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O estudo teve como objectivo a análise da capacidade de trabalho em função das características sócio-demográficas, da sintomatologia músculo-esquelética e dos factores a nível psicossocial dos funcionários dos vários sectores seleccionados por parte da empresa. A capacidade de trabalho analisada foi considerada Boa com um valor médio de 41,28±4,74 por 46,4% dos 539 funcionários inquiridos neste projecto. Quando relacionado com a idade, observou-se que os trabalhadores mais jovens apresentam um ICT mais alto, que vai decrescendo com o avançar da idade (43,27 – categoria ≤ 25 anos; e 38,80 – categoria 56 – 65 anos). Verificou-se que existem diferenças significativas entre os mais jovens e os mais idosos e a existência de uma correlação negativa com a capacidade de trabalho. Relativamente ao estado civil dos funcionários e a sua relação com a capacidade de trabalho, esta é considerada Boa nas três categorias que foram criadas e não existem diferenças significativas entre os grupos nem correlação com o ICT. Em relação ao IMC, a capacidade de trabalho é Boa em todas as categorias, mesmo existindo 42,7% de funcionários em Sobre-Peso.

Os três horários de trabalho apresentam uma Boa capacidade de trabalho, sendo que o horário da noite exibe o valor mais elevado (42,20) e o da manhã o valor mais reduzido (40,69). Verificou-se ainda que existem diferenças significativas entre estes dois horários laborais. De acordo com os horários praticados, os funcionários consideram-se matinais ou nocturnos, muito provavelmente, pelo horário em que estão inseridos sendo que 47,7% dos funcionários considera-se do tipo matinal.

Os sectores seleccionados obtiveram uma capacidade de trabalho Boa, onde a secção que teve um valor mais alto foi a MAC (43,04) e a que teve o valor mais baixo foi a MAB (40,33), sendo que existem diferenças significativas apenas entre ambas as secções. Em relação às exigências da situação de trabalho, a repetitividade do segmento mão/braço apresenta uma capacidade de trabalho Boa em quase todas as repostas da escala com excepção para a escala “Nunca” que tem uma capacidade de trabalho Excelente, mesmo existindo uma elevada repetitividade (73,4% “Frequente” e “Muito Frequente”). O peso das cargas manipuladas e movimentadas pelos funcionários apresenta Boa capacidade de trabalho nos quatro tipos de cargas. Verifica- se que a repetitividade do segmento mão/braço e as cargas entre 1 e 4 Kg têm uma correlação positiva com o ICT (r=0,093 e r=0,030 respectivamente), ou seja, quanto menor a repetitividade mão/braço e a frequência de movimentação manual de cargas entre 1 e 4 kg, melhor será o ICT.

O nível de fadiga percebido pelos funcionários ao fim de um turno de trabalho pode ser considerado médio (5,53±2,09), uma vez que o seu valor encontra-se ligeiramente acima do valor médio da escala (0 – Ausência de Fadiga, a 10 – Fadiga Extrema). Existe uma correlação negativa entre este nível e a capacidade de trabalho (r=-0,221), ou seja, quanto maior for o nível de fadiga pior será o valor do ICT dos funcionários.

Em cada turno de trabalho, 71,8% dos funcionários sente alguma sonolência ou é raro sentir sonolência. Em relação à capacidade de trabalho, a frequência de sonolência sentida pelos funcionários é considerada Boa na maioria das categorias de resposta (“Muito Raro”; “Raro”;

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“Às vezes”; e “Frequente”) e Moderada na categoria que considera a sonolência muito frequente ao longo do turno de trabalho (“Muito Frequente”). Sendo que existem diferenças significativas nas extremidades da escala de sonolência.

A sintomatologia músculo-esquelética auto-referida apresenta as zonas corporais da coluna lombar (34,9%), dos joelhos (25%), da coluna dorsal (21,9%), da coluna cervical (20,8%) e dos punhos/mãos (20,4%) como as principais zonas de queixas, nos últimos doze meses, por parte dos funcionários. Apesar da capacidade para o trabalho em cada zona corporal ser considerada Boa, os funcionários que não referem sintomatologia músculo-esquelética apresentam melhor ICT.

Nos factores psicossociais, a variável Exigências Cognitivas foi a única a apresentar valores críticos para a saúde dos funcionários (2,16 na sub-escala em que o pior valor é o menor). As variáveis que são favoráveis à saúde são as seguintes: Sintomas Depressivos (3,83); Problemas em Dormir (3,83); Comunidade Social no Trabalho (1,87); Significado do Trabalho (1,96); Auto- Eficácia (2,19); e Possibilidade de Desenvolvimento (2,07).

Nas sub-escalas em que o valor de risco equivale ao valor mais baixo, existe uma correlação positiva forte entre as variáveis Stress (r=0,372), Sintomas Depressivos (r=0,358), Burnout (r=0,316), Problemas em Dormir (r=0,272), Conflito Trabalho-Família (r=0,195) e Conflitos Laborais (r=0,163), ou seja, quanto melhores os resultados nestas variáveis, melhor o ICT. Nas sub-escalas em que o valor de risco corresponde ao valor mais elevado, a correlação existente é negativa e mais forte com as variáveis Possibilidade de Desenvolvimento (2,07), Comunidade Social no Trabalho (1,87), Auto-Eficácia (2,19) e Significado do Trabalho (1,95), ou seja, quanto melhores os resultados destas variáveis, melhor o ICT.

Em suma, no presente estudo obteve-se um diagnóstico relativo à capacidade de trabalho dos funcionários da Manutenção desta indústria aeronáutica, que poderá constituir-se como um contributo importante para uma análise ergonómica aprofundada nas àreas em que foram identificados factores críticos, tendo como objectivo a optimização das situações de trabalho e a definição de medidas de promoção da capacidade de trabalho.

Quanto a perspectivas futuras, considerou-se que seria relevante o acompanhamento dos funcionários visados com a realização de estudos longitudinais, de forma a avaliar e comparar a capacidade de trabalho dos mesmos funcionários e o alargamento do estudo aos funcionários da Fabricação, o que poderá permitir uma comparação entre as duas zonas da empresa, Fabricação e Manutenção.

As principais limtações do estudo relacionam-se com limitações temporais pelo que estes resultados não puderam ser justificados e aprofundados com uma análise da actividade de trabalho detalhada por sector laboral.

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