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Capítulo I: Relatório de Estágio

7. Dor crónica: um Problema de Saúde Pública

7.8 Conclusões Gerais

A partir dos gráficos obtidos, foi elaborado um relatório com o objetivo de comunicar ao lar de S. José os resultados do inquérito. Esta comunicação teve o objetivo de sensibilizar a equipa de profissionais de saúde, os restantes cuidadores e a administração do lar, bem como os familiares dos utentes. Pretendeu-se dar a conhecer a realidade da instituição no que respeita à literacia dos doentes sobre a dor crónica, prevalência e sua correlação com outras doenças, intensidade, efetividade da farmacoterapia e seu impacto social. (Documento 2- Anexos)

O inquérito foi efetuado maioritariamente a pessoas na terceira idade (≥ 65 anos), tendo-se obtido uma amostra de 28 inquiridos, igualmente distribuídos entre elementos do sexo masculino e feminino. (Gráfico 1- Anexos) O inquirido mais jovem tinha, à data da realização do inquérito, 60 anos de idade, o mais velho 94 anos e a média de idades foi de aproximadamente 82 anos. (Gráfico 2-

Anexos)

No que diz respeito à literacia acerca da dor crónica, é de salientar que a maioria dos pacientes em estudo não sabe o que é a doença (15 em 28 inquiridos). Perante esta realidade, após a resposta negativa à questão “sabe o que é a dor crónica?”, foi explicado de forma clara ao paciente, a definição da doença em questão. (Gráfico 3- Anexos)

A dor crónica afeta cerca de 31% dos portugueses e aumenta com a idade em ambos os sexos. A prevalência encontrada no lar de S. José foi de 54%, uma percentagem significativa, mas compreendida à luz da faixa etária em que os pacientes se encontram. É de referir que a prevalência da dor crónica aumenta com a idade. (Gráfico 4- Anexos)

No que concerne à correlação com outras doenças, a dor crónica pode ser associada a uma vasta gama de quadros clínicos, tais como artrite, cancro, diabetes, osteoartroses e osteoporose,

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas 2014/2015 | Lúcia Costa Neves Página 30 descritas como as patologias mais comuns na literatura. Todas estas foram encontradas no lar de S. José, às quais acresceram patologias mais raras, mas definitivamente causadoras de dor, como a elefantíase e a zona. (Gráfico 5- Anexos)

Quanto à intensidade da dor, em quase metade (cerca de 44%) dos casos de dor crónica prevalentes na população portuguesa, a dor foi classificada como intensa ou máxima (≥5 numa escala numérica 0-10). No lar, a percentagem de doentes que classificaram a dor como intensa ou máxima foi de 46% (7 em 15 pessoas), valores semelhantes aos registados no panorama nacional. (Gráfico 6-

Anexos)

Dos quinze utentes do lar com dor crónica, quatro conseguem controlar a dor apenas com paracetamol e dois não necessitam de medicação crónica. Na maioria dos restantes casos, o tramadol é o fármaco mais utilizado em combinação com outros. Este é um opiáceo de baixa potência, análogo sintético da codeína e com riscos de dependência muito menores que outros opiáceos. Existe uma gama muito variável de combinações farmacológicas, para conseguir suprir as necessidades de cada paciente. (Gráfico 7- Anexos) No que concerne à efetividade da farmacoterapia, em 80% dos pacientes (12 em 15 inquiridos) a farmacoterapia revela-se eficaz, atenuando a dor. (Gráfico 8-

Anexos) É de acrescentar que da totalidade das pessoas que sentem alívio da dor com a toma da

medicação, 67% não sente alívio total da mesma. (Gráfico 9- Anexos) Dada a dificuldade no controlo da dor crónica, cada doente necessita de uma reavaliação periódica, com ajuste da terapêutica, de forma a minimizar este problema.

A nível nacional, o diagnóstico de depressão foi feito a 17% dos pacientes com dor crónica. No lar esta percentagem foi muito mais elevada (53%), mas temos de ter em conta que população estudada é idosa e institucionalizada. (Gráfico 10- Anexos) No entanto, é importante salientar que a dor crónica tem uma dimensão psicológica, que condiciona o estado físico e psíquico dos doentes.

É de referir que dos pacientes que possuem dor crónica e depressão, apenas um (em oito doentes) afirma que a depressão não está relacionada com a dor crónica. (Gráfico 11- Anexos) Estão medicados com farmacoterapia específica para a depressão, 75% dos utentes que referem ter essa patologia. (Gráfico 12- Anexos) É de referir que, os pacientes medicados com ansiolíticos, antipsicóticos e antiparkinsonianos não são considerados doentes com tratamento antidepressivo pela literatura, apesar destes fármacos estarem muitas vezes associados como adjuvantes a este tipo de terapia, ou seja, os pacientes que não tomam antidepressivos não estão contabilizados nos 75% referidos anteriormente.

Os fármacos utilizados para controlar a depressão foram a amitriplina (antidepressivo tricíclico), a venlafaxina (inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina), o escitalopram e o citalopram (ambos inibidores seletivos da recaptação de serotonina). (Gráfico 13- Anexos)

Para finalizar o inquérito, com o objetivo de obter uma resposta aberta, foi perguntado aos utentes de que forma é que a dor crónica condiciona a sua vida, para se obter uma ideia do impacto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas 2014/2015 | Lúcia Costa Neves Página 31 social da doença. Assim, os inquiridos com dor crónica puderam transmitir por palavras, aquilo que mais os angustia, tendo-se recolhido respostas como:

“- Não posso mexer-me como deve ser, sinto-me mal.” “- Deixo de andar, porque tenho medo de virar.”

“- As dores pioram a minha vida. Nem tenho vontade de comer.”

“- As dores condicionam os meus trabalhos manuais. Demoro três dias a pregar um prego.” “- As dores já alteraram muito a minha vida. Agora já só sofro.”

Este inquérito foi um trabalho extremamente importante a nível profissional, mas também a nível pessoal, uma vez que me permitiu vivenciar uma realidade, que desde há muito tempo me despertou interesse. Na minha opinião, está a ser desenvolvido um bom trabalho junto dos utentes do lar e espero que o meu estudo possa vir a constituir uma contribuição positiva, para que os idosos “sejam ouvidos e compreