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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 Conclusões

O presente trabalho investigou um fenômeno comum à maioria das metrópoles, que é a tendência das classes de alta renda se autossegregarem em determinadas regiões da cidade. Contribuindo para o estudo desse fenômeno urbano no contexto das cidades brasileiras, partiu-se de uma análise integrada entre subsistemas urbanos, ampliando as perspectivas de como o espraiamento urbano vem sendo discutido, comumente tratado do ponto de vista da morfologia urbana e da economia, sendo pouco discutido do ponto de vista dos transportes.

O esforço de compreensão do fenômeno do espraiamento urbano por autossegregação e seus impactos na acessibilidade urbana de Fortaleza, realizado nessa dissertação, trouxe avanços tanto fenomenológicos, quanto metodológicos.

A contextualização da problemática reuniu alguns conceitos não tão bem consolidados na literatura, dentre eles o de como medir o espraiamento urbano e o de como avaliar os impactos do uso do solo sobre os transportes, o que possibilitou o entendimento de como os componentes dos subsistemas em estudo se relacionam e quais fatores influenciam para situações problemáticas.

A síntese da evolução urbana da metrópole junto aos conceitos apresentados possibilitou a construção de uma representação da problemática para Fortaleza, importante produto para a compreensão do fenômeno urbano em estudo. Nessa fase, os avanços metodológicos se deram no processo de construção dessa representação, podendo ser aplicado a outro fenômeno urbano ou para o mesmo fenômeno em outra cidade.

Do ponto de vista das contribuições metodológicas, destaca-se o desenvolvimento da proposta metodológica de caracterização e de diagnóstico da problemática. Nessa etapa, foi de extrema importância a definição dos indicadores capazes de representar os problemas e suas relações causais, avançando nas discussões de como avaliar o impacto do uso do solo nos transportes. A definição das ferramentas de modelagem operacional e de análise espacial desses indicadores também contribuiu para a compreensão dessa problemática complexa, representada por dois subsistemas urbanos.

Os resultados da aplicação da proposta metodológica para a cidade de Fortaleza representam a principal contribuição desse trabalho. Dando resposta aos problemas de pesquisa levantados, constatou-se que o território metropolitano em análise possui uma

configuração espacial que caracteriza o fenômeno do espraiamento urbano, gerado a partir da decisão da população de alta renda de se autossegregar. Os resultados obtidos nas análises corroboraram com a hipótese de que esse fenômeno ocorre predominantemente na região Sudeste, havendo também sua presença na região Sul. Demonstrando que Fortaleza, assim como outras metrópoles brasileiras, há um padrão espacial de segregação das camadas de alta renda que se dá por setor de círculo no território da cidade.

Foram verificadas a existência de evidências de correlação espacial entre o fenômeno do espraiamento urbano por autossegregação e uma configuração problemática do ponto de vista da distribuição espacial dos usos nas regiões periféricas (o baixo mix de usos empregos/domicílios para a população de alta renda). Havendo, portanto, um entendimento de que esse fenômeno pode estar gerando uma distribuição espacial de usos problemática para a cidade.

Constatou-se ainda que o fenômeno urbano em estudo impacta negativamente no subsistema de transportes, levando a baixos níveis de acessibilidade aos postos de trabalho da população de alta renda que se autossegrega. Os resultados obtidos apontam para piores níveis de acessibilidade aos postos de trabalho da população de alta renda nas regiões Sudeste e Sul com relação à região Central. Os níveis de acessibilidade aos postos de trabalho da população de alta renda da região Sul, por sua vez, são piores do que os da Sudeste, o que leva a crer que os investimentos em infraestrutura viária ocorridos nessa região vem possibilitando melhores níveis de acessibilidade para a população de alta renda que vive nesse vetor de expansão.

Ao avançar no entendimento fenomenológico da problemática urbana do espraiamento urbano por autossegregação, foi possibilitada ainda uma compreensão global dos processos dialéticos de segregação para a cidade de Fortaleza. A partir da necessidade de avaliar a problemática da acessibilidade urbana de maneira mais ampla para os indivíduos da cidade, foram realizadas análises das configurações de uso do solo advindas dos diferentes processos de segregação, culminando em níveis de acessibilidade aos postos de trabalho para cada um dos grupo sociais em estudo.

Como principal resultado, verificou-se que as configurações espaciais do uso do solo residencial da alta e da baixa renda (geradas por processos diferenciados de segregação) acarretaram numa distribuição de acessibilidade inequânime entre esses grupos nas regiões periféricas da cidade. Além disso, foi verificado que, do ponto de vista dos níveis de acessibilidade urbana, a população de baixa renda é mais penalizada com o fenômeno da periferização do que a de alta renda, com o do espraiamento por autossegregação.

oportunidade de empregos junto ao vetor Sudeste. Essa tendência demonstra que os processos locacionais residenciais da população de alta renda (espraiamento por autossegregação), que ocorrem num primeiro momento, acabam por atrair, num segundo momento, uma série de outras atividades (empregos, serviços), gerando melhores os níveis de acessibilidade para quem vive nessa região.

Esse processo ainda não está consolidado na cidade de Fortaleza, mas os resultados iniciais dessa tendência já podem ser percebidos. Essa relação, num futuro próximo, pode aumentar ainda mais os contrastes de acesso às oportunidades entre as regiões Oeste (onde está localizada grande parte da população de baixa renda) e Sudeste da metrópole (para onde a de alta renda tem-se direcionado).