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5. PROCEDIMENTOS, APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.4 Conclusões das Evidências Encontradas

Como citado na revisão conceitual, cada método de mensuração leva a diferentes valores patrimoniais, devendo todos eles terem como objetivo a proteção e a manutenção do capital financeiro (ou monetário) a longo prazo, a remuneração dos proprietários que investiram em busca de um retorno adequado e a modicidade tarifária. Esse argumento serviu de alicerce para desenvolver a primeira hipótese desta tese, qual seja: em um ambiente regulatório, a mensuração dos ativos pelo método do custo histórico corrigido pode levar ao justo valor para o investidor e consumidor. A segunda hipótese levantada é que o VNR faz com que os consumidores atuais estejam arcando com os custos de um bem que será adquirido futuramente (interesse dos futuros consumidores) e não pela prestação de serviços já realizada.

É justo que a tarifa proporcione como receitas para a empresa valores que excedem o capital investido e o retorno sobre este, com o objetivo de repor o ativo que, no futuro, pode vir a custar mais caro? E pode ser que ainda, quando da efetiva reposição, o valor seja diverso daquele projetado tanto para cima quanto para baixo?

Em outras palavras, é justo que, quando um ativo de concessão tem o seu valor de reposição alterado para maior, mas ainda possui vida útil, ocorra um aumento do seu valor para fins de depreciação e as tarifas aumentarem para a recuperação de um capital que ainda não foi desembolsado? E quando o VNR for menor que o CHC, é justo que o investidor receba uma menor remuneração que não recupera o capital já investido?

Apesar de, estatisticamente, não terem sido encontradas diferenças significativas entre os métodos, com exceção para a variável ROE nos dois ciclos, pode-se afirmar que o método do custo histórico corrigido atualizado pelo IPCA pode levar ao justo valor para o investidor e consumidor, pelas seguintes afirmativas:

(a) O método do CHC possui pressupostos mais vantajosos, como delineado na revisão conceitual: preserva o valor do ativo, ou seja, os investidores são remunerados pelo que realmente investiram, resguardando o montante desembolsado quanto ao valor do dinheiro no tempo e, portanto, recupera o investimento com a taxa de retorno acordada no arranjo. E, também, por ser auditável;

(b) Quanto à desvantagem assinalada na revisão conceitual, de que o CHC poderia ser superestimado se ocorrer avanço tecnológico, constatou-se, na amostra analisada que, em 34% das empresas no segundo ciclo e 24% no terceiro ciclo, o AIS apresenta indícios de que está superestimado com base no VNR73, tendo

em vista que o valor com base no CHC foi menor, independentemente, do índice de inflação adotado. Nesse casso, pode-se afirmar que o avanço tecnológico não fez com que os custos dos ativos fossem menores. E, conforme esta tese defende que a atualização pelo IPCA é a mais justa, esse percentual aumenta para 64% no 2º CRTP e 46%, no 3º CRTP, comparando-se, ainda, as diferenças nas médias, em que, pelo IPCA, o AIS é maior em 11% com base no VNR e, quando atualizado pelo IGP-M, o AIS passa a ser menor em apenas 4%, no 2º CRTP. No 3º CRTP, foi maior em 2% pelo IPCA, e menor, em 12%,

