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6. Conclusões, limitações e sugestões para investigação futura

6.1 Conclusões

Considerando que as universidades públicas são financiadas por recursos públicos, o controlo dos seus resultados é fundamental para a sociedade. No entanto, a análise dos resultados dessas organizações pode ser de difícil mensuração em razão das características das universidades estarem estreitamente relacionadas ao fator produtivo conhecimento. Tendo o tema sido posto em relevo, observamos que foi necessário abordar o conhecimento, a gestão do conhecimento, o capital intelectual e o ativo intangível.

A tese baseou-se em estratégias qualitativas de recolha de informação, tendo sido realizada uma análise documental com os relatórios de gestão das universidades federais do Sudeste do Brasil. Realizou-se uma sugestão e aplicação do conjunto de indicadores de informações sobre capital intelectual, e elaborou-se um quadro de sete categorias e

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trinta e seis indicadores, estabelecendo a proposta para verificar a frequência dos elementos nos relatórios de gestão 2013 das 19 instituições, tomando como base a palavra como unidade de registo no processo da análise de conteúdo para procurar os indicadores.

O tratamento dos dados recolhidos foi efetuado com base na análise de conteúdo de tipo quantitativo e qualitativo. O percurso teórico que envolve o capital intelectual, conduziu a reflexão para a distinção entre o conceito de capital intelectual e ativo intangível, tendo-se alcançado a conclusão que os conceitos não podem ser utilizados como sinónimos. Identificaram-se o capital intelectual e ativo intangível possuem características similares, mas, o primeiro, capital intelectual, é a criação de valor. O segundo, ativo intangível, é a extração do valor. Essa segunda perspetiva parece refletir a contextualização de uma abordagem voltada para as questões do processo de contabilização do recurso intangível na organização.

A conjugação desses dois conceitos de capital intelectual e ativo intangível, pode constituir no processo a ser considerado como a gestão do conhecimento na organização, a qual consiste em gerir os intangíveis estratégicos da organização e tornar esses intangíveis em investimentos que são comercialmente bem-sucedidos, protegidos por patentes ou alcem vantagens do pioneirismo em produto, gerando resultados que são transformados em ativos tangíveis, criando valor corporativo e crescimento para a organização (Lev, 2001).

Face ao que foi acima referido, julga-se que a prestação de contas das universidades, para além das questões tangíveis, está suportada em resultados para a sociedade de natureza intangível e no reconhecimento da importância do capital intelectual para universidades. Assim, considera-se a importância de incluir no planeamento dessas organizações o tema capital intelectual, ou seja, a consideração da gestão do conhecimento como fator fundamental na estratégia das universidades.

Identificou-se que estudos de vários países reconhecem a importância da gestão do conhecimento para a universidade. No entanto, a sua implementação ainda parece representar um grande desafio para as instituições, e a gestão do conhecimento parece não ser considerada no planeamento institucional, principalmente no contexto brasileiro. Identificaram-se na literatura focada no capital intelectual vários estudos, Leitner (2002), Fazlagic (2005), Sánchez et al. (2006), Pérez (2007), Secundo et al. (2010) e Gubiani (2011), que propõem um modelo com uma métrica para analisar o capital

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intelectual e propõem uma análise do capital intelectual para as universidades. Coloca-se também em relevo análise de Mainardes (2010), a qual afirma que as universidades são organizações complexas e possuem múltiplos objetivos e muitos deles de difícil mensuração, a exemplo da gestão do conhecimento. Este aspeto parece ratificar o grande desafio para as instituições, pois a gestão do conhecimento parece não ser considerada no planeamento institucional.

Observa-se que as universidades públicas federais são financiadas pelo governo federal no Brasil, e o TCU alinha, por meio de normativos, várias entidades com características especifícas, a exemplo do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da EMBRAPA. Na análise empírica identificamos um conjunto de medidas legais e normativas do controlo externo que parecem representar a pressão do movimento da NGP nas universidades públicas federais.

O processo de implementação das orientações da NGP alcançou as universidades, a exemplo da “constituição federal”, e observou-se a implementação nos 19 relatórios de gestão, inferindo que ela assegura o processo de estabelecer regras para universidades públicas federais. Para além disso, identificaram-se diversas mudanças no sistema legal e no controlo normativo que foram introduzidas na sequência do movimento, exigindo alterações na prestação de contas para as informações de natureza contabilística, financeira, orçamental e patrimonial.

No entanto, os resultados da análise empírica da tese orientam os argumentos da conclusão em revelar que o TCU deveria ampliar a consideração do desempenho das universidades para apresentação de informações de natureza intangível. O órgão de controlo, TCU, direciona a prestação de contas das universidade federais para as questões de ordem tangíveis e parece não ter o entendimento que é imprescindível para essas entidades trazerem a prestação de contas pertinente às características do ambiente das instituições que são intensivas em conhecimento.

Consideramos que o TCU poderia direcionar, por meio de normativos específicos, para esse tipo de instituição uma prestação de contas mais pertinente com atividade que as universidades desempenham. Os resultados acerca da evidenciação do termo relativo a capital intelectual permite inferir que é quase nula a sua evidenciação nos relatórios e, nas poucas instituições que o evidenciam, tem uma conotação de capacidade intelectual, e não como um processo.

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O movimento da NGP impõe vários normativos de ordem constitucional, legal e orçamental, que podem ser aplicados para as universidades públicas federais sem, na grande maioria, contribuir para a evidenciação das informações de essência de capital intelectual.

Relativamente à análise empírica focada na evidenciação de gestão do conhecimento e capital intelectual, se observa a existência da evidenciação dos termos relativos ao conhecimento – disseminação, gestão, produção, transferência – porém, a análise do significado dos termos permite inferir que a conjuntura da evidenciação não permite apresentar uma sinalização de pistas de gestão do conhecimento como um processo de socialização, externalização, combinação e internalização.

Os resultados da frequência das categorias e indicadores nos relatórios mostraram a existência de evidenciação das categorias e indicadores nas 19 instituições. Observa-se que muitos indicadores estão alinhados com as características da exigência normativa, observação sugestiva de que eles estavam mais propícios a serem evidenciados em razão das recomendações das decisões do TCU.

Observa-se também que a universidade com a frequência máxima de evidenciação não consta na lista dos Ranking Universitário, sugerindo que a maior quantidade de evidenciação de indicadores é independente da sua posição no ranking, corroborando com os resultados de Bezhani (2010) e Siboni et al. (2014). Os indicadores de Conhecimento através da propriedade intelectual – Direitos de autor, Licença, Marca e Patente – foram os menos evidenciados, permitindo cogitar duas hipóteses.

Primeira, as características da evidenciação de informações sobre capital intelectual e a vocação das universidades retornam-se a reflexão de Leitner et al. (2014) relativa a definição de um padrão de indicadores e a diversidade das universidades que consideram a questão dos indicadores específicos, indicadores por área e indicadores de utilização coletiva para várias instituições. Existe uma relação entre a evidenciação da categoria e a vocação da instituição para evidenciação dessas informações.

Em termos gerais, podemos concluir que as diferentes áreas do saber e as diferentes vocações geram diferentes resultados, sendo possível esperar que instituições tenham mais foco na categoria de conhecimento através da propriedade intelectual, ou seja, estabeleçam essas questões no planeamento da universidade em razão das áreas ou das possíveis vocações de cada organização.

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Segunda, os gestores desconsideram a relevância da necessidade de assegurar a proteção dos ativos intelectuais das instituições. Independente da vocação e questão de gestão, Pires et al. (2015) destacam que a maioria das instituições brasileiras ainda desconhecem a temática da propriedade intelectual.

Os resultados empíricos da frequência das categorias e indicadores nos relatórios de gestão mostraram a existência de evidenciação dos indicadores de informações sobre o capital intelectual em 19 instituições, mas a análise do significado do conteúdo das frases e parágrafos que evidenciam os indicadores de informações sobre capital intelectual parece revelar a tendência em prestar contas nesses indicadores nas questões tangivéis ou relativa aos recursos orçamentais.

Como contributo em relação ao contexto brasileiro, a presente tese realizou uma análise focada espeficamente na evidenciação de informações de indicadores de informações sobre capital intelectual para a universidade como um todo, divergente da análise de Peroba (2013) que focou especificamente na análise dos cursos de mestrados profissionais em administração. Considerando também a análise desta tese no âmbito das universidades públicas federais, tem-se como característica divergente de Peroba (2013) uma preocupação com a utilização do capital intelectual como instrumento de prestação de contas e transparência, focando nas mudanças para a questão “gerencial”.

Para o contexto brasileiro, esta tese também acrescenta ao estudo de caso da Universidade Federal de Santa Maria, realizado por Gubiani (2011), um alargamento da análise para 19 universidades públicas federais, além de realizar um estudo de abordagem qualitativa. Por fim, este trabalho de investigação se distingue em relação à investigação portuguesa de Aguiar (2013) por utilizar como base de análise os indicadores direcionados especificamente para o capital intelectual de universidades.

Relativamente as propostas de indicadores de informações sobre capital intelectual de Leitner (2002) e Sánchez et al. (2006), considera-se que esta tese apresenta uma perspetiva direcionada para a realidade do Brasil. Detetam-se diferenças socioeconómicas e culturais entre as realidades dos países que não devem ser pontas em segundo plano. Assim, consideramos que o conjunto de indicadores de informações sobre capital intelectual desta tese é suportado nos autores referidos, mas procura apresentar as caraterísticas que são respeitantes à existência de uma realidade diferente da realidade dos estudos em questão. Deste modo, fornece uma proposta que poderá ser utilizada como referência para realidade brasileira ainda pouco explorada no Brasil.

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É nossa convicção que as universidades são organizações ricas em recursos intangíveis e também responsáveis pelo desenvolvimento do conhecimento. Desta forma, esperamos ter conseguido apresentar a questão em relevo e fornecer uma reflexão que contribua para clarificar o cenário da gestão do conhecimento e prestação de contas dos resultados das suas atividades nas Universidades Públicas Federais no Brasil.