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5. Considerações finais

5.1. Conclusões

Ao longo dos anos, a EA assumiu vários conceitos e abordagens, que incluem a noção de que está ligada ao ensino das ciências ambientais e a perceção de que é apenas uma nova forma de educação. O debate sobre esta questão é bastante enriquecedor e tem-se aguçado em torno dos diferentes níveis de ensino – Pré-escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário.

Com o trabalho desenvolvido, procurou-se investigar a importância que a EA assume no 3.º Ciclo do Ensino Básico através das opiniões manifestadas pelos docentes. Por conseguinte, perante as questões de investigação, enunciadas no primeiro capítulo, apresentam-se as conclusões que permitem dar resposta a cada uma delas, respeitando a ordem por que formam colocadas.

 Que perceção têm os professores do 3.º Ciclo do Ensino Básico acerca da EA? As perceções dos professores em relação à EA no contexto escolar, averiguadas neste estudo, demostram que, globalmente, há uma concordância mais expressiva no que diz respeito à pertinência educacional da EA; à finalidade da EA, bem como à divulgação de conteúdos e mudança comportamental; isto comparativamente com a EA na escola; a obrigatoriedade, discussão e adequação curricular da mesma, assim como a formação neste âmbito, os conteúdos ambientais trabalhados e o desenvolvimento de projetos. Assim, parece consensual que a EA é uma forma abrangente de educação que assume diferentes dimensões e cujo principal objetivo é desenvolver um comportamento responsável. Os temas ambientais frequentemente abordados recaem, então, sobre questões que afetam o Planeta.

 Os professores do 3.º Ciclo do Ensino Básico manifestam concordância ou discordância face às afirmações apresentadas no estudo?12

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Verifica-se que a maioria dos professores expressa concordância com a afirmação contida em cada item. Os itens que integram o fator EA na escola apresentam menor relevância neste estudo, comparativamente aos itens que integram o fator Pertinência educacional da EA. Mininni (1994) citada por Bizerril e Faria (2001) aponta várias dificuldades para a inserção da EA no ensino formal, tais como: a fragmentação do conhecimento em disciplinas separadas e sem elo para o estudo do meio natural e social; as formas tradicionais de ensino que dão prioridade a conhecimentos teóricos, abstratos e informativos em detrimento dos problemas concretos e regionais; o desfasamento de atualização dos docentes em relação aos avanços do conhecimento científico; as questões ligadas aos sistemas de educação formal, como a falta de recursos económicos, a resistência às mudanças e problemas na estrutura interna e organizacional das escolas.

Relativamente à formação que capacita os professores para a lecionação de conteúdos de natureza ambiental o estudo demonstra, através do resultado obtido no item “Os professores sentem-se bem preparados, ao nível da sua formação inicial, para lecionar conteúdos de EA”, que ao nível da formação académica há uma lacuna, que pode ser suprimida através da formação contínua, ainda que, a este respeito, os resultados não sejam muito expressivos. Neste sentido, Tenreiro-Vieira (2010) reforça que, com o advento do século XXI, tem sido reafirmada, no âmbito da formação de professores, a ideia de desenvolvimento profissional enquanto processo de aprendizagem ao longo da carreira, iniciado numa base contínua e visando melhorar os conhecimentos e as competências, apoio de um desempenho profissional capaz de garantir uma educação de qualidade. Na perspetiva da autora, a formação contínua de professores, enquanto contexto formal de formação, deve ser direcionada para o desenvolvimento profissional dos professores, processo onde as suas experiências e os seus saberes, o trabalho colaborativo e a reflexão se constituem como elementos chave. Os recursos didáticos disponíveis para o desenvolvimento de atividades de EA é um aspeto que suscita menor concordância, aparentemente por desconhecimento dos mesmos. Enquanto ferramentas importantes para o desenvolvimento de atividades de EA, os recursos didáticos e de apoio (livros, manuais, cartazes, vídeos, jogos, etc.) devem ter a preocupação de estimular de facto a consciencialização ambiental. Existem, atualmente, materiais educativos que pretendem apoiar os professores no que respeita à conceção, à preparação, ao desenvolvimento e à avaliação dos projetos de EA, numa

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perspetiva de inovação e de experimentação. O estudo indicia que, na opinião dos professores, a comunicação ecológica vinculada pela televisão e pelas associações é também uma ferramenta indispensável de alerta para as consequências ecológicas, tendo, nesse sentido, um importante papel educativo.

