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O objetivo geral foi cumprido, na medida em que foi possível “analisar a coleta de REEE nos ecopontos de Belo Horizonte”, no período pesquisado.

O município ainda não possui uma efetiva gestão de REEE, porque não existe ainda uma estruturação das etapas de gerenciamento para implantação da logística reversa e menos ainda um sistema de Gestão definido para essa tipologia de resíduo. Muito embora as responsabilidades já estejam definidas nas Políticas Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos, ainda não existe uma aplicação mais severa dessas leis. De acordo com o andamento das discussões que ainda estão em curso verificou-se uma tendência de que o poder público deverá atuar exclusivamente na gestão e na fiscalização de uma futura aplicação da logística reversa. A responsabilidade dessa estruturação e da operacionalização da cadeia reversa será definitivamente do fabricante/importador sendo que os custos deverão ser assumidos pelos consumidores, por meio da cobrança antecipada de uma taxa de reciclagem que deverá ser recolhida no ato da aquisição do produto, seguindo alguns modelos internacionais apresentados na literatura, muito embora essa prática não tenha sido definida claramente na PNRS e dependerá das negociações dos acordos setoriais.

O primeiro objetivo específico foi comprido ao passo em que “os ecopontos de coleta de REEE foram identificados e caracterizados” finalizando com um inventário físico de suas localizações na cidade de Belo Horizonte. Para o cumprimento desse primeiro objetivo específico foi necessário passar pelas três fases metodológicas (I – pesquisa documental e bibliográfica, II – identificação dos ecopontos e III – caracterização dos ecopontos). Através da pesquisa em sites eletrônicos foi construída uma planilha com endereços de 311 potenciais locais de coleta e ao final se chegou a um total de 96 pontos que coletam algum tipo de REEE. Muitos desses locais listados nos sites eletrônicos não existiam ou foram desativados. E dentro os 96 ecopontos inventariados nenhum deles recebiam todas as tipologias de REEE ao mesmo tempo.

Somente foi possível o cumprimento do segundo objetivo específico a partir da triangulação de todos os dados obtidos, da compreensão dos contextos trabalhados em todas as quatro fases metodológicas e finalizando com o cruzamento de poucas informações sobre os ecopontos e os destinos desses resíduos com as informações disponíveis nas poucas literaturas sobre o tema, especialmente para Belo Horizonte.

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A literatura existente foi fundamental para apoiar a discussão sobre os resultados uma vez que os dados sobre o fluxo desses resíduos a partir dos ecopontos muitas vezes eram fornecidos de modo subjetivo, inconsistente ou até eram indisponíveis. Foram, portanto, “identificados os elementos que interferem no desempenho da coleta de REEE, em Belo Horizonte e como eles afetam os resultados das etapas posteriores para a implantação da logística reversa e a valorização desses resíduos”.

A finalização das discussões e a assinatura do acordo setorial parecem ser os principais limitadores para a implantação da coleta de REEE na cidade, pois se espera dele uma definição de responsabilidades, de padrões operacionais e de requisitos que envolvam todas as etapas da gestão de REEE para que a legislação relacionada com a logística reversa possa ser aplicada. Questões operacionais, como o adequado armazenamento e o transporte de resíduos perigosos de acordo com as normas técnicas e as leis pertinentes, são pontos de discussão para os quais ainda não existe um entendimento, uma vez que os fabricantes /importadores querem que esses materiais sejam tratados como não perigosos, o que facilitaria toda a operação de armazenamento e transporte, mas implicaria em alteração de normas regulamentadoras e de requisitos legais. Mantendo-se a condição de periculosidade dos REEE serão necessárias adequações substanciais para a regularização das condições de coleta/armazenamento, transporte e destinação desses materiais.

As questões tributárias também são discutidas, com o objetivo de desonerar as operações para o retorno dos materiais descartados, uma vez os empreendimentos alegam que os tributos já foram pagos no ato da expedição do seu produto.

Outra questão discutida é que a viabilidade econômica para implantação da logística reversa envolve os custos e as condições para instalações de linhas para a recuperação de materiais, especialmente aqueles que não são de interesse econômico das empresas de reciclagem. Esses são alguns dos muitos elementos que interferem no funcionamento efetivo da coleta de REEE no município de Belo Horizonte. Também existe um impasse sobre quem assumiria as responsabilidades sobre os resíduos “órfãos” gerados por aqueles produtos que entram de modo ilegal no país sendo que não existe uma rastreabilidade de produção dentro das especificações técnicas tais como níveis de metais pesados o que implicaria em maiores custos ao final do ciclo de vida desse produto; portanto, no tratamento e distinção final dos mesmos.

Enquanto existirem os gargalos que impeçam a assinatura dos acordos setoriais para a im- plantação da logística reversa de REEE, a etapa de coleta ficará comprometida.

As poucas empresas privadas com atividades relacionadas com a reciclagem de alguns tipos de material de maior valor não são amplamente divulgadas, e na maioria delas existe a limitação da informação como se fosse um segredo industrial, prática que dificulta a produção acadêmica sobre o tema. A literatura existente conta somente com estimativas baseadas em produção/venda para se produzir dados potenciais de geração (qualitativo e quantitativo) sobre a coleta de REEE.

Há que se ressaltar, que durante a pesquisa, concluiu-se que o interesse voluntário no negócio da reciclagem de REEE pelo setor privado esteve relacionado com o valor comercial que seus os componentes possuem, especialmente, os das linhas verde (materiais de informática) e marrom (TVs e telas).

Por outro lado, foi evidenciada a inexistência no recebimento por parte da inciativa privada dos REEE das linhas brancas (geladeiras, refrigeradores e congeladores, fogões, lava-roupas, ar- condicionado e etc) e azul (batedeiras, liquidificadores, ferros elétricos e furadeiras e etc), considerados de menor valor comercial. Esses materiais somente foram encontrados nas URPVs, ecopontos público.

Dentro do cenário atual da gestão de resíduos sólidos em Belo Horizonte, considerando a densidade populacional, o baixo nível de informação das pessoas, o horizonte para a implantação da logística reversa para REEE parece um pouco mais distante.

O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte (PMGIRS-BH, 2017), ainda que atual, não considera a gestão de REEE como tema prioritário e nem de longo prazo para o município. No entanto, estão previstas ações pelo Estado de Minas Gerais, onde os acordos setoriais (estaduais) e as articulações para a logística reversa de REEE encontram- se em níveis mais avançados e a capital Belo Horizonte poderá sediar os projeto-piloto.

A participação e a conscientização da população foram pouco discutidas nas pesquisas estudadas; portanto, observou-se uma lacuna importante a ser preenchida a partir do pressuposto de que a entrega voluntária dos REEE depende do nível de conscientização das pessoas. Por um lado, a população não sabe ou não participa dessa entrega de REEE nos

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ecopontos existentes; por outro lado, também não há ainda estrutura sistêmica que promova a continuidade das etapas posteriores à coleta de todas as tipologias de REEE para que a logística reversa seja efetivamente implementada.

Questões como o planejamento e a implementação para a distribuição e a operacionalização dos ecopontos, o monitoramento de registros consistentes, as definições de indicadores e de metas para maximizar a coleta de REEE, a criação de meios de comunicação que atinjam e envolvam a população em seu papel de responsabilidade quanto consumidor são questões básicas a serem definidas para assegurar uma coleta de boa qualidade que viabilize uma estrutura de logística reversa de REEE.

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