73 Vale ressaltar que o VNR não foi recalculado, tendo sido utilizados os valores divulgados nas notas técnicas

no 3º CRTP. Considerando-se que a diferença percentual entre os índices de 1995 a 2009 foi de 59% (IGP-M>IPCA) e de 1995 a 2014 de 55% (IGP- M>IPCA), conclui-se que o AIS com base no CHC-IPCA é mais justo tanto para o consumidor quanto para o investidor, pois o consumidor não estaria desembolsando mais do que foi investido atualizado pelo índice oficial da inflação, e o investidor estaria recebendo o que foi gasto atualizado pelo índice oficial de inflação. Aqui, é oportuno retomar a seguinte questão: é justo que a tarifa proporcione como receitas para a empresa valores que excedem o capital investido e o retorno sobre este, com o objetivo de repor o ativo que, no futuro, pode vir a custar mais caro? Os números citados acima demonstram que pelo menos dez empresas estão sendo remuneradas acima do índice de inflação, ou seja, suas receitas excedem o capital investido. Isso ocorre no 3º CRTP, e, no segundo ciclo, são quinze empresas. Além disso, as três empresas que foram retiradas da amostra no 3º CRTP também estavam sendo remuneradas acima do índice de inflação. Cabe lembrar, como já mencionado, que, no 3º CRTP, houve a convergência às normas internacionais de contabilidade, tendo sido alterada a contabilização do imobilizado na contabilidade societária. E esse menor percentual encontrado no último ciclo pode ter ocorrido pelo fato de o Ativo Financeiro ser atualizado pelo IGP-M, trimestralmente, mesmo quando da amostra atualizada pelo IPCA, pois somente o ativo intangível foi atualizado monetariamente no 3º CRTP. Assim, seria justo algumas distribuidoras serem beneficiadas e outras não? E vice-versa;

(c) Quanto ao retorno dos investidores, representado pela variável ROE, apesar da limitação de ser utilizado o CH para comparação, ficou evidente que as concessionárias estão apresentando retornos positivos, em sua maioria, 38 e 31 empresas, no segundo e terceiro ciclos, respectivamente. Quando a inflação é descontada, os retornos ainda continuaram positivos, mas em percentuais menores, em 36 empresas no segundo ciclo e em 28 empresas no terceiro ciclo. Pode-se afirmar que as empresas, em média, estão sendo bem remuneradas. O CHC atualizado pelo IPCA, portanto, proporciona também um retorno justo aos investidores e, mesmo com diferenças significativas estatisticamente, ainda ocorre retorno positivo, em geral. E o retorno calculado pelo CHC é mais próximo da realidade, pois, como já comentado, parte do lucro apurado pelo

CH pode ser ilusório (pode não ser acréscimo patrimonial), existindo acréscimo patrimonial apenas pelo excedente ao efeito inflacionário.

(d) Mesmo que as empresas apresentaram retorno favorável, independentemente, do método de mensuração, cabe destacar uma das questões levantadas nesta pesquisa: Quando o VNR for menor que o CHC, é justo que o investidor receba uma menor remuneração que não recupera o capital já investido? Os resultados demonstraram que pelo menos 16 empresas, no segundo ciclo, e 22, no terceiro ciclo, estão sendo remuneradas abaixo do capital investido quando atualizado monetariamente pelo IPCA. Esse número sobe para 29 e 31, segundo e terceiro ciclos, respectivamente, quando o índice adotado é o IGP- M. Como citado anteriormente, pode haver uma expropriação de riqueza pelo regulador e ausência de incentivos para novos empreendimentos.

(e) Como já comentado, o IRT apresentou o mesmo resultado em relação à variável AIS. Conclui-se, portanto, que as tarifas calculadas pelo método do CHC, e atualizadas pelo IPCA, proporcionam a modicidade tarifária para os consumidores. As tarifas deferidas, na segunda revisão tarifária, que apresentaram em média uma queda de 8,40% (-8,40%), se mensuradas pelo CHC/IPCA, teriam uma queda de 9,01% (-9,01%), em média. Do ponto de vista estatístico, essa diferença é insignificante. Mas, pelo CHC/IGP-M, a queda foi de 6,22% (-6,22%), havendo, nesse caso, do ponto de vista estatístico, diferenças significativas entre os métodos; Já as tarifas deferidas, na terceira revisão tarifária, que apresentaram em média uma queda de 1,14% (- 1,14%), se mensuradas pelo CHC/IPCA, teriam uma queda menor de 0,72% (- 0,72%), em média. Do ponto de vista estatístico, essa diferença também é insignificante. Já pelo CHC/IGP-M, houve um aumento de 1,74%, havendo, nesse caso, do ponto de vista estatístico, diferenças significativas entre os métodos;

