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Conclusões

No documento L OBBYP RÉ- ELEITORAL E (páginas 110-113)

Capítulo 4 Financiamento de Campanhas Eleitorais: a influência da ideologia dos

4.6. Conclusões

O modelo analisado neste capítulo foi desenhado para estudar a interação da ideologia partidária e a abordagem básica de associação entre lobby pré-eleitoral e financiamento público de campanhas eleitorais apresentada no Capítulo 1. Os resultados obtidos tanto em termos de bem-estar social (plataformas anunciadas) e competição eleitoral (probabilidade de obtenção da maioria dos votos) são analisados em diferentes configurações de contribuições de campanha.

Quando não há contribuições privadas, são identificados dois movimentos opostos em termos das plataformas políticas de equilíbrio. Por um lado, existe um movimento centrípeto que faz com que os partidos convirjam para a plataforma preferida do eleitor médio para, com isso, receber a maior quantidade de votos possível. Por outro lado, afastar-se da plataforma ideologicamente estabelecida pelos partidos é custoso o suficiente para causar um movimento centrífugo em direções opostas. O resultado é um movimento intermediário em que os partidos se distinguem por escolherem plataformas diferenciadas, tipicamente também não coincidentes com a plataforma preferida pelo eleitor médio.

Quando contribuições privadas se fazem presentes, observam-se, novamente, dois movimentos direcionais. Partidos ideológicos ainda continuarão querendo se mover em direção às respectivas plataformas preferidas (a mesma força centrífuga antes mencionada), mas agora eles também vão querer agradar grupos de interesse para obterem as contribuições privadas. Esse último incentivo gera de novo um movimento centrípeto, mas não em direção à política preferida pelo eleitor médio, e sim em direção à política preferida pelos grupos lobbistas. A intensidade de

cada uma dessas forças, divergente e convergente, depende de fatores como a ideologia e a efetividade dos gastos de campanha, os quais são novamente independentes do recurso público destinado às campanhas eleitorais.

Dessa forma, mais uma vez se pode dizer que o financiamento público não afeta as políticas de equilíbrio anunciadas pelos partidos. O efetivo controle governamental das doações privadas poderia até reduzir o viés em favor de grupos de interesse (minimizando o movimento centrípeto). No entanto, estando presente a ideologia partidária, o sistema de financiamento baseado na proporção dos partidos no Congresso não consegue evitar o viés em favor das ideologias dos partidos (movimento centrífugo). Nesse sentido, a atuação dos grupos de interesse pode até vir a ser, do ponto de vista do bem-estar social, mais interessante do que a falta dela, uma vez que, ao evitar um movimento centrífugo de maior intensidade em direção às plataformas políticas, os grupos de interesse podem tornar menos extremas as plataformas anunciadas por partidos muito ideológicos.

Resultam do modelo também contribuições privadas não-nulas. Os grupos lobbistas considerarão ótimo contribuir para as campanhas eleitorais, representando um custo adicional totalmente inexistente na ausência de ideologia partidária. Em equilíbrio, a rigidez ideológica dos partidos determinará o quanto de financiamento privado os partidos irão receber dos grupos de interesse. No limite, poderá haver uma situação em que os lobbistas decidem financiar um partido que tenha uma posição política a priori diferente da deles, mas que seja mais flexível em termos ideológicos. Além disso, o modelo sugere que os grupos organizados de ricos e pobres tendem a participar mais do processo eleitoral e doar maiores montantes de contribuições privadas que a classe de renda média.

Nesse contexto, as contribuições privadas e o financiamento público adquirem um papel fundamental quando o foco é a probabilidade de os partidos obterem a maioria dos votos. De fato esses dois tipos de contribuições afetam as chances de sucesso dos partidos no curto prazo e seus efeitos podem se dar na mesma direção (beneficiando um partido em detrimento do outro) ou em direções opostas, situação em que se faz necessário descobrir qual dos efeitos é o dominante. Se o financiamento público é elevado o suficiente, ele pode alterar totalmente o resultado eleitoral, independentemente da vontade da maioria da sociedade ou dos grupos de interesse financiadores. Um partido menos popular que é amplamente financiado por recursos públicos possui grandes chances de sucesso, a despeito da sua ideologia ou da sua rigidez ideológica.

No longo prazo, tanto o aspecto relacionado à ideologia partidária (sob o ponto de vista da sociedade ou dos grupos de interesse), quanto aquele relativo à distribuição de recursos

públicos por meio da representação dos partidos no Legislativo, podem levar a uma situação limite em que um dos partidos se torne hegemônico no Congresso, o que corresponde, de fato, à inexistência de competição, como já obtido no Capítulo 3 sem ideologia partidária. Dessa forma, elevados níveis de financiamento público ou ainda alguma preferência forte da sociedade ou dos grupos de interesse por um dos partidos (em geral, o menos extremista) podem gerar o efeito indesejado de eliminar a competição eleitoral.

Assim, em termos de bem-estar e de competição eleitoral, a introdução da ideologia partidária no modelo, embora o torne mais realista, não minimiza os efeitos negativos obtidos nos Capítulos 1 e 3, relativos à existência de viés em favor dos grupos de interesse e à redução da competição eleitoral. Em verdade, dependendo da rigidez ideológica dos partidos, o bem-estar social pode, inclusive, piorar, ao indicar a possibilidade de os partidos anunciarem plataformas mais extremas. Nesse contexto, o financiamento público nos moldes considerados é totalmente inócuo quanto ao bem-estar social e pode ser extremamente desfavorável quanto à competição eleitoral, o que sugere mais uma vez ser possivelmente pouco proveitosa a alteração normativa que se propõe no Congresso em termos do financiamento público de campanha eleitorais.

No próximo capítulo retira-se o efeito da ideologia partidária para se introduzir uma nova variável: o viés dos grupos de interesse em relação aos partidos. Essa inovação é mais uma tentativa de tornar a modelagem mais realista e estudar as conseqüências que essa nova consideração, conjugada ao financiamento público, tem sobre o bem-estar social e a competição eleitoral.

Capítulo 5: Financiamento de Campanhas Eleitorais: a influência da ideologia

No documento L OBBYP RÉ- ELEITORAL E (páginas 110-113)

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