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Com o atual cenário de escassez de energia tem-se um panorama na qual os potenciais remanescentes representam uma grande oportunidade de agregação de blocos de energia ao Setor Interligado Nacional. Devido a isso se tem uma situação em que os investidores privados têm procurado um nicho de negócios principalmente no que diz respeito a

implantação de PCH’s, entretanto, esses aproveitamentos hidrelétricos estão susceptíveis a

interferências de outras atividades relacionadas ao uso do recurso hídrico, de modo que determinar o impacto da retirada de água para fins industriais ou múltiplos sobre a geração de energia de uma usina hidrelétrica, em especial de uma PCH, é de vital importância para que se possa contabilizar as perdas de geração e a consequente redução do bloco de energia gerada.

A contabilização da redução da geração permite avaliar a real interferência de uma atividade econômica e isso é importante uma vez que alguns empreendimentos podem se tornar inviáveis em função do seu impacto sobre a geração em uma cascata de um rio.

Deve-se levar em consideração que o cálculo da energia firme disponível em empreendimentos muito antigos é penalizado pelos seguintes fatos: a) não existem séries de vazões afluentes oficiais, b) não existe monitoramento local. Nesses casos, a simples adoção de metodologias de regionalização diferenciadas pode levar a resultados distintos no valor da energia calculada, sendo difícil julgar a melhor metodologia sem que haja monitoramento local. Deve-se lembrar sempre que o monitoramento deve possuir quantidade de registros satisfatórias para análise e portanto deve fazer parte de um planejamento de médio / longo prazo.

O impacto na geração de energia devido à retiradas para uso consuntivo a montante do empreendimento pode ser considerado uma atividade complexa devido à dificuldade de precisar a vazão captada e o regime de operação dos equipamentos moto-bombas. De maneira simplificada, admite-se que as retiradas compreendem exatamente àquelas constantes nos certificados de outorga dos órgãos competentes, no caso de Minas Gerais, o IGAM.

Entretanto, poderá haver variações significativas no impacto caso as vazões e regimes de operação praticados sejam muito diferentes daqueles constantes nos certificados ou no caso de existirem captações ilegais, ou seja, não regulamentada junto aos órgãos.

No estudo de caso da PCH Bicas, os resultados indicaram que as captações para uso consuntivo na bacia hidrográfica geram impacto na geração de energia variando entre 4,5% e 11,1%, sendo este impacto reduzido para valores entre 3,5% e 8,3% quando considerando somente o uso para as atividades minerárias e desprezando reservatórios de regularização.

Apesar dos percentuais serem de pequena magnitude, refere-se ao impacto localizado no eixo da seção e o efeito na geração pode ser ampliado quando se considera a existência de cascata

de PCH’s, comumente observada nos rios do Estado de Minas Gerais e no Brasil.

Adicionalmente, o impacto pode resultar em grandes perdas financeiras ao longo do período de amortização do empreendimento e quando trazidas a valor presente.

Em termos econômicos, os resultados desse estudo de caso mostraram que o impacto financeiro pode chegar a valores da ordem de R$ 10.000.000,00 (dez milhões) em 15 anos quando considerada a taxa de retorno de investimento de 20% a.a e tarifas de energia de R$150,00/MWh. Os valores podem sofrer alterações significativas de acordo com as taxas de retorno e tarifas praticadas pelas concessionárias de energia.

O estudo de caso apresentado foi desenvolvido para apenas duas metodologias de regionalização, porém, existem diversas outras metodologias que podem ser empregadas na obtenção da série de vazões afluente aos empreendimentos e que podem gerar valores distintos de energia assegurada. Assim, sugere-se uma avaliação mais abrangente com a utilização de outras metodologias para que possa quantificar as energias e, se possível, possibilitar a padronização de metodologia de cálculo para os empreendimentos que não possuem série de vazões oficiais junto à ANEEL. Enfatiza-se que todas as captações apresentadas nesse estudo possuem outorga dentro dos limites permitidos pelo órgão gestor dos recursos hídricos do estado de Minas Gerais.

Uma vez que a geração de energia elétrica por meio de aproveitamentos hidráulicos depende diretamente da vazão afluente ao empreendimento, sugere a necessidade de avaliação em conjunto dos órgãos gestores de recursos hídricos e energéticos, tanto municipais quanto federais, minimizando a possibilidade de interferências cruzadas.

Vale lembrar que a indústria, na qual se enquadra o setor de mineração, é considerado o 3° maior consumidor de água com cerca de 7% do total consumido no Brasil, sendo a irrigação e

que em bacias hidrográficas que possuem empreendimentos hidrogerados e com grande potencial para agricultura e criação de animais, o impacto na geração de energia pode ser mais significativo devido ao consumo de água para estas atividades.

Pelo fato da energia assegurada, comumente utilizada nos contratos de compra e venda, ser calculada para o período crítico do sistema elétrico (junho 1949 a novembro de 1956), os empreendimentos com autonomia para comercializar a energia de forma isolada podem ser afetados, uma vez que o período crítico do empreendimento isolado tende a ser diferente do período crítico do setor elétrico. Porém, vale lembrar que se o empreendimento participar do Mecanismo de Relocação de Energia – MRE, os cálculos devem ser obrigatoriamente baseados no período crítico do setor elétrico.

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