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A água coletada diretamente da atmosfera apresentou melhor qualidade que a coletada dos telhados, reforçando que as maiores alterações na qualidade da água da chuva ocorrem após sua passagem pela superfície de captação.

A maioria dos parâmetros apresentou decréscimo nos valores com o decorrer da precipitação. Os valores dos parâmetros das amostras coletadas na escola Vicente Farencena e na UFSM foram muito próximos, apesar do menor número de eventos analisados na escola. As maiores diferenças ocorreram para os parâmetros sólidos dissolvidos, que apresentaram maiores concentrações na escola, enquanto os valores de turbidez e sólidos suspensos foram maiores na UFSM, em virtude da maior área de solo exposto.

Parâmetros como condutividade e sulfatos apresentaram valores semelhantes nas duas superfícies de captação, apesar de estarem localizados em áreas com características distintas quanto à ocupação. Os valores desses parâmetros para a água coletada dos telhados foram superiores aos da água coletada diretamente da atmosfera, indicando que parte da origem desses parâmetros é influência dos compostos presentes nos telhados. Nesse sentido pode-se concluir que o tráfego de veículos na RST 287 não provoca profundas alterações na qualidade da água da chuva, exceto para alguns eventos onde a condutividade esteve bastante alta na água coletada diretamente da atmosfera.

A primeira amostra coletada dos telhados apresentou mais impurezas em relação às demais na maioria dos eventos. Porém, em várias coletas verificaram-se concentrações elevadas e até maiores dos parâmetros na segunda amostra coletada, que corresponde ao segundo milímetro de chuva escoado. Isso ocorreu porque a intensidade da chuva apresentou influência direta na concentração de alguns parâmetros, principalmente turbidez, sólidos suspensos e DBO. Essa influência decorre do fato que o poder de carreamento da chuva varia com a intensidade da mesma, portanto somente chuvas mais intensas conseguem remover a maior parte das impurezas presentes sobre as áreas de captação no primeiro milímetro.

Em eventos de fraca intensidade do início ao fim, a água da chuva coletada dos telhados apresentou melhor qualidade em relação a eventos mais intensos, mesmo com maiores períodos secos antecedentes, comprovando que o poder de carreamento da chuva influencia diretamente a qualidade da água coletada.

Dependendo das características do local e da precipitação não será suficiente utilizar apenas o primeiro milímetro de chuva como volume de descarte, como é usual. Nesta pesquisa verificou-se que geralmente as melhorias significativas na qualidade da água da chuva ocorrem a partir do terceiro milímetro coletado.

Apesar de não ser recomendada para o consumo humano, a água da chuva comportou-se bem frente aos padrões de potabilidade da Portaria MS Nº518/04. Com exceção do pH que ficou um pouco abaixo do mínimo exigido, de Escherichia coli que apresentou em média 1 a 2 NMP/100mL e de turbidez que apresentou 1 UNT a mais do que o limite da Portaria, a água coletada diretamente da chuva estaria dentro dos padrões de potabilidade a partir do terceiro milímetro coletado.

Para a água do telhado da UFSM melhorias significativas quanto aos padrões exigidos pela Portaria MS Nº 518/04 também ocorrem a partir do terceiro milímetro de chuva coletado, com exceção de turbidez e Escherichia coli.

A partir do terceiro milímetro de chuva, as águas pluviais coletadas do telhado da UFSM têm potencial para serem utilizadas no estado bruto nas aplicações de que trata a Resolução CONAMA Nº357/05 como proteção das comunidades aquáticas, recreação de contato primário, irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer. O único parâmetro que é ultrapassado com relação a essa legislação é o fosfato, porém a importância deste parâmetro está mais ligada a corpos de água onde exista o risco de eutrofização. Em reservatórios de águas pluviais, onde a profundidade é pequena e que sejam corretamente limpos e fechados este risco é quase inexistente.

A água coletada diretamente da chuva também possui potencial para os usos citados acima, porém pequenas correções no pH seriam necessárias para enquadrar este parâmetro nos limites da Resolução CONAMA Nº357/05. Ainda quanto à balneabilidade a água coletada dos telhados possui qualidade satisfatória para o contato primário, de acordo com os critérios da Resolução CONAMA Nº274/00.

A partir do terceiro milímetro, a água de chuva coletada do telhado da UFSM apresenta cor e pH dentro do estipulado para uso em descargas sanitárias e

lavagens de pisos e veículos, conforme o que exige a NBR 15527/07. Porém turbidez e Escherichia coli ultrapassam os valores máximos fixados pela norma.

Embora a água da chuva tenha se mostrado própria para diversos usos no estado bruto é recomendado que se faça um tratamento simplificado, pois esporadicamente os valores das legislações foram ultrapassados. Em geral, turbidez e Escherichia coli, foram os principais parâmetros que ultrapassaram os limites das legislações e a redução nos valores desses dois parâmetros aumentaria o potencial de aproveitamento das águas pluviais. Tratamentos que reduzissem os valores de turbidez e Escherichia coli possibilitariam às águas pluviais qualidade compatível com o que exige a legislação para uso em descargas sanitárias e lavagem de calçadas e veículos.

O dimensionamento do reservatório confirmou a viabilidade em termos quantitativos do aproveitamento das águas pluviais, o qual se mostrou mais vantajoso para volumes até 5.000L. Esse volume correspondeu a um atendimento total à demanda em 60% dos dias do período analisado. Os valores mínimos de eficiência acima de 20% também confirmam a viabilidade quantitativa do aproveitamento de águas pluviais para a demanda em questão. Para volumes maiores que 7.000L o ganho de eficiência é inferior a 2% e o aumento no volume do reservatório não compensa o aumento do custo.

Os volumes de reservatório calculados pelos métodos Método Prático Alemão e pelo Método Prático Inglês forneceram resultados semelhantes aos encontrados pelo método de Mierzwa et al (2007). Em locais onde não se tenha disponibilidade de dados diários e que o regime e distribuição das precipitações sejam semelhantes aos de Santa Maria, esses métodos podem fornecer boas estimativas sobre volumes de reservatório para armazenamento de águas pluviais.

O comportamento do amostrador instalado na escola Vicente Farencena reforça a idéia de que é preferível optar por áreas de coleta distantes de vegetação para assegurar um bom funcionamento do sistema. No caso da escola uma simples grade para reter a entrada de folhas no amostrador não seria suficiente, pois devido à grande quantidade de folhas a entrada da água no amostrador acabaria sendo obstruída, o que poderia inclusive causar inconvenientes como a entrada de água no prédio, devido ao acúmulo de água na calha.