Quanto às metodologias utilizadas para a realização de atividades no âmbito da EA, o estudo não foi muito conclusivo dado que a discussão das questões através da pesquisa via internet, de trabalhos de grupo, de jogos educacionais obteve relativamente menor concordância. Também os itens “Os professores realizam atividades com os alunos fora da escola para trabalhar a realidade local sobre as questões ambientais” e “As palestras podem ser um recurso importante para divulgar conteúdos de EA” não foram os que apresentaram maior concordância. Finalmente, o item “A EA deveria ser uma disciplina obrigatória no currículo nacional” mostrou discordância de opiniões, deixando a questão da disciplinarização em aberto.

 De que forma se relacionam as opiniões dos professores do 3.º Ciclo do Ensino Básico, relativamente à EA, tendo em consideração as variáveis género, situação profissional, forma de profissionalização, tempo de serviço, área disciplinar região do distrito e proximidade de áreas protegidas?

Os resultados obtidos em função das variáveis do estudo permitem concluir que:

 as mulheres mostram, neste estudo, maior sensibilidade para as questões ambientais, o que influencia positivamente a sua perceção global sobre a EA;

 a estabilidade e o desenvolvimento profissional, associados aos professores do quadro, contribuem para a compreensão de temas ambientais atuais que têm impacto a nível global e, consequentemente, para uma melhor perceção da EA;

 os professores cuja forma de profissionalização decorreu em serviço têm uma formação académica distinta da dos que ingressaram em cursos de ensino, sendo um aspeto que evidencia uma visão mais ampla e positiva face à implementação da EA;

 os professores com mais tempo de serviço (mais de 25 anos), conjugam a experiência e o conhecimento profissional, denunciando maior abertura para o enquadramento curricular da EA;

 os professores de Línguas Estrangeiras, Ciências Sociais e Humanas, Ciências Físicas e Naturais e de Expressões e Tecnologias são os que revelam resultados

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mais positivos relativos à perceção sobre a EA, pondo em evidência o seu caráter transversal;

 a ruralidade e o isolamento dos agrupamentos do Douro Superior aproximam os professores das questões ligadas à Natureza e, consequentemente, à EA;

 nas áreas protegidas decorrem ações de sensibilização para a proteção e conservação da Natureza, assim sendo a proximidade destes locais evidencia, por parte dos professores, uma melhor perceção sobre a EA.

A transversalidade e a interdisciplinaridade da EA têm levantado várias questões, porém a maior dificuldade centra-se em pô-las em prática no contexto escolar. Oliveira (2007) citado por Belizário e Silva (2013) refere que a transversalidade da questão ambiental é justificada pelo facto de que os seus conteúdos – conceptuais, procedimentais e atitudinais – formam campos com determinadas características em comum: não estão configurados como áreas ou disciplinas; podem ser abordados a partir de uma multiplicidade de áreas; estão ligados ao conhecimento adquirido através da experiência; envolvem fundamentalmente procedimentos e atitudes, cuja assimilação deve ser observada a longo prazo.

A educação precisa de ser praticada, na opinião de Miranda, Miranda e Ravaglia (2010), interdisciplinarmente, porém o sistema escolar, da forma como se encontra, não favorece o trabalho em conjunto. A necessidade de romper com a tendência fragmentada e desarticulada do processo do conhecimento justifica-se pela importância da interação entre as diferentes áreas do saber. No entanto, trabalhar a interdisciplinaridade não significa negar as especificidades e objetividade de cada ciência, é uma interação ativa entre as diferentes disciplinas promovendo o intercâmbio e o enriquecimento na abordagem de um tema.

Segundo os autores, a abordagem interdisciplinar das questões ambientais implica utilizar a contribuição das várias disciplinas (conteúdo e método) para se construir a compreensão e explicação do problema tratado e dessa forma, superar a compartimentação. Deste modo, cada professor deverá contemplar a temática ambiental dentro da especificidade de sua área, contribuindo para que cada aluno tenha uma visão mais global do ambiente.

A EA abre, assim, um espaço para refletir as práticas sociais e o papel dos professores enquanto mediadores e transmissores de um conhecimento necessário para que os alunos adquiram uma base adequada de compreensão essencial do ambiente

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global e local, da correlação dos problemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um para edificar uma sociedade mais equitativa e ambientalmente sustentável (Jacobi, 2003).

Conclui-se que, embora nos últimos tempos, se tenha intensificado o papel do sistema educativo na formação ambiental dos cidadãos, a escola nem sempre consegue responder eficazmente aos constantes desafios que lhe são propostos, pelo que é necessário continuar a investigar os moldes em que está a ser trabalhada a EA neste espaço.