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Para que todo o processo de gestão de crédito e cobranças seja bem sucedido, é fundamental a existência de uma política de crédito bem definida pela empresa, bem como o seu reconhecimento e aceitação, não só pelo departamento de crédito mas também por outros departamentos, nomeadamente o comercial.

O mercado apresenta a cada dia que passa novos desafios, as regras evoluem, a competitividade é determinante. A concessão de crédito, além de uma necessidade de quase todas as empresas é também um serviço prestado aos clientes. Se esse serviço apresentar diferenciação positiva terá a preferência dos clientes tornando-se para a empresa numa vantagem competitiva sobre as concorrentes.

Como referem Lagoa et al. (2004), numa fase de abrandamento da actividade económica, a atitude dos bancos no que diz respeito à concessão de crédito é fundamental. Pode acontecer que os bancos, ao decidirem adoptar uma política de crédito mais restritiva, originem situações de instabilidade financeira que impossibilitem muitas empresas de cumprir exactamente as suas obrigações para com os credores, contribuindo assim para agravar a situação económica do país. Se este cenário ocorrer, perante as dificuldades das empresas, os bancos flexibilizarem as condições de concessão de crédito, ou renegociarem créditos anteriormente concedidos, tal contribuirá para que as empresas possam ultrapassar períodos menos favoráveis e para que não sejam forçadas a fazer despedimentos e a realizar cortes tão violentos no investimento.

Em relação a Portugal, a atitude dos bancos na concessão de crédito é particularmente relevante porque o crédito bancário é uma importante fonte de financiamento para as empresas industriais e de serviços, correspondendo a mais de um quarto do total do financiamento destas empresas, como afirmam Lagoa et al. (2004). Além disso, o crédito bancário é um factor relevante para a aquisição de habitação, como se verifica nas diversas notícias e estudos publicados pelo Banco de Portugal.

62 O sector bancário evoluiu de uma lógica de produção para uma lógica de perfomance, onde o principal objectivo é a obtenção da dimensão competitiva que permita fazer face aos concorrentes. A crescente concorrência a que o sector bancário foi subordinado motivou a redefinição das estratégias competitivas dos bancos, pelo que uma estratégia de diferenciação garantirá vantagem competitiva se incorporar elementos que distingam a oferta pela qualidade e pela reputação, daí que a marca constitua um activo de importância crucial que permite a diferenciação da concorrência e garante a fidelização dos clientes.

Os modelos de canal de crédito consideram que alterações na situação financeira das instituições financeiras que concedem crédito e dos agentes económicos que procuram esse mesmo crédito podem afectar a situação económica e a inflação, levando a que os factores financeiros exerçam particular influência na transmissão de choques monetários à economia real.

Concluindo-se que o canal de crédito é um mecanismo de transmissão da política monetária à actividade económica. Neste contexto, reforça-se a importância das condições financeiras neste mecanismo, pois permitem avaliar até que ponto alterações nos sectores financeiro e não financeiro afectam a relação entre as taxas de juro, despesa e inflação, mediante a influência no prémio de financiamento externo. Como referem Duc et al (2005), as condições financeiras têm um papel predominante no processo de transmissão da política monetária, na determinação das medidas de política a aplicar e na sua avaliação.

O negócio bancário e as condições em que se exerce estão a mudar, ameaçando a sua rendibilidade. Por isso, torna-se necessário ter uma estratégia, estar permanentemente à escuta dos clientes e dos mercados e ter uma gestão eficaz na defesa da rendibilidade, que é essencial ao desenvolvimento do negócio, como refere Oliveira (1996). Com base, no parágrafo anterior, verifica-se quais deveriam ser as principais directrizes futuras para as instituições bancárias de um modo geral, e porque não, também para os bancos em Portugal. Deste modo, segundo Silva (1992) os bancos portugueses têm que fazer ainda um maior apelo à eficiência e produtividade, reestruturação e reorganização dos serviços.

63 Não há dúvida de que a função de concessão de crédito, exercida pelas instituições bancárias, tem assumido ao longo dos tempos uma grande importância, quer para os clientes utilizadores de fundos, quer para as próprias instituições, não esquecendo os efeitos macroecónomicos induzidos a nível global, regional e local, como refere Caiado (1998).

As críticas mais vulgares feitas por entidades que necessitam de recorrer ao crédito bancário referem-se a: utilização de métodos de análise inadequados, desajustamento em relação às necessidades dos proponentes, adopção de processos morosos e burocráticos, e complexidade para obter crédito.

Ao longo do tempo, a força com que se manifesta cada canal de transmissão monetária e o seu relacionamento com os outros canais de transmissão, tende a alterar-se, à medida que os agentes económicos reagem às transformações nas condições económicas. O canal do crédito bancário é identificado na maioria dos casos como sendo “o canal do crédito”, perspectiva que apelida-se de redutora da problemática do crédito na transmissão monetária, por alguns autores.

Apesar de se verificar um peso muito elevado do sistema bancário no sistema financeiro da economia portuguesa, o canal do crédito deve continuar a ser objecto de discussão regular no seio da comunidade académica ou nas publicações do Banco de Portugal.

Face às características próprias do processo de transmissão monetária, esta temática tem que ser objecto de uma permanente análise, devido ao rápido desenvolvimento e modernização das sociedades, às crescentes exigências dos mercados e à imparável inovação tecnológica, o crédito bancário vem estando em permanente fase de adaptação e sujeito a processos de actualização constantes.

A CGD é o mais representativo e importante banco no sector financeiro português, pela carteira de clientes que possui, mas também pelo crédito que concede a empresas e

64 particulares. Funcionando como um interveniente activo, dinâmico e competitivo no mecanismo de transmissão da política monetária à actividade económica real portuguesa.

A análise realizada poderá servir no entanto para fornecer pistas para trabalhos posteriores que se debrucem sobre uma análise mais aprofundada da temática abordada ao longo deste trabalho.

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