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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 Conclusões

Neste trabalho realizou-se uma ampla pesquisa da literatura existente sobre as descargas eletrostáticas, enquanto principal efeito ocupacional do campo elétrico em subestações de alta-tensão. Estudou-se seus fundamentos teóricos diferenciando as fases disruptiva e em regime permanente.

Qualificou-se o nível de desconforto das descargas e os aspectos de segurança envolvidos. Para qualificar o desconforto avaliaram-se os fatores determinantes na sensibilidade à descarga na sua fase disruptiva que são o valor da corrente de pico, sua taxa de crescimento e a velocidade de aproximação ao toque. No aspecto de segurança constatou-se risco de queda por reação involuntária e foram analisados índices estatísticos de acidentes por queda do setor elétrico.

Ainda na ótica da segurança foram discutidos os limites das correntes induzidas analisando as situações em que ocorrem choques elétricos, quando dos trabalhos em subestações. O caso de maior interesse é evitar o choque por contato acidental do corpo com tensões de serviço auxiliar quando fazendo uso de dispositivo de mitigação de descargas.

Dentro do escopo desta dissertação, realizou-se um levantamento de campo junto às equipes de manutenção, a partir do qual foi identificada a necessidade de solução do problema do desconforto causado pelas descargas eletrostáticas induzidas pelo campo elétrico

Todo o desenvolvimento dos dispositivos de anti-indução foi resultado de um trabalho conjunto CEMIG e UFMG, através do qual se realizou estudos teóricos e definiram-se os requisitos necessários ao dimensionamento dos protótipos de dispositivos para mitigação das descargas. As informações do levantamento de campo e os aspectos de segurança discutidos no capítulo 3 também foram

considerados na definição das características dos protótipos. Mais de quatro modelos diferentes de protótipos foram construídos para serem ensaiados e validados no LEAT – Laboratório de Extra Alta Tensão, antes dos testes de campo e em situação real típica de exposição. Para testar e validar os protótipos foi montado no LEAT, arranjo com barra energizada como fonte do campo elétrico e disponibilizados instrumentos para as medições de campo elétrico, tensão e corrente.

Os primeiros protótipos de dispositivos anti-indução foram testados pelas equipes de manutenção nas situações mais críticas de exposição nas subestações e se mostraram funcionais e efetivos na eliminação das descargas eletrostáticas. Após os ensaios de campo nos protótipos, os dispositivos, foram fabricados em sua versão comercial e novamente ensaiados.

De posse dos dispositivos, agora em forma de um kit anti-indução, composto de pulseira e clipe de cintura, foi realizada a etapa de implantação para as equipes de manutenção da CEMIG, constando de treinamento teórico e prático, sempre realizado numa subestação, onde se mediu campo elétrico e tensão pessoa-terra, com e sem o uso de dispositivo. A parte prática do treinamento foi determinante na conscientização dos trabalhadores quanto à efetividade e importância do uso dos

kits.

Ao final do processo de implantação, elaborou-se uma especificação técnica para subsidiar a aquisição de forma padronizada e garantir a qualidade dos kits. Elaborou-se em conjunto com as equipes uma instrução com os procedimentos de utilização, bem como medidas complementares, limitações e restrições de uso.

Após prover a solução para eliminar o desconforto das descargas, identificou-se a necessidade de monitorar o campo elétrico nas subestações.

Para atender esta necessidade foi desenvolvida uma metodologia simples para avaliação do campo elétrico não perturbado em subestações, estimando previamente o nível de exposição no local onde os trabalhos serão executados. Esta metodologia usa pulseira resistiva já incorporada como dispositivo de uso individual

dos trabalhadores para mitigação das descargas eletrostáticas, com a qual se mede a corrente de fuga pela pulseira e obtém-se o valor do campo elétrico correspondente aplicando o valor a uma equação.

O desenvolvimento desta metodologia, simples na sua formulação e na aplicação, demandou um grande número de medições de campo elétrico, corrente e tensão no LEAT. Esta etapa somente foi possível graças à utilização da infra-estrutura montada no LEAT utilizando-se um manequim articulável para simular o corpo humano em diferentes posições de trabalho, possibilitando uma investigação mais aprofundada dos parâmetros de interesse dos efeitos de exposição ao campo elétrico: corrente de circulação, tensão e o próprio campo elétrico.

Esta metodologia de avaliação de campo elétrico, de fácil uso e baixo custo, se mostra especialmente interessante para monitorar os valores de campos elétricos e qualificação das áreas de risco para atender demandas já identificadas da NR 10, NBR 15415 e também das concessionárias, bem como avaliação do atendimento aos níveis de referência de exposição aos campos elétricos.

Na investigação dos efeitos dos campos elétricos, as situações e posições típicas de execução de atividades de manutenção foram transformadas em circuitos equivalentes de parâmetros concentrados ou em modelagem computacional. Neste sentido, a pesquisa motivou o aprendizado do uso de novas ferramentas computacionais, como QuickField® e ATP-Draw® para facilitar o estudo e evitar os cálculos complexos de campos elétricos e correntes induzidas.

O progresso no uso do aplicativo computacional QuickField®, permitiu identificar o

potencial (e as limitações) desta ferramenta na investigação de problemas que envolvem simulação em eletrostática. Da mesma forma com o ATP-Draw®, foi obtido refinamento das modelagens da pessoa nas situações típicas de trabalho, permitindo avaliar a severidade das descargas na sua fase disruptiva.

Um resultado final igualmente importante desta dissertação foi a consolidação de uma base de conhecimento, obtida através de revisão da literatura, análise e discussão dos resultados dos ensaios e medições de campo elétrico, além dos

casos simulados nos aplicativos computacionais. A apresentação e discussão destas ferramentas e a disponibilização do conhecimento consolidado é mais uma contribuição para outros estudos na área de interação dos efeitos dos campos elétricos com o corpo humano.

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