• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 7 – Considerações Finais

7.1 Conclusões

Timor-Leste é um novo país, que restaurou a sua independência em 20 de maio de 2002, mas já existiu neste velho planeta com a mesma idade dos outros países, por isso sofreu e continua a sofrer, com o mesmo risco das mudanças climáticas afetadas pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE), causadas pelas tecnologias industriais dos países desenvolvidos do mundo global.

O trabalho aqui apresentado pretende ser um contributo para implementar uma estratégia Energética e Climática em Timor-Leste. Neste sentido a investigação implicou:

(i) fazer o levantamento e sistematização de documentação nacional e internacional relevante para esta área,

(ii) realizar entrevistas a diferentes atores-chave, timorenses e portugueses, no sentido de os questionar sobre a estratégia energética e climática de Timor-Leste (passado, presente e futuro),

(iii) organizar um debate académico para partilha e discussão do tema, assim como

(iv) escrever dois artigos científicos no qual se disseminou alguns dos resultados obtidos82.

Neste sentido, o produto final da investigação, esta tese, inclui a contribuição de ideias de políticos, académicos e, sobretudo, cidadãos, para o Governo da RDTL ter em consideração nas suas decisões políticas futuras a médio e longo prazo.

O trabalho de campo implicou três viagens a Timor-Leste entre 2016 e 2018, para a recolha de documentos para serem analisados e a realização de entrevistas acompanhada de documentação fotográfica. Foram realizados quatro estudos, cada um deles com conclusões específicas, mas interligadas. A realização de cada estudo foi uma aprendizagem importante para o estudo seguinte. As ideias foram crescendo e amadurecendo ao longo de todo o processo.

De acordo com o estudo 1, no qual se fez uma análise dos principais documentos timorenses, verificou-se que Timor-Leste está empenhado em abraçar a sua responsabilidade num futuro sustentável. Apesar disso existe ainda muito trabalho a desenvolver. Timor-Leste continua muito dependente do petróleo.Apesar de alguns esforços no domínio da política, Timor-Leste continua a carecer de estratégias de atuação concretas e, sobretudo, continuadas no domínio da energia e do clima.

No estudo 2, entrevistaram-se académicos, políticos, e representantes da sociedade civil em Timor-Leste para perceber qual o conhecimento geral dos mesmos sobre a política energética e climática do país. Com este estudo verificou-se que os empresários são um grupo de pessoas para qual é preciso estar atento em ações de formação futuras, isto porque assumiram que não

82Artigo 1 – Gabriel António de Sá1, Betina Lopes2, Myriam Lopes3 (12 -15 de setembro de

2017), Política Energética e Climática de Timor-Leste: Análise de Vozes de diferentes Atores, XIX Encontro da Rede de Estudo Ambientais em Língua Portuguesa (REALP), (Desenvolvimento e Sustentabilidade Frente às Mudanças Climáticas Globais). Fortaleza – Brasil, 12 - 15 de setembro de 2017; Artigo 2 – Gabriel SÁ1, Myriam LOPES2, Betina LOPES3 (8 - 10 de maio de

2018), O Tara-Bandu de Timor-Leste como Estratégia de Mitigação às Alterações Climáticas – Um Estudo Exploratório, O Estudo 3: divulgou na Conferência Internacional de Ambiente em Língua Portuguesa, (CIALP), XX Encontro REALP na Universidade de Aveiro, 8 a 10 de maio de 2018, com a publicação de um Póster.

contribuíram para a poluição atmosférica. Foi também importante constatar que as organizações não-governamentais da sociedade civil têm uma atitude crítica, mas construtiva e atenta, relativamente aos programas do Governo. Todos querem o melhor para Timor-Leste. Verificou-se ainda que de forma geral os políticos e académicos estão informados sobre o tema. Destacamos o testemunho de um académico que falou da importância do Tara Bandu para este problema. Este testemunho ajudou a desenvolver o estudo seguinte. No estudo 3, procedeu-se ao estudo do Tara-Bandu enquanto instrumento de sensibilização, mitigação e adaptação às alterações climáticas. Na literatura, o Tara-Bandu surge definido como costume timorense tradicionalque pode promover a paz através do acordo comunitário. O Tara-Bandu inclui fazer juramentos sacrais rituais que acabam por educar as pessoas para estimar a beleza da natureza e os seus encantos. É uma forma de educação cívica tradicional timorense. Através da realização de três entrevistas, e da análise de conteúdo do regulamento interno do suco de Bucoli, percebeu-se que o Tara-Bandu tem características importantes que podem inspirar os modelos (políticos) de atuação para combate às alterações climáticas. Este potencial foi reconhecido pelas autoridades ao integrar o Tara-Bandu na Lei de Bases do Ambiente.

Por fim, no último e quarto estudo, que corresponde à organização e realização do debate académico, reforçou-se alguns dos resultados obtidos pelos estudos anteriores. Destacamos o reconhecimento, pelas pessoas que participaram no debate, da existência de alterações climáticas e do risco que representam para o povo e para a natureza, assim como a grande quantidade de ideias e sugestões que estas pessoas apresentaram para apoiar a estratégia energética e climática de Timor-Leste. O debate académico realizado permitiu reforçar algumas ideias e resultados que o investigador já tinha sobre este tema: i) as alterações climáticas são uma realidade; ii) as pessoas mais informadas reconhecem isto e têm ideias e propostas concretas sobre estes problemas; iii) Mais uma vez, o Tara–Bandu foi discutido como instrumento importante no combate a este problema.

A articulação dos resultados de cada estudo permitiu desenvolver propostas específicas para uma política transversal e para políticas sectoriais timorenses no âmbito do combate às alterações climáticas. O ponto de partida para a elaboração das propostas apresentadas consistiu em identificar quais os principais problemas identificados e os compromissos e prioridades que Timor-Leste apresenta presentemente. Foi ainda relevante a análise de estratégias e planos de política sobre esta temática de outros países (Portugal e Brasil).

Nesta proposta procurou-se dar um papel de destaque ao Tara-Bandu. Se for bem pensado, o Tara-Bandu, pode ser um instrumento de política transversal para promover as energias renováveis e a eficiências energéticas, assim como a mitigação e adaptação às Alterações climáticas.

Destaca-se ainda, a contribuição do papel académico (investigação), que é fundamental para reforçar a intensidade do plano estratégico energético e climático de Timor-Leste, que o Governo traçou e programou, mas ainda não tomou ações efetivas definitivas sobre estes assuntos.

Timor-Leste tem boas condições, porque está situada na zona tropical, para apostar em fontes de energias renováveis (eólica/vento, solar/fotovoltaica, hídrica/hidráulica, ondas e marés, porque temos lagoa, cascata, mar e matérias-primas abundantes) para substituir a dependência dos geradores de combustíveis derivados do petróleo. O que falta, o que precisa é de uma política urgente para criar uma “Comissão Interministerial”, que envolve direta ou indiretamente os setores relacionados com as energias e alterações climáticas.

Documentos relacionados