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A gestão eficaz do regime terapêutico por parte das pessoas insuficientes renais crónicas terminais em programa regular de hemodiálise é um processo complexo que envolve vários fatores que se inter-relacionam; cada indivíduo segue o tratamento de forma única, influenciado pelas suas características pessoais, por inúmeros fatores adquiridos ao longo da vida, pelo apoio familiar assim como pelos relacionamentos com outras pessoas. Estas particularidades condicionam a resposta ao tratamento e devem ser percebidas pelo enfermeiro (MALDANER [et al], 2008). Neste contexto, o maior desafio colocado às pessoas no domínio do autocuidado é na gestão do regime terapêutico pelas graves consequências de uma gestão ineficaz.

Este percurso de investigação permitiu-nos perceber o potencial de utilidade clínica do instrumento (SCHDE) desenvolvido por RASANEN, BACKMAN e KYNGAS (2007), orientado para a descrição dos perfis de autocuidado dos clientes. Também nos foi possível percecionar o potencial de utilidade clínica do instrumento de avaliação de competências da gestão do regime terapêutico dos clientes submetidos a hemodiálise.

O valor encontrado através da estatística alpha de Cronbach, do instrumento utilizado para a recolha dos dados, no domínio do autocuidado (0,71) recomenda-nos alguma prudência na leitura dos resultados do estudo. No domínio da gestão do regime terapêutico o valor de alpha de Cronbach obtido (0,76) permite-nos utilizar o instrumento com maior consistência.

Todavia, outras questões podem ser tidas em consideração, nomeadamente o tamanho da amostra (122 casos), que poderá ter contribuído para as limitações de fidelidade dos resultados. O nível médio de escolaridade dos participantes do nosso estudo é baixo (5,9 anos), introduzindo alguma complexidade na aplicação do formulário. No estudo original, a população em estudo além de ter uma idade média mais elevada (superior a 75 anos), apresentava um maior nível de formação escolar.

83 Contudo, reconhecendo a validade do instrumento SCHDE, pensamos que este deve ser visto como um guia orientador de prática clínica no contexto da avaliação da

postu a àdoài divíduoàfa eàaoàauto uidado.

Tendo em conta os objetivos que nortearam esta investigação é importante evidenciar que a maior parte dos casos estudados podem, à partida, ser categorizados o oà pessoasà o à u à pe filà deà auto uidadoà i defi ido ,à efleti doà aà asso iaç oà deà características provenientes dos quatro perfis teóricos de BACKMAN e HENTINEN (1999).

Devidoàaoàelevadoà ú e oàdeà indefinidos , avançamos, tal como nos estudos que nos servem de referência, para um processo de análise mais profunda destes casos, com o propósito de aumentar a descrição dos perfis de autocuidado.

Em resultado verificámos que apenas 11,5% dos casos apresentavam um perfil de auto uidadoà pu o ,à se doà ueà à asosà pe te e à aoà pe filà espo s vel à eà u à asoà aoà pe filà a a do o .à Dezà asosà ap ese ta à u à pe fil predominantemente do tipo responsável. Mais de metade da amostra (71 casos), 58,2% dos casos foi categorizada com u à pe filà i defi ido ,à possui doà osà esta tesà asosà u aà es laà dosà v iosà pe fisà deà autocuidado.

Scores elevados no perfil de autocuidado abandono surgem fortemente associados a pessoas viúvas; assim como scores elevados no perfil de autocuidado abandono e formalmente guiado aparecem associados a indivíduos reformados, mais velhos e com menor escolaridade.

Ao procurarmos dar resposta ao objetivo que previa descrever a influência do perfil de autocuidado no sucesso da aquisição de competências no autocuidado gestão do regime terapêutico, verificámos que os indivíduos com scores mais elevados no perfil de autocuidado de abandono e formalmente guiado apresentam menos conhecimentos relativamente ao tratamento de hemodiálise, ao regime medicamentoso, dietético e restrição de líquidos. Opostamente, indivíduos com scores mais elevados no perfil de autocuidado responsável possuem mais conhecimentos, cuidam melhor do seu acesso vascular e gerem mais eficazmente o regime dietético.

São também os indivíduos com estas características, com posturas responsáveis face ao autocuidado, que se deparam com menos obstáculos, que possam surgir, para uma gestão eficaz do regime terapêutico. Neste contexto, a probabilidade de um indivíduo com um perfil de autocuidado predominantemente responsável, ser um caso de sucesso, é maior.

84 Considerando os parâmetros de natureza clínica, verificamos que indivíduos com scores mais elevados no perfil de autocuidado de abandono tendem a ter menor diurese. Pensamos que este achado se encontre associado a um regime dietético, medicamentoso e restrições de fluídos mais restrito. Constatamos também que indivíduos com scores mais elevados no perfil de autocuidado abandono e formalmente guiado se deslocam para a clínica de ambulância, facto que estará relacionado com a maior gravidade da situação, contribuindo também negativamente para o seu bem-estar e envolvimento no cuidado a si próprio. ‘elativa e teàaosà i di ado esà lí i os ,àapu a osà ueài divíduosà o àscores mais elevados no perfil de autocuidado de abandono e formalmente guiado apresentam pior controlo bioquímico (níveis séricos (médios) de fósforo mais baixos), indicando uma gestão ineficaz do regime dietético e medicamentoso.

Com base nos resultados obtidos, verificamos que o tipo de autocuidado exerce influência no sucesso da aquisição de competências no autocuidado, gestão do regime terapêutico. Através desta categorização é possível percecionar a predisposição que o indivíduo tem para adquirir comportamentos de procura de saúde, consoante a postura que adota. Com recurso a estes achados é também possível prever o sentido da transição do cliente, se rumo ao sucesso ou pelo contrário a uma maior vulnerabilidade. Ou seja, enquanto enfermeiros, esta categorização permitir-nos-á utilizar terapêuticas de enfermagem mais adequadas a cada indivíduo.

Com o percurso traçado e empreendido para esta pesquisa, pensamos ter dado resposta aos objetivos a que nos propusemos; tomamos consciência, essencialmente, da necessidade de desenvolvimento de investigação na área do autocuidado no cliente hemodialisado, de forma a desenvolver um melhor e mais sustentado cuidado, e que seja tradutor de uma melhor gestão das necessidades em saúde de cada pessoa.

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No documento Dissertação Ana Evaristo Nov. 2012 (páginas 84-87)

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