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1. De uma amostragem composta por 422 espécimes fósseis de mamíferos pleistocênicos do Lajedo da Escada, Rio Grande do Norte, 17 apresentam feições paleopatológicas, as quais estão relacionadas às seguintes patologias: osteomielite, osteocondrite dissecante, necrose óssea, periostite, espondiloartropatia, osteoartrite e doença de deposição de pirosfosfato de cálcio;

2. Osteomielite está presente em um cuneiforme, um astrágalo e uma tíbia de Eremotherium laurillardi (Mammalia, Xenarthra), um fragmento distal de fêmur de Pachyarmatherium brasiliense (Mammalia, Cingulata) e em um fragmento ósseo indeterminado.

3. As alterações osteomielíticas foram identificadas com base na presença de destruição óssea em forma de abscesso, cloaca e osteoesclerose, indicando uma infecção crônica. Dois espécimes apresentaram aberturas ósseas que não puderam ser atribuídas conclusivamente a cloacas e, nesses casos, as infecções podem representar abscessos de Brodie (infecção óssea confinada ao interior do osso).

4. Devido à osteomielite consistir em um conjunto de doenças com agentes etiológicos distintos, não foi possível atribuir uma causa específica nos espécimes estudados;

5. Osteocondrite dissecante é observada em uma cabeça de fêmur de E. laurillardi. Necrose óssea ocorre em diáfise de tíbia de Xenorhinotherium bahiense (Mammalia, Liptoterna) e em uma diáfise de fêmur de E. laurillardi, enquanto periostite é observada em uma falange média de Toxodon sp. (Mammalia, Notoungulata).

6. A presença de depressões arredondadas em uma superfície articular convexa de uma articulação sinovial (cabeça do fêmur) associada à esclerose óssea, observada em imagem radiológica, permitiu diagnosticar osteocondrite dissecante em Eremotherium laurillardi; 7. A necrose óssea foi identificada com base na presença de uma pequena área irregular,

deprimida e de contornos bem definidos. Essas feições correspondem a defeitos corticais provocados por danos a vasos sanguíneos. Não foi possível determinar sua causa, devido

à grande quantidade de processos capazes de originá-la, além da ausência de feições adicionais que indique uma doença específica como agente causador;

8. Espessamento cortical irregular foi relacionado à periostite. No entanto, a causa não pode ser apontada, em virtude do grande conjunto de fatores capazes de gerá-la.

9. Espondiloartropatia, osteoartrite e doença de deposição de pirosfosfato de cálcio foram identificadas em ossos atribuídos a um único indivíduo Glyptotherium sp. distribuídos por oito ossos.

10. O diagnóstico de espondiloartropatia foi realizado com base na presença de lesões articulares erosivas associadas à esclerose óssea observada em análise de raios-X. Osteoartrite foi identificada pela presença de osteófitos em articulações sinoviais de todos os ossos atingidos por alterações paleopatológicas. E a doença de deposição de pirosfosfato de cálcio foi determinada pela presença de uma concreção calcifica em uma patela esquerda.

11. Tanto a presença de osteoartrite quanto da doença de deposição de pirosfosfato de cálcio parecem ser fenômenos secundários, ou seja, tais alterações representam complicações da espondiloartropatia.

12. Modificações ósseas originadas por processos tafonômicos (abrasão, corrosão, quebras ósseas, incrustação e compactação) foram diferenciadas de verdadeiras lesões paleopatológicas, devido à ausência de feições unicamente relacionadas a alterações patológicas, especialmente, reação óssea e osteoesclerose.

13. Ao menos nos casos aqui estudados, a abrasão sem polimento pode ser equivocadamente interpretada como erosões ósseas geradas por enfermidades degenerativas, enquanto que a abrasão com polimento pode ser confundida com eburnação, feição produzida pelo atrito entre superfícies articulares adjacentes, após um severo desgaste da cartilagem articular. A incrustação simula crescimento ósseo, e ao contrário da abrasão, está sempre relacionada a processos ante-mortem. A compactação pode sugerir trauma por

esmagamento e a fratura post-mortem é susceptível de erro em relação a fraturas ante- mortem originadas por perfuração. Desta forma, torna-se essencial que paleopatologistas e tafônomos sejam capazes de diferenciar corretamente as feições próprias de suas

respectivas áreas de pesquisa, evitando assim equívocos nas interpretações, sejam estas, paleobiológicas, paleoecológicas ou de contexto deposicional. Por fim, destacamos que até mesmo ossos profundamente afetados por processos tafonômicos podem reter evidências de alterações ante-mortem e, portanto não devem ser excluídos a priori das investigações peleopatológicas em função da má preservação.

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