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O objetivo geral da pesquisa foi avaliar o nível e a qualidade da evidenciação ambiental contida nos Relatórios de Sustentabilidade das indústrias cervejeiras brasileiras. Para isso, foram desenvolvidas 5 Etapas principais. A Etapa1 - Diagnóstico das publicações dos Relatórios de Sustentabilidade e a Etapa 2 - Análise comparativa entre os relatórios tinham por objetivo avaliar o nível da evidenciação ambiental dos relatórios das indústrias do setor, comparativamente entre publicações de Relatórios de Sustentabilidade nacionais e internacionais, com base nas diretrizes e indicadores propostos pelo Global Reporting Initiative. A Etapa 3 - Análise das licenças ambientais visou atender o objetivo específico que analisou as Licenças Ambientais emitidas por órgãos ambientais nacionais destinadas à indústrias cervejeiras.

A Etapa 4 - Elaboração de indicadores com base nas licenças ambientais e a Etapa 5 - Análise dos relatórios a partir dos indicadores elaborados objetivavam avaliar a qualidade da evidenciação ambiental reportada nos Relatórios de Sustentabilidade das indústrias cervejeiras brasileiras.

Assim, para a Etapa 1, pode-se considerar que o porte das indústrias cervejeiras brasileiras está relacionado com a publicação de Relatórios de Sustentabilidade, considerando que todos as empresas internacionais publicaram esse tipo de documento no recorte cronológico analisado, o que, nas empresas nacionais, a prática vem sendo adotada gradativamente tendo, ainda, uma empresa que não adota esse tipo de publicação.

Com a Etapa 2, pôde- se constatar que a divulgação de informações ambientais nos Relatórios de Sustentabilidade do setor industrial cervejeiro, tanto o nacional quanto o internacional, possui fragilidades, como a divulgação de indicadores GRI com aderência plena, a verificação externa do documento, a correlação financeira dos indicadores ambientais, o caráter das informações prestadas e a mensuração das informações.

A verificação externa é uma prática pouco utilizada entre os Relatórios de Sustentabilidade analisados. Além de um uso ainda limitado, quando empregada, essa prática possui ainda dificuldades quanto ao discurso utilizado para justificar e explicar a utilização desta no relatório A não divulgação de indicadores é maior do que a divulgação de indicadores com aderência plena, tanto no âmbito nacional quanto no internacional, sendo os indicadores reportados com

aderência plena menos da metade do que sugere a GRI, o que demonstra fragilidades do setor na divulgação de informações ambientais.

A mensuração financeira dos indicadores ambientais ainda é uma prática pouco divulgada, o que denota que as empresas desenvolvem certa gestão sobre o meio ambiente em que se insere porém, não o relacionam com lucro ou perda financeira. Nesse caso, as empresas brasileiras mensuram financeiramente mais do que as empresas internacionais analisadas, entretanto, ainda de maneira não representativa perante as outras informações ambientais divulgadas no relatório. Mesmo com os esforços da GRI em produzir diretrizes cada vez mais completas de modo a proporcionar melhores informações para as partes interessadas, as indústrias cervejeiras precisam amadurecer a prática da publicação de Relatórios de Sustentabilidade e o atendimento das informações solicitadas pela diretriz para que, assim, possam divulgar relatórios mais transparentes e completos.

A Etapa 3 permitiu apresentar as exigências ambientais presentes nas Licenças Ambientais emitidas para indústrias cervejeiras pelos órgãos ambientais competentes.

Os indicadores elaborados na Etapa 4 abarcam as informações ambientais a serem reportadas nos Relatórios de Sustentabilidade de maneira pontuada, de forma a analisar o discurso reportado pela empresa, demonstrando a gestão e divulgação de seu escopo ambiental.

As evidências obtidas na Etapa 5 demonstram que as indústrias cervejeiras apresentam poucos indicadores com a mensuração de dados relativos a uma unidade de produção, transmitindo uma informação incompleta acerca dos resultados para os stakeholders, dando-lhe uma percepção limitada do impacto ambiental e uso de recursos da empresa não relacionados à produção, não demonstrando efetivamente seu desempenho ambiental.

Além disso, a divulgação de metas futuras sobre o desempenho ambiental das organizações ainda é uma prática pouco frequente no setor industrial cervejeiro brasileiro. A projeção futura do desempenho ambiental das organizações é intimamente dependente da mensuração atual, ou seja, se a empresa não calcula e avalia o atual uso de recurso ou impacto no ambiente de forma completa, relacionando-o com a produção e crescimento da empresa, provavelmente esta não desenvolverá metas futuras delimitadas, que mensurem os riscos e oportunidades do seu sistema produtivo.

Através dos resultados obtidos, pode-se inferir que a relação entre a qualidade da informação prestada e a quantidade de indicadores GRI divulgados não necessariamente existe.

Mesmo o setor cervejeiro possuindo baixa legitimidade perante a sociedade devido ao seu produto, ainda assim, pratica uma baixa evidenciação, o que é contraditório ao esperado. Pressupõe –se que uma empresa com baixa legitimidade pratique uma evidenciação completa e com a maior quantidade de informações para seus stakeholders, a fim de suprir lacunas negativas em sua imagem.

Espera-se que, com os anos, as empresas criem prática na mensuração e divulgação de dados ambientais e, com isso, divulguem cada vez mais informações de maneiras mais claras, consistentes e completas a fim de ter uma evolução em sua evidenciação ambiental.

A pesquisa teve como limitação a relação entre o período para a realização e a quantidade de publicações de Relatórios de Sustentabilidade pelas indústrias cervejeiras brasileiras, uma vez que o setor ainda está se adaptando a esse tipo de prática. Devido a isso, analisou-se uma quantidade de relatórios reduzida para compor a amostra.

Outra dificuldade encontrada foi em relação a definição de um benchmarking do setor, devido a utilização de várias formas de cálculos utilizadas pelas empresas e os diversos discursos adotados para reportar tais dados. Não havendo uniformidade para comparação.

Sugere-se como pesquisas futuras: a) o aprofundamento sobre a percepção financeira dos indicadores ambientais pelas indústrias cervejeiras e a publicação destes em seus Relatórios de Sustentabilidade, a análise dos Relatórios de Sustentabilidade do setor considerando os próximos relatórios a serem publicados pelas indústrias e um número maior de indústrias cervejeiras internacionais, a fim de avaliar a evolução da evidenciação praticada pelo setor. Pode-se, também, segmentar a amostra utilizada por participação da empresa em iniciativas de cunho ambiental (como o Carbon Disclosure Program – CDP, ou afins) para verificar a influência da participação nesse tipo de iniciativa para a qualidade do Relatório de Sustentabilidade.

Além disso, pode-se pesquisar, também, a divulgação de metas futuras e a mensuração de forma relativa a uma unidade de produção dos indicadores ambientais, de modo a compreender a utilização destes nos Relatórios de Sustentabilidade pelo setor cervejeiro.

Outra questão levantada como possibilidade para pesquisas futuras é o uso de questionários direcionado ao Grupo Petrópolis para investigar o motivo (ou ausência dele) da não divulgação de Relatórios de Sustentabilidade da organização.