca da noção de espacialidade em Ser e Tempo, ampliando o seu alcance na ontologia fundamental heideggeriana, e mesmo no pensamento de Heidegger em geral, na medida em que a vincula aos existenciais constitutivos da pre-sença e a aproxima da noção de abertura – noção esta que será trabalhada por Heidegger em obras tardias com a designação de clareira, acontecimento-apropriação (Ereignis) - revelando uma unificação tempo-espaço. Aprofundar esse desdobramento pode ser o propósito de continuidade dessa pesquisa e desenvolvimento de pesquisa futura.

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