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A comparação entre os mapas sonoros permitiu observar a influência dos quatro parâmetros escolhidos na determinação dos ambientes sonoros no nível do indivíduo que transita pelos espaços abertos urbanos:

i. O aumento dos afastamentos laterais provocou manutenção ou redução do nível sonoro para os cidadãos localizados na parte frontal dos edifícios, enquanto que houve acréscimo no nível sonoro para os indivíduos situados nos fundos do lote;

ii. O acréscimo das distâncias entre fachadas frontais ocasionou diminuição no nível sonoro para os cidadãos em frente às edificações, enquanto que para o sujeito localizado nos fundos do lote houve aumento no nível sonoro;

iii. A ampliação da altura dos edifícios e o estreitamento da proporção WH possuíram mesmo efeito sobre qualquer localização de usuário: aumento no nível sonoro, ou seja, tais alterações foram nocivas para a situação acústica para os indivíduos nos ambientes urbanos abertos. É importante ressaltar que o comportamento sonoro encontrado para o aumento da altura dos edifícios foi influenciado pela tendência identificada para o afastamento lateral, pois o dimensionamento deste último parâmetro esteve atrelado à altura do edifício e possuiu maior influência nos níveis sonoros nos fundos dos lotes.

A alteração no afastamento lateral foi o fator que mais modificou os níveis sonoros para os indivíduos nos fundos do lote. Conclui-se que para se proteger as áreas mais silenciosas dos lotes, utilizando-se os índices urbanísticos testados, deve-se potencializar o aspecto de barreira acústica desempenhado pelos edifícios com o uso de afastamentos laterais mínimos. A relação de 1/5 e 1/7 da altura edificada, encontrada no Plano Diretor do Distrito Sede de Florianópolis (PMF, 1998), que produz afastamentos normalmente pequenos, é uma boa alternativa, do ponto de vista acústico, para as cidades que empregam em seus índices urbanísticos a dependência entre afastamento lateral e altura. Uma das limitações quanto à construção dos cenários urbanos foi a igualdade entre afastamentos de fundos e laterais, o que levou à impossibilidade de se investigar a influência do afastamento lateral nulo na proteção sonora para o indivíduo no fundo do lote. Dessa forma, o papel do afastamento

lateral nulo para a situação acústica no interior da quadra é uma indicação para trabalho futuro.

Pelos índices urbanísticos utilizados, o aumento da altura dos edifícios determina afastamento lateral maior. Por isso, a opção mais correta para se proteger o fundo do lote, quando o afastamento lateral é dependente da altura edificada, não é aumentar a altura da edificação e sim usar afastamento lateral mínimo, como já mencionado.

Pelos resultados, percebe-se que o contato próximo com as reflexões sonoras das fachadas frontais é nocivo para o conforto acústico dos cidadãos. O parâmetro que mais influenciou os níveis de pressão sonora a que estão expostos os indivíduos quando posicionados na frente dos edifícios foi a distância entre fachadas frontais. Dessa forma, sempre que possível, é interessante distanciar as fachadas frontais dos pontos onde haverá concentração de pessoas. Nota-se que, além da clássica prerrogativa de se distanciar o receptor humano da fonte sonora, é importante também haver um espaçamento mínimo entre o sujeito e as fachadas frontais, que podem ser entendidas como reforçadoras de ruído.

Como observado, quanto mais estreito o ambiente urbano que contém a rua, maiores os níveis sonoros para os indivíduos que transitam pelos espaços urbanos abertos, sendo que acima da proporção 1:1 o acréscimo se torna constante. O ângulo α de 70º exigido em Florianópolis ultrapassa a razão citada. Dessa forma, para o conforto acústico dos transeuntes seria mais interessante o alargamento dos cânions urbanos com o distanciamento entre fachadas frontais. Isoladamente, a elaboração de novos edifícios pode procurar trabalhar com o máximo de afastamento frontal possível, resguardando acusticamente os pedestres.

Pensando-se na distribuição dos ambientes de convívio social dentro dos lotes edificados é possível notar que o afastamento de fundos, sendo normalmente a área mais silenciosa, deve ser protegido e receber atividades que não gerem muito ruído. As atividades sociais mais ruidosas devem ser projetadas com o máximo de cuidado visando não perturbar as áreas mais silenciosas e, também, não agravar a situação acústica de regiões que recebem mais adições sonoras como a entrada dos afastamentos laterais e os afastamentos frontais.

Observando-se os mapeamentos obtidos, percebeu-se que os edifícios, mesmo quando fragilizados por afastamentos laterais maiores, fizeram com que houvesse redução nos níveis sonoros para os sujeitos nos fundos dos lotes. É interessante perceber que a área do afastamento de fundos, ao invés de ser vista como espaço residual, como acontece

em muitos projetos de edifícios, deveria possuir nível de importância compatível com sua potencialidade de ambiente acusticamente protegido. Esse pensamento deve ser compartilhado na implantação dos edifícios em todos os lotes que compõem uma quadra. Por exemplo, a inserção de um novo edifício pode ser realizada com uma implantação que favoreça, juntamente com os outros edifícios já construídos, a proteção acústica do interior da quadra.

É necessário frisar que houve interferência do afastamento lateral nos resultados sobre a influência da altura dos edifícios, já que os dois parâmetros são interligados no planejamento urbano de Florianópolis. Assim, destaca-se uma das limitações deste trabalho: a utilização do

mesmo conceito de interdependência entre parâmetros para

determinação da massa edificada encontrado nos índices urbanísticos da zona ARP-7 da referida cidade. Outra limitação do estudo foi a escolha por se trabalhar apenas com volumes edificados básicos, com fachadas planas e que possuem reflexão sonora elevada.

Por fim, ressalta-se que no meio urbano existem inúmeros outros condicionantes e variáveis que devem ser considerados para formulação de planejamento urbano ou elaboração arquitetônica de um edifício. Assim, a aplicação das conclusões alcançadas para a relação entre os parâmetros: altura de edifícios, afastamento lateral, distância entre fachadas frontais e proporção WH, com os níveis sonoros para os indivíduos deve ser aliada e equilibrada com respostas a outras questões como conforto lumínico e térmico, funcionalidade, estética, estrutura, economia, entre outros.

A escolha por se fazer a análise dos resultados por meio de mapeamento de contribuição sonora, ou seja, subtraindo-se os resultados de cada cenário pelos valores do cenário sem edifícios, possibilitou a visualização dos efeitos acústicos de cada forma urbana de maneira simples e direta. Nos mapas assim obtidos fica evidente a responsabilidade que as diretrizes dos planejadores urbanos possuem na acústica urbana. Esta pesquisa também demonstra que as decisões projetuais arquitetônicas são importantes não só para o conforto acústico dos habitantes dos edifícios, mas, também, para a configuração dos ambientes acústicos para o cidadão usufruindo dos espaços abertos das cidades.

As modificações no ambiente sonoro verificadas pelas alterações dos parâmetros aqui investigados são, em sua maioria, constituída por pequenas diferenças, entre 1 e 3 dB(A). Tais valores não possuem impacto na percepção sonora do usuário dos espaços abertos urbanos, mas podem ser somados a contribuições sonoras de outras ações de

planejamento urbano, como distanciamento das vias mais ruidosas de áreas residenciais, localização distanciada de usos comerciais e industriais, utilização de pavimentação menos ruidosa para as vias, entre outros. Dessa forma, durante o planejamento de uma área urbana, a contribuição sonora da massa edificada pode se aliar a outras advindas de decisões de projeto e alcançar diminuições no ruído ambiental que efetivamente possuam impacto de melhoria na percepção sonora do ser humano. O planejamento urbano conduzido de forma a resguardar acusticamente o cidadão localizado nos espaços abertos é uma forma barata de prevenção dos mais diversos problemas que surgem da poluição sonora e também de criação de zonas mais silenciosas pela cidade.

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