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Conclusões e Considerações de Política Econômica

O principal resultado deste trabalho é que as alterações da Constituição de 1988, referentes à jornada de trabalho no Brasil, provocaram uma diminuição da jornada efetiva de trabalho, não afetaram a probabilidade do trabalhador perder o emprego em 1989 e implicaram em um aumento do salário real horário em relação aos demais trabalhadores em 1989. Estes resultados são surpreendentes, à primeira vista, uma vez que a teoria diria que muito provavelmente as alterações na Constituição tenderiam a reduzir o emprego.

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embasar eventuais propostas de redução de jornada de trabalho no Brasil. Primeiramente, é importante ressaltar que fugia ao escopo deste estudo fazer uma análise setorial dos efeitos da redução de jornada. Tal estudo é, no entanto, essencial para fundamentar eventuais propostas de reformas, uma vez que as tecnologias e as formas de inserção ocupacional variam imensamente de setor para setor.

A segunda consideração é que a jornada de trabalho de 48 horas era excessivamente alta. Na verdade, quase a metade dos trabalhadores trabalhava menos de 48 horas por semana em 1988. Muito provavelmente, em vários setores da economia, a produtividade marginal da hora trabalhada não devia aumentar muito entre 44 e 48 horas, sendo que, em alguns setores poderia ser até mesmo negativa.

Em terceiro lugar, além da redução da jornada de trabalho, várias outras mudanças foram introduzidas pela constituição de 1988, todas elas com o efeito de aumentar o custo do trabalho em relação aos outros fatores. Em especial, devemos considerar que ocorreram duas mudanças institucionais que afetaram o custo variável, o custo fixo e o custo da hora extra. O aumento dos encargos trabalhistas sobre a folha de salários e o aumento do prêmio por hora extra trabalhada têm o efeito de aumentar o custo variável das horas trabalhadas em relação ao custo marginal do emprego, o que induz a uma substituição de horas por emprego. Como foi impossível separar, no nosso exercício, estas diferentes mudanças, o resultado observado é um resultado líquido das mesmas.

Por outro lado, as condições de funcionamento da economia brasileira em 1988 eram muito diferentes das vigentes em 2000. A economia era muito mais fechada, o que permitia aos setores oligopolizados facilmente repassar os aumentos dos custos do trabalho aos preços. Na verdade, observou-se uma brutal aceleração inflacionária em 1989, que erodiu dramaticamente o poder de compra dos trabalhadores. A própria instabilidade de preços agia no sentido de desencorajar ajustes de quantidades (emprego), consagrando as variações bruscas de salários reais como a primeira margem de ajuste por parte das firmas.

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Ao longo da década de 90, a abertura da economia, o barateamento do fator capital, e a crescente adoção de tecnologias poupadoras da mão-de-obra provocaram uma brutal redução do emprego formal e do emprego na indústria. As evidências mostram que o trabalhador afetado não perdeu o emprego no ano seguinte à mudança regulatória, mas o aumento do custo do trabalho pode estar por trás das explicações da redução do emprego para prazos mais longos, nos quais os outros fatores de produção e a tecnologia podem se ajustar. Infelizmente, essa conjectura não pode ser comprovada, uma vez que o exercício realizado neste artigo acompanha os trabalhadores por apenas um ano.

Os resultados deste trabalho sugerem que uma redução de jornada não tem efeito sobre o nível de emprego no Brasil, no curto prazo. Se o objetivo é gerar mais emprego, as medidas mais adequadas, do ponto de vista econômico, deveriam ser direcionadas para reduzir o custo do emprego em relação aos outros fatores, seja através da redução dos encargos trabalhistas não-salariais ou da diminuição do custo fixo do emprego. No segundo caso, devemos esperar um resultado inequívoco de aumento no volume de empregos gerados, pela simples razão de que além do efeito substituição entre emprego e horas ser positivo para o nível de emprego, o efeito escala (redução do custo de produção) e o efeito substituição entre trabalho e outros fatores operam na mesma direção, qual seja, de aumento do emprego. No primeiro caso (redução dos encargos trabalhistas), os efeitos escala e substituição entre fatores devem ser grandes o suficiente para compensar um pequeno efeito de substituição de emprego para horas, que ocorre apenas devido à existência do custo fixo do emprego.

Finalmente, se o objetivo é aumentar o volume de emprego e reduzir a jornada de trabalho, sem afetar o custo total do trabalho, a política correta seria reduzir o custo fixo do emprego (licenças maternidade e paternidade, número de dias pagos e não trabalhados, etc.) e aumentar, simultaneamente, o adicional pago por horas extras trabalhadas. Na medida em que esta mudança na estrutura de remuneração do trabalhador não afete o custo total do trabalho, o efeito líquido sobre o nível de

31 emprego seria inequivocamente positivo.

32 REFERÊNCIAS

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Gráfico 1 - Percentual de Horas: (45-48)/(40-48)

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 formal informal Pr op orç ão

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