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A utilização de cimento de fosfato de magnésio (CFM) como ligante para moldes de areia de fundição mostrou-se uma alternativa viável aos problemas ambientais provocados pelo uso de ligantes como resinas fenólicas (emissões gasosas típicas dos ligantes orgânicos e grande volume de areias rejeitadas).

O estudo de várias proporções molares de MgO/NH4H2PO4 com diferentes teores

de água adicionada permitiu verificar que as amostras com menos de 25% de água são de difícil manuseamento (presa muito rápida) independentemente da proporção molar utilizada. Para quantidades de água superiores a 40% as amostras permanecem húmidas por tempo excessivo com uma diminuição substancial da resistência mecânica final. No caso da composição 1:1, as amostras permanecem húmidas para quantidades de água acima de 30%.

A violência da reacção de formação de presa do CFM e consequente libertação de gases aumenta com a quantidade de MgO adicionada provocando uma maior percentagem de perda de peso. No caso da composição 1:1 a amónia não é libertada em grandes quantidades sendo incorporada na estrutura do CFM e dando origem a diferentes fases cristalinas (esquertelite e neuberite) que não se observam nas restantes composições. A grande diferença de perda de peso observada para diferentes proporções molares de

MgO/NH4H2PO4 pressupõe diferentes mecanismos de formação do CFM. A principal fase

cristalina do CFM (estruvite) é observada em maiores quantidades quando a reacção ocorre de forma lenta (proporções de MgO/NH4H2PO4 menores).

Para amostras preparadas com menores quantidades de água e/ou MgO, observa-se a presença de bifosamite (NH4H2PO4) na estrutura cristalina do CFM, que deixa de existir

quando se utiliza monofosfato de amónio moído em solução (MFAS). Este facto dever-se- á à granulometria grosseira do fosfato de amónio tal como fornecido (MFAN) e sua consequente maior dificuldade de dissolução. Com MFAS, constatou-se que o tempo de formação de presa é inferior ao observado no caso do uso de MFAN.

A densidade aparente (DA), a absorção de água (AA) e a porosidade aparente (PA)

das amostras aumentam com o aumento da proporção molar de MgO/NH4H2PO4, estando

Estas diferenças são observadas sobretudo quando se compara a composição 1:1 com as restantes composições.

O estudo da degradação térmica do CFM permitiu constatar a formação de diferentes fases dependendo da proporção molar de MgO/NH4H2PO4. Os produtos de

reacção após a decomposição do CFM (950ºC) para a composição 1:1 e uma percentagem de água de 37% são a periclase (MgO) e os fosfatos Mg2P4O12 e Mg2P2O7, enquanto na

composição 4:1 se observa a formação de um novo fosfato (Mg3(PO4)2) em substituição do

Mg2P4O12.

Atendendo aos resultados obtidos para o tempo de presa (trabalhabilidade), resistência mecânica após a formação de presa e ao aspecto das amostras, optou-se pela proporção 4:1 e uma percentagem de água de 37%, a usar nos estudos subsequentes de consolidação de areia.

Utilizaram-se teores de adição de CFM à areia entre 10 e 30%, e duas pressões de compactação diferentes (3 e 5 pancadas). Com o teor maior de cimento obtiveram-se valores de permeabilidade muito semelhantes aos obtidos com moldes de resina fenólica de produção industrial (entre 100 e 120). Para quantidades maiores de areia (85 e 90%), a permeabilidade eleva-se praticamente para o dobro, mais próxima da observada em compactados de areia verde. A resistência mecânica à compressão diminui com o aumento da quantidade de areia, sendo maior para graus de compactação superiores. Os valores obtidos variam entre 2MPa para percentagens de areia de 90% e 10 MPa para percentagens de areia de 70%.

Verificou-se que os valores de RMC das amostras de areia+CFM são aceitáveis (6,42 MPa), quando comparados com os compactados de resina fenólica (8,61 MPa), tendo em conta o modo como os compactados de resina fenólica foram preparados (processo de

caixa fria Ashland). Para a composição em estudo (4:1 com 37% de H2O), o valor de RMC

do CFM sem adição de areia foi 14,35MPa.

Quando se mantêm constantes as quantidades de areia e água e o grau de compactação das amostras, e se altera a razão MgO:NH4H2PO4, (4:1 para 1:1), observa-se

uma diminuição nos valores de permeabilidade (173 para 156) e RMC das amostras (6,42 para 4,85).

Quando sujeita a vários ciclos de aglomeração/calcinação/desaglomeração a areia aglomerada com cimento de fosfato de magnésio tem tendência a passar de uma

distribuição granulométrica unimodal para bimodal, com acumulação de finos. Os compactos com 70% de areia apresentaram fraca colapsibilidade e os de 85% de areia apresentaram excelente colapsibilidade. Em termos de valores de permeabilidade e resistência mecânica das amostras não se verificam grandes diferenças comparativamente aos resultados obtidos antes do 1º ciclo de calcinação.

Estes resultados permitem concluir que a aglomeração de areia com CFM pode ser uma alternativa às resinas fenólicas, o que torna este material promissor para uma futura aplicação à escala industrial, dado não ser tóxico, facilitar a regeneração das areias e permitir a sua reciclagem sem variações significativas de permeabilidade e resistência mecânica.

Como sugestões de continuidade em futuros trabalhos sugere-se:

 O estudo da minimização do custo do cimento de fosfato de magnésio como ligante para moldes de areia para fundição, através da utilização de reagentes alternativos, nomeadamente o pó de magnesite recuperado, em grande quantidade, nos filtros mangas das unidades de “queima à morte” da magnesite mineral, até à data considerado como resíduo industrial;

 A realização de ensaios a nível industrial envolvendo as formulações mais promissoras (4:1 com 37% de água e percentagens de areia entre 80 e 90%) para aferir a potencialidade real deste ligante como substituinte das resinas fenólicas;

 O estudo de um dispositivo que permitisse adicionar a água à mistura de areia e CFM sob a forma de vapor, numa simulação do gaseamento de machos do processo Ashland;

 O estudo da condutividade térmica de moldações de areia ligadas com cimento de fosfato de magnésio;

 A avaliação de possíveis métodos para reciclagem e reaproveitamento dos resíduos de fundição produzidos a partir de moldes de areia confeccionados com cimento de fosfato de magnésio;

 O estudo da influência do cimento de fosfato de magnésio na microestrutura final das peças metálicas produzidas.

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