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A aplicação de cinza, isoladamente ou combinada com lama biológica, aumentou apenas ligeiramente o pH dos solos tratados, ocorrendo esse aumento essencialmente na camada mais superficial do solo, onde os materiais são aplicados. Esse aumento foi sempre inferior ao provocado pelo CaO ou CaCO3. Em profundidade, o efeito virtualmente desaparece, incluindo para o agente de calagem. A tal facto não será alheio o resultado do solo de controlo do processo de lixiviação, cujo pH após o teste é sempre inferior ao do solo inicial, o que indica que o próprio processo de lixiviação reduz o pH. Ainda assim, convém referir que o valor de pH final dos solos tratados (nomeadamente a camada superficial) se situa dentro do intervalo [6 – 7,5], apontado na literatura (UNIDO e IFDC, 1996) como aquele no qual a maioria dos nutrientes atinge o seu máximo de disponibilidade. De acordo com resultados da literatura (Ohno, 1992), o pH aumentou mais no podzol, por ser o solo mais ácido e com menor teor de matéria orgânica.

O aumento de pH foi mais pronunciado nos lixiviados. O valor mais alto foi registado no perfil de podzol tratado com CaCO3, que se cifrou nos 7,5 (face aos 6 provocados pela cinza). Para o cambissolo, e para a carga mais reduzida, o CaO provocou um aumento rápido de pH, mas parece não resistir à lixiviação, estabilizando num valor final muito próximo do registado no controlo. Tal efeito não se verifica na aplicação de cinza, que provoca aumentos até valores finais da ordem dos 6-6.5, independentemente da carga aplicada (com ou sem lama biológica), em ambos os tipos de solo testados.

Todos os materiais testados provocam aumento de condutividade elétrica no solo, sendo o efeito diferente nos dois tipos de solo testado. O podzol apresenta aumentos superiores no perfil tratado com C+L ou com CaCO3 face ao tratado com C. No cambissolo verifica-se que os valores são sistematicamente superiores aos verificados no podzol, mesmo utilizando a carga mais reduzida. Verificaram-se ainda diferenças entre as duas cargas aplicadas ao cambissolo, concluindo-se que, à carga mais baixa, a cinza provoca um efeito superior ao da combinação C+L, algo que não se verifica com o aumento de carga. Quanto aos lixiviados, a aplicação de C+L foi o tratamento que maior aumento de condutividade provocou, face ao CT, no podzol (5 vezes superior, na fase de estabilização), não havendo grande diferença entre o resultado provocado pela cinza e pelo CaCO3. No cambissolo, independentemente da carga, a aplicação de C+L ou de CaO não provocam aumentos muito distintos, destacando-se, sim, os resultados da aplicação de cinza, que produz os maiores aumentos, independentemente da carga utilizada.

Quanto às características físicas do solo, verificaram-se algumas alterações, em ambos os solos. A granulometria do podzol sofreu alteração substancialmente mais ligeira que o cambissolo, onde se verifica uma homogeneização do perfil, ficando todas as camadas com granulometria idêntica. Estas alterações, comparando os valores iniciais com os dos controlos e dos solos tratados, ocorrem essencialmente devido à lixiviação, e não tanto devido ao efeito da cinza nos solos. Assim, tal alteração levou a que se verificasse, em ambos os solos, alterações (diminuição)

na porosidade dos solos, bem como diminuição das suas capacidades de campo e de retenção específica.

A aplicação de cinza, independentemente da sua combinação com lama biológica ou não, apresentou resultados satisfatórios nos testes de fitotoxicidade, não revelando qualquer inibição de germinação das sementes ou de crescimento de biomassa. De resto, este último parâmetro até parece sair consideravelmente favorecido pelo tratamento.

Do ponto de vista legal, e no que aos lixiviados diz respeito, não se verificou nenhuma ocorrência acima do limite permitido para águas de rega, ocorrendo apenas alguns incumprimentos quando comparados com os limites para águas de consumo humano. O Ca é um dos elementos em que se verifica incumprimento em todos os ensaios. No ensaio com o podzol, a cinza produz o impacto menos negativo, ocorrendo o contrário com o cambissolo. O aumento de carga nesse tipo de solo praticamente eliminou esses incumprimentos. Os outros elementos em que correm incumprimentos são o Fe e o Mn. Contudo, no que ao cambissolo diz respeito, estes são elementos cuja concentração no controlo já ultrapassa o limite legal, é algo natural no solo, tendo até a aplicação dos materiais testados potencial para, na carga mais reduzida, baixar esse nível de toxicidade. No podzol, o Fe já incumpria o limite legal no controlo, sendo o Mn o único elemento cuja concentração aumenta até exceder o limite permitido devido à aplicação de C ou C+L. Convém não esquecer, contudo, que estes lixiviados são escorrências que se vão misturar com as águas subterrâneas, sendo qualquer água captada (independentemente do destino pretendido) substancialmente mais diluída do que estes lixiviados, ficando por provar a contaminação da água subterrânea.

A fração de elemento (nutriente/metal) disponível que é mobilizada para o lixiviado, independente do elemento em causa e do tipo de solo tratado, é bastante reduzida (geralmente inferior a 5-10% nos nutrientes, sendo mesmo inferior a 1% no caso de alguns metais). Ao nível do solo, ocorre o aumento da fracção de metais disponíveis, particularmente no cambissolo (o aumento de carga potenciou este efeito negativo na aplicação de C+L). Ainda assim, a magnitude dos aumentos não é suficiente para ultrapassar os valores recomendados na literatura citada ao longo do trabalho, pelo que se pode considerar que, do ponto de vista da preocupante potencial contaminação de solos e lixiviados por metais, os resultados obtidos são bastante positivos.

Quanto ao enriquecimento em nutrientes, os resultados do cambissolo são globalmente melhores do que os do podzol, algo que, perante a igualdade de carga, se justificará com o tipo e as características naturais do solo, e a sua apetência para tratamento. De resto, o tratamento com CaCO3, teoricamente mais “seguro”, não se provou muito mais benéfico do que a aplicação de cinza, combinada, ou não, com lama biológica. O aumento de carga tornou os resultados, nomeadamente os efeitos positivos no enriquecimento em nutrientes, mais notórios.

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