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5. Conclusões e recomendações futuras

5.1. Conclusões

Com a crescente atenção da União Europeia ao longo dos anos, perante a problemática da pobreza energética, eis que surge o alerta para Portugal. Com a responsabilidade de desenvolver os planos nacionais de energia e clima e da apresentação de informações detalhadas sobre o combate à pobreza energética (PNEC 2030, 2019), Portugal e os seus órgãos governamentais, terão de reestruturar as medidas políticas atuais e definir novas estratégias. Em conformidade com o descrito, esta dissertação é o culminar de uma análise complexa da temática da pobreza energética relativamente ao aquecimento de habitações e do estado construtivo do parque residencial português.

Sendo Portugal um país, com uma elevada taxa de mortalidade no inverno, com uma população envelhecida e com a falta de condições favoráveis ao conforto térmico dentro das suas habitações, é de extrema importância a análise dos fatores que proporcionam estes problemas. Um dos problemas que mais provocam a carência energética, sentida pelas famílias portuguesas, é a atual degradação construtiva do parque residencial português e o seu baixo desempenho energético, pela consequência dum edificado antigo e pouco reabilitado. Muitos dos alojamentos portugueses não têm isolamento térmico (49% - Figura 4.8) e as suas estruturas são constituídas por fracos materiais de construção. Estas características provocam o aparecimento de infiltrações e humidade nas suas fachadas e coberturas, que contribuem indiretamente, para problemas de saúde e do bem estar dos grupos mais vulneráveis. Associado à elevada carência de aquecimento do parque habitacional, está o elevado consumo energético neste setor, que é responsável por cerca de 17% do consumo total de energia final. Desse valor, cerca de um quarto é destinado à climatização interior para aquecimento (21,5%). Muitas famílias portuguesas não têm a capacidade financeira para suportar altos custos de energia, nem para adquirir equipamentos de climatização ambiente, na tentativa de melhorar o conforto térmico, nem na tentativa de reabilitar o alojamento para mitigar estes problemas. É com estas condições que entra para a equação, a questão social da privação doméstica, sendo uma realidade de muitas famílias portuguesas.

Relativamente às características construtivas, pela análise dos Índices S e R, o edificado português apresenta por concelho, classificações energéticas de C e D e elevadas necessidade energéticas de aquecimento, sendo que estes resultados, refletem o fraco desempenho que os alojamentos têm, para enfrentar as baixas temperaturas dos meses de aquecimento. Os dados de certificação energética, relativamente a estes parâmetros, revelam ser de extrema importância para uma caracterização deste tipo e fornece uma boa representação ao nível da distribuição geográfica. Através de um dos parâmetros considerados mais importantes para este estudo, as necessidades de energia útil para aquecimento, percebe-se o verdadeiro impacto das construções em relação à envolvente climática em que estão inseridas. Repare-se que o interior norte de Portugal, em particular nas zonas mais montanhosas, existe um elevado défice deste índice, regiões essas, que são caracterizadas por invernos chuvosos e baixas temperaturas.

Conclui-se com a caracterização do parque residencial por épocas construtivas, que são necessárias medidas de reabilitação do edificado com data de construção anterior a 1990. Estes resultados são provenientes da análise dos défices entre o valor das necessidades de energia (primária e de aquecimento) e o seu valor limite teórico, que demonstram um panorama preocupante para habitações anteriores a esta data. Por último, a criação de um novo índice de exposição à pobreza energética, seguindo uma metodologia de análise multicritério, acrescenta um grande valor a esta dissertação, pela sua contribuição ao estudo da pobreza energética em Portugal. O desenvolvimento deste índice teve um aspeto negativo, visto que, se pretendia como objeto final, uma representação deste índice com distribuição geográfica ao nível da freguesia. Tal não foi possível, pela dificuldade em encontrar dados que estivessem representados segundo a atual reorganização administrativa e ao nível da freguesia. Contudo, pelo lado positivo, foi elaborado o IEPE tendo em conta duas dimensões de indicadores (socioeconómica e construtiva), ao nível do concelho, que poderá ser alvo de análise pelas autarquias locais, levando ao aprofundamento intramunicipal deste índice. Sendo a população com mais de 65 anos, considerado por muitos como sendo o grupo de maior risco, e sendo muitas vezes, alvo de maior atenção por parte da comunicação social e do governo, determinou-se o risco associado à pobreza

(perante um cenário em que todos os indicadores têm o mesmo fator de ponderação), com a proporção de população idosa por concelho. Com altos níveis de vulnerabilidade social, económica e construtiva, os municípios com mais população idosa, são consequentemente os municípios com maior risco, como Pampilhosa da Serra, Vinhais, Penamacor, Almeida e Idanha-a-Nova. A preocupação aumenta, quando se pensa que a maiorias destas pessoas, poderão estão isoladas, com baixos rendimentos e sem condições de conforto em suas casas. A vida no meio rural, perante esta precariedade energética, torna-se bastante díspar em relação aos centros urbanos. A abordagem do risco à pobreza energética poderia ter sido feita de acordo com outros cenários, como por exemplo, analisar o potencial de risco em relação ao número de agregados familiares, ou tendo em conta a presença de crianças com idade inferior a 4 anos, ou até mesmo em relação ao número de agregados familiares em carência económica. Com este estudo, torna-se evidente que a pobreza energética é um assunto de extrema preocupação para Portugal e que terá de ser revisto num curto espaço de tempo, tendo em conta as medidas europeias que estão a ser tomadas.

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