• Nenhum resultado encontrado

Conclusões gerais do estudo

No documento O Turismo e a Inovação na Hotelaria (páginas 119-122)

7. Conclusões e Recomendações

7.1. Conclusões gerais do estudo

A realização da presente dissertação de mestrado foi motivada pela aparente discrepância entre a valorização do Município de Inhambane como um polo turístico de excelência no panorama moçambicano e os indicadores de “bem-estar” paupérrimos associados à sua comunidade local. Deste modo, uma inquietação deveras pertinente surgiu: Como pode a comunidade local, pertencente ao município turisticamente mais rico de Moçambique, ser tão pobre?

Tendo este estudo o foco nas unidades hoteleiras do município, no seu modelo operacional e na sua capacidade em contribuir para o desenvolvimento socioeconómico da população, era obrigatório alargar o horizonte de análise para conseguir achar a resposta à inquietação supramencionada. Era necessário entender as dinâmicas do sector do turismo, como ele se adapta às exigências da globalização, como ele se mescla com as teorias de desenvolvimento e principalmente, que facetas apresenta quando implementado nos países em vias de desenvolvimento. Sem isso, não seria possível perceber as causas e os efeitos dos modelos operacionais das unidades hoteleiras em destinos tropicais como Moçambique.

Analisando o modelo de desenvolvimento turístico implementado no Município de Inhambane, conclui-se que este assenta indubitavelmente numa matriz neoliberal. Sendo assim, também as unidades hoteleiras apresentam as mesmas características. Pode-se mesmo afirmar que a internacionalização do setor hoteleiro é uma realidade no território em estudo, sendo que 64% dos empreendimentos possui capital estrangeiro ou multinacional, 59% apresenta cidadãos estrangeiros em cargos de direção e 41% assume possuir centros de reservas fora do território moçambicano. Com uma visão puramente mercantilista da atividade turística, a maioria das unidades hoteleiras do município apresenta poucas preocupações ambientais ou sociais. No intuito de valorizar ao máximo a sua localização geográfica, grande parte dos empreendimentos situa-se a escassos metros da linha do mar, em cima de dunas e mangais, por vezes com construções de cimento, perigando a biodiversidade costeira. Na busca desenfreada pelos lucros, chegam a praticar salários abaixo do ordenado mínimo nacional, e 77% dos seus trabalhadores auferem salários considerados no limiar da pobreza ou então apenas de subsistência. Existem relatos até, de empregadores que preferem não apostar na formação profissional dos seus empregados, com receio de futuras exigências de aumentos salariais.

As instituições públicas competentes na regulação e fiscalização da atividade hoteleira no Município de Inhambane são um pouco permissivas. A Direção Provincial do Trabalho, Emprego e Segurança Social tem conhecimento das práticas salariais à margem das leis, mas escuda-se nos valores escritos nos contratos de trabalho assim como nos descontos feitos pelas unidades empregadoras à segurança social para justificarem a dificuldade na identificação e repressão dessa prática conducente à precariedade e à pobreza dos trabalhadores. A Direção Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural tem a noção dos impactes ambientais negativos que advêm da construção de infraestruturas na primeira linha costeira, mas escuda-se nas autorizações especiais passadas pela Autoridade Marítima para que essas construções sejam realizadas, acrescentando até que todas as atividades humanas acarretam impactes ambientais, “é o custo a pagar pelo

desenvolvimento”, argumenta. A Direção Provincial da Cultura e Turismo atenta a toda a situação

não nega a existência destas práticas contraproducentes para um desenvolvimento turístico sustentável, mas escuda-se no facto de ser a última entidade a quem compete aprovar os projetos de investimentos turísticos, e assim, quando os processos chegam a ela, já vêm com todos os certificados aprovados pelas outras instituições.

Assim, é urgente a criação de equipas multissectoriais compostas por elementos de cada Direção Provincial que analisem e decidam em conformidade em todas as fases de certificação de futuros empreendimentos turísticos, assim como inspeções mais regulares e eficazes às unidades hoteleiras já existentes.

Também foi notada uma ausência da participação da comunidade local nas decisões estratégicas do desenvolvimento turístico do Município de Inhambane. Primeiramente por não existirem fóruns regulares abertos à população ou aos líderes comunitários, onde se debata as questões mais pertinentes ligadas à atividade turística. Depois, por a própria comunidade local não possuir empresas turísticas ou hoteleiras de relevo capazes de influenciar as politicas a serem seguidas. Por último, por serem escassos os cargos de chefia das unidades hoteleiras ocupados por trabalhadores oriundos da comunidade local.

Apesar de tudo, é interessante verificar que as unidades hoteleiras do Município de Inhambane no seu processo de internacionalização possuem uma orientação cultural regiocêntrica, isto é, ao mesmo tempo que adotam operações que satisfaçam todos os tipos de clientes (ex. aposta na cozinha internacional, música ambiente internacional nos espaços públicos, decorações sem grandes referências culturais endógenas, etc…), procuram também conferir aos seus estabelecimentos particularidades que espelhem a realidade sociocultural onde estão inseridas. Exemplo disso, são a contratação de artistas locais como forma de animação turística ou o auxílio à comercialização de artesanato ou outras formas de expressão artística.

Cain (2012), sublinha que a relevância que as unidades hoteleiras possam ter no desenvolvimento socioeconómico dos países em vias de desenvolvimento está diretamente ligada com a qualidade do emprego que geram, com as compras que fazem junto dos consumidores locais assim como com o comprometimento estabelecido com os cidadãos ao seu redor.

Numa sociedade muitíssimo afetada pelo desemprego e falta de qualificação profissional, a empregabilidade gerada pelas unidades hoteleiras é extremamente importante. Apesar das pequenas dimensões da generalidade dos empreendimentos hoteleiros, estes conferem um meio de sustento a inúmeras famílias da comunidade local, principalmente daquelas que se encontram mais afastadas do centro urbano do município. Por outro lado, mesmo apostando pouco na formação profissional, a experiência adquirida pelos trabalhadores nas suas atividades diárias reveste-se de uma importância capital quanto à aquisição de competências. Não se pode escamotear também, que as unidades hoteleiras dão a oportunidade do contacto direto entre os trabalhadores e os turistas. Desse contacto, nascem trocas de experiências que vão desde a aprendizagem de novas línguas, à abertura de novos horizontes e perspetivas de vida.

Porém, os laivos de precariedade que caracterizam a sua oferta de emprego devem ser erradicados o mais depressa possível. Urge dignificar a mão-de-obra hoteleira, é absolutamente primordial qualificá-la e remunerá-la de forma justa. Só assim, as unidades hoteleiras poderão baixar as suas taxas de turnover, aumentar a satisfação dos seus trabalhadores, proporcionar serviços de qualidade e contribuir ainda mais para a captação da procura turística no município, gerando ainda mais benefícios socioeconómicos para Inhambane.

Por sua vez, o efeito multiplicador das operações hoteleiras na economia local é diminuto. Não tendo a comunidade local poderio financeiro para empreender atividades comerciais de grande monta, as unidades hoteleiras vêem-se privadas de efetuar muitas das suas compras de produtos e serviços em empresas sediadas no município. Este facto origina uma expressiva fuga de capitais do Município de Inhambane que devia ser estancada.

Devem ser atribuídos mais incentivos financeiros ao empreendedorismo local, assim como as unidades hoteleiras devem procurar adaptar as suas necessidades operacionais à capacidade de produção de bens e serviços existente no município.

Também o comprometimento estabelecido com a população deve ser melhorado. O contributo que muitas unidades hoteleiras dão ao nível da responsabilidade social, no apoio a algumas instituições, infraestruturas básicas assim como em campanhas de sensibilização comunitária constitui um passo importante na persecução desse objetivo. Porém, fatores como a precariedade laboral e a escassa participação no desenvolvimento económico do comércio local obstaculizam a existência de uma onda mobilizadora em torno do sector hoteleiro.

Por fim, existe a necessidade de referir que pelas características intrínsecas do Município de Inhambane, seria bastante interessante que as diretrizes do desenvolvimento turístico perdessem um pouco o seu carácter neoliberal e que se aproximassem de um desenvolvimento endógeno, quiçá promovendo um turismo de base comunitária. Acredita-se que tal, iria contribuir para um desenvolvimento turístico mais sustentável, para uma maior participação comunitária nas estratégias de desenvolvimento turístico e principalmente para uma maior capacidade de retenção dos benefícios económicos oriundos da atividade hoteleira em prol da melhoria das condições de “bem-estar” da população local.

7.2.

Propostas de medidas qualitativas de operações hoteleiras que promovam um

No documento O Turismo e a Inovação na Hotelaria (páginas 119-122)

Documentos relacionados