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Os resultados da pesquisa mostraram que os professores da BDC tiveram uma formação inicial compatível com o cargo que exercem, já que a maioria se graduou em Biologia ou Ciências Biológicas e fez licenciatura. Por outro lado, os resultados obtidos apontam que não houve um preparo para a utilização das novas tecnologias de informação e comunicação.

A maior parte não fez nenhum curso de capacitação (54%) e nem teve, durante a formação inicial, cursos preparatórios para o uso didático das tecnologias (75,7%). Isso permite concluir que a formação para o uso das tecnologias deve estar

ocorrendo, em grande parte, de maneira informal, o que, em muitos casos, dificulta o desenvolvimento de suas habilidades na busca e na utilização de recursos digitais.

De fato, a análise do conteúdo das mensagens eletrônicas mostrou um alto índice de dúvidas para efetuar o cadastramento, fazer login, recuperar a senha, fazer o download, instalar e abrir recursos, indicando claramente a falta de habilidades dos professores para lidar com uma biblioteca digital.

A análise dos comentários deixados pelos professores a respeito dos recursos que acessaram mostrou que a maior parte das avaliações não contempla os aspectos técnicos e pedagógicos, tendo enfatizado apenas a relevância do material para a sua prática docente.

O cruzamento das informações sobre os recursos digitais mais utilizados e os recursos produzidos pelos professores também evidenciou que a exploração do potencial didático dos recursos digitais ocorre de forma limitada. Há uma nítida preferência pelas apresentações em PowerPoint, seguida das imagens (sem

movimento), vídeos e animações. Os recursos digitais preferidos pelos professores são aqueles que podem ser facilmente inseridos em aulas expositivas, podendo ser usados sem grande dificuldade e sem a necessidade de interatividade. Isso sugere que muitos dos professores participantes da pesquisa ainda não sabem explorar e integrar recursos digitais variados para proporcionar um contexto de aula renovador.

Outro dado que aponta para a falta de familiaridade e de autonomia dos professores no uso de recursos didáticos digitais é que a maioria deseja que eles sejam acompanhados por um roteiro contendo orientações sobre o seu uso.

A análise das palavras-chave usadas pelos professores e dos recursos digitais copiados, indica que uma parte dos docentes não utilizou as ferramentas de busca da biblioteca para localizar aquilo que copiou. O que permite concluir que parte dos que chegaram à biblioteca provavelmente encontraram o link para esses recursos por meio do Google.

Além disso, o grande número de cliques efetuados sobre a caixa de busca, sem quenenhuma palavra tenha sido digitada, também sugere que os professores que participaram da pesquisa ainda não estejam habituados a fazer pesquisas usando as ferramentas internas dos sites.

Com relação à análise das fontes de informação digitais utilizadas pelos professores, os resultados mostraram que eles ainda não exploram bem as fontes dependentes do uso dos computadores e da Internet. Há pouca utilização dos repositórios eletrônicos, como as bibliotecas digitais, dos fóruns e dos grupos de discussão, para a atualização e o aprendizado profissional (Biologia, Ciências, Educação e Pedagogia).

Ficou evidente também que o livro didático é a principal fonte de informações para os professores participantes da pesquisa, desempenhando, inclusive, múltiplas funções. Para a maioria, o livro é usado na autoformação, isto é, na atualização e aprendizado de conteúdos de Biologia e Ciências, assim como no preparo de aulas e/ou como recurso didático.

Ainda que os livros didáticos passem por uma avaliação criteriosa antes de serem distribuídos nas escolas públicas brasileiras, pesquisas têm mostrado que muitos deles apresentam algum grau de deficiência. Muitas vezes os conteúdos são apresentados de forma empobrecida e simplista, podendo induzir a erros conceituais e a preconceitos. Desse modo, fica evidente que o uso tão intenso do livro didático deixa a atualização científica do professor fragilizada.

Caso os professores não tenham um bom domínio dos conteúdos conceituais, dificilmente estarão capacitados para analisar e selecionar criticamente as

informações que encontram ou recebem, comprometendo a qualidade das discussões realizadas e das atividades que propõe em suas aulas.

Se está ocorrendo o uso excessivo do livro didático, é ainda mais preocupante que a maioria dos professores tenha respondido que não utiliza habitualmente as fontes acadêmicas (periódicos e livros acadêmicos) e os cursos, palestras e congressos para se informar e aprender. Considerando-se que essas são formas usuais das universidades e dos centros de pesquisa divulgarem os resultados de suas pesquisas, é essencial que outras investigações sejam realizadas, com o intuito de verificar se estes fatos também representam uma tendência a ser observada na totalidade do universo dos professores de biologia do ensino médio do país.

Igualmente surpreendente foi verificar que a maioria dos professores indicou a troca de experiências com os colegas como fonte frequente ou habitual de informação para a atualização e aprendizado. Este dado é particularmente preocupante se

considerarmos que é bem possível que os “colegas” desses docentes também

tenham um perfil semelhante ao dele. Ou seja, utilizam o livro didático para estudarem e aprenderem, não costumam frequentar congressos e nem palestras e, nem

costumam consultar livros e nem periódicos acadêmicos.

Apesar desta pesquisa exploratória ser aplicável fundamentalmente apenas ao universo dos professores de biologia cadastrados na Biblioteca Digital de Ciências da Unicamp, os resultados contribuem para aumentar o conhecimento que se tem

atualmente sobre a busca e a utilização das fontes de informação e dos recursos didáticos digitais pelos professores de biologia.

Saber de que forma e o quê os professores procuram é essencial no planejamento dos conteúdos e das ferramentas que farão parte dos portais educacionais e das bibliotecas digitais.

Além disso, no contexto atual em que vários cursos de ensino à distância vêm sendo criados para atender às demandas do Ministério da Educação e das

desenvolvedores de conteúdo, conheçam melhor as necessidades e as dificuldades do seu público-alvo. Sabendo-se melhor quais são as deficiências dos professores para o uso das tecnologias e, também, os seus hábitos na busca e seleção de

informações, será possível planejar ações que contribuam para o desenvolvimento da autonomia e do senso crítico dos professores.

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