Em suma, os achados da pesquisa permitem sugerir a alteração do método de mensuração do VNR, atualmente utilizado, para o método do CHC atualizado pelo índice oficial da inflação – IPCA, pois entende-se que esse método proporciona o justo valor para o consumidor e investidor, pelas seguintes razões expostas a seguir:

(a) Maior transparência e menos subjetividade no cálculo do ativo imobilizado em serviço e, consequentemente, da remuneração do capital e da quota de

reintegração regulatória, contribuindo para minimizar o problema da assimetria informacional;

(b) O consumidor atual estará arcando com o custo de um ativo adquirido ou construído para obtenção do serviço no presente;

(c) Os investidores, em sua maioria, continuarão a ter um retorno favorável, mas sem ganhos exorbitantes. Entende-se que haverá menos discrepância entre as remunerações das empresas, pois, como visto, algumas estão recebendo acima do capital investido e outras, não;

(d) O custo da depreciação passa a ser calculado sobre o valor de aquisição ou construção do ativo no momento do reconhecimento, mas em valores reais de capacidade geral de compras em determinada data;

É importante destacar que os resultados e as conclusões encontrados são exclusivos para o setor regulado em que as tarifas são determinadas por um órgão regulador, pois o método do custo de reposição é relevante para as empresas que possuem custos crescentes e precisam, com suas próprias atividades, angariar recursos para repor seus ativos.

Por exemplo, numa atividade comercial, é extremamente relevante que, no caso de venda de uma mercadoria que tenha sofrido aumento no de custo de reposição, a mercadoria estocada sendo vendida tenha seu preço ajustado de forma a conseguir produzir recurso suficiente para essa reposição. Caso contrário poderá o comerciante ter que injetar capital ou pedir empréstimo para essa renovação do estoque.

A discussão em tela neste trabalho, todavia, é a utilização do custo de reposição nas empresas concessionárias de serviços públicos em que suas tarifas sejam reguladas, já que a tarifa baseada num custo de reposição de um imobilizado que tenha subido repassa ao consumidor a responsabilidade de prover recursos para os investidores reporem tais ativos; e isso é responsabilidade deles, e não dos consumidores. E mais, se a tarifa produzir o recurso para essa renovação, porque deveria o investidor ser remunerado sobre esse ativo que não foi ele quem financiou?.

No caso de preço de reposição inferior ao do ativo sendo renovado, ocorre algo diferente: se o comerciante precificar a mercadoria sendo vendida com base na reposição que lhe exigirá investimento menor, poderá, na verdade, repor esse produto, mas sofrer uma perda do capital investido na mercadoria sendo vendida. No caso de um serviço tarifado, se o imobilizado precisar de menor investimento para repor o anterior, e a tarifa acompanhar esse

decréscimo, ótimo para o consumidor, mas o investidor poderá não conseguir recuperar seu investimento, o que o desestimularia a continuar no segmento e desestimularia outros a entrarem. A não ser que conseguissem aumentar a taxa de retorno embutida na tarifa para compensar o acréscimo de risco sendo incorrido.

Para análises mais profundas dos problemas de variação no preço de reposição, inclusive quando na presença de inflação, veja-se SZUSTER, Natan, Análise do lucro passível

de distribuição: uma abordagem reconhecendo a manutenção do capital da empresa., tese de

doutoramento, FEA/USP, 1985.

Finalmente, a grande conclusão que se pode tirar deste capítulo baseado em levantamento empírico e realista da realidade brasileira é o de que a análise estatística evidencia:

A) na média brasileira, o preço de reposição não apresentou diferença significativa com relação ao que seria a utilização da pura e simples correção monetária dos ativos ao invés dos novos valores de reposição;

B) mas isso simplesmente esconde algo muito relevante. A média deriva de dois grandes blocos:

a. o dos consumidores que estão pagando mais pelos serviços de energia do que deveriam, o que constitui benefício visível aos investidores e prejuízo a esses consumidores; e

b. o dos consumidores que estão pagando menos do que deveriam, o que os beneficia, mas prejudica os investidores.