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Como pôde ser observado nos capítulos anteriores, muitas são as utilidades das estimativas das elasticidades de oferta e de demanda de importações e de exportações. Para estimá-las, há uma vasta literatura para nos guiar. O trabalho de referência utilizado foi o de Goldstein e Khan (1984), que expõe os modelos mais utilizados nessa tarefa: o de substitutos perfeitos e o de substitutos imperfeitos. Além disso, o artigo, cuja exposição seguimos de perto, apresenta soluções para os diversos problemas a serem enfrentados por ambos os modelos.

As estimativas de curto prazo para as elasticidades de oferta e demanda de exportações e importações brasileiras foram realizadas por meio do método generalizado de momentos (GMM), com a inclusão de variáveis explicadas defasadas em um período como regressores. Essas inclusões contaram com estimativas, em maior ou menor grau, um pouco abaixo da unidade, o que mostra o forte componente temporal do modelo.

Para o caso do Brasil, notamos que as curvas de oferta e de demanda de exportações e de importações apresentam elasticidades bem comportadas, isto é, com os sinais esperados pela teoria, tanto para as variáveis preço relativo, quanto para as variáveis de renda (como impulsinador da demanda) e de escala (representando a capacidade produtiva do ofertante no mercado em análise). Apesar de bem comportadas, as elasticidades-preço de curto prazo apresentaram valores, em módulo, baixos, mostrando a inelasticidade das curvas. As equações de demanda também se mostraram inelásticas com relação à renda no curto prazo; para a equação de oferta brasileira de exportações, a elasticidade-renda de curto prazo mostrou-se acima da unidade (1,24); já a elasticidade-renda da oferta estrangeira de exportações foi admitida por hipótese igual à unidade.

A partir dessas estimativas, por meio do método de ajustamento parcial, obtivemos as elasticidades de longo prazo, que continuaram apresentando sinais bem comportados. As elasticidades-preço, porém, continuaram abaixo da unidade, exceto para o caso da oferta estrageira de exportações, que apresentou elasticidade de 35,33. Com relação às elasticidades-renda de longo prazo, todas elas apresentaram estimativas maiores que a unidade, exceto a oferta estrangeira de exportações, que apresentou elasticidade-renda unitária por conta das hipóteses adotadas no modelo.

Com base nas elasticidades de oferta e demanda de exportações e importações em termos de quantidade, estimamos as elasticidades de oferta e demanda de divisas seguindo a idéia do artigo de Haberler (1949). As elasticidades-câmbio, tanto da oferta quanto da demanda de divisas, foram negativas e inelásticas para o curto e para o longo prazos. A oferta de divisas de longo prazo, porém, apresentou um valor próximo de zero (-0,01), evidenciando a inelasticidade acentuada dessa função. As elasticidades-renda de divisas foram todas positivas e maiores que a unidade, exceto a elasticidade-renda da oferta de divisas que apresentou valor positivo de 0,55. Já as elasticidades-escala da demanda de divisas foram todas negativas e maiores, em módulo, do que a unidade. Para o caso das elasticidades-escala da oferta de divisas no curto prazo, as estimativas apontaram para um valor positivo e elástico (1,60) e para o longo prazo para um valor negativo e extremamente inelástico de -0,02.

Por meio das elasticidades de oferta e demanda de divisas, calculamos as elasticidades da balança comercial para o período de 1991 T1 a 2007 T2. A elasticidade que captura o efeito-preço (elasticidade-câmbio) é negativa no curto prazo e positiva e no longo, sendo elástica em ambos os casos. A elasticidade-renda da balança comercial é negativa no curto e no longo prazo, ambas com elasticidades altas (5,39 e 6,93, respectivamente). Com relação às elasticidades-escala da balança comercial, ela apresentou valores elevados, mas com valores maiores para o curto do que para o longo prazo (6,42 e 5,04, respectivamente).

Com base nas estimativas de elasticidade de oferta e de demanda de divisas, verificamos que a condição de Marshall-Lerner em sua forma clássica (isto é, que considera as elasticidades de oferta infinitamente elásticas ao preço) se aplica para o caso brasileiro apenas no longo prazo. Também para o caso de elasticidades de oferta e demanda de importação e exportação finitas, a condição de Marshall-Lerner se aplica apenas para o longo prazo. De todo modo, há evidências, portanto, da presença de Curva J para o Brasil. Também por meio dessas estimativas, verificamos que há estabilidade da balança comercial apenas no longo prazo.

Por fim, estimamos a taxa de câmbio de equilíbrio para o período analisado e realizamos algumas aplicações desse conceito introduzido por Bacha e Taylor (1971) para a determinação adequada da taxa de câmbio para a análise de projetos. As elasticidades aplicadas a esse modelo indicaram uma sobrevalorização média no período compreendido entre o primeiro trimestre de 1991 e o segundo trimestre de 2007 de

7,42% em relação à taxa de câmbio praticada pelo mercado. Vale ressaltar que a tendência dessa taxa foi decrescente durante grande parte do período analisado, muito por conta da liberalização comercial ocorrida a partir do Governo Collor. Essa sobrevalorização foi máxima no segundo trimestre de 1995, atingindo 13,67% (por conta de um aumento na alíquota de arrecadação do imposto de importação no período com o objetivo de conter o déficit comercial ocasionado pelo início do Plano Real) e mínima no segundo trimestre de 2006 (5,02%), terminando o período analisado em 5,30%. Com base no conceito de Bacha e Taylor (1971), respondemos qual seria a taxa de câmbio vigente se as tarifas de importação fossem eliminadas, uma proposta feita recentemente pelo ex-presidente do Banco Central do Brasil, o economista Gustavo Franco.

ANEXO I – Construção do índice de preços de IPCA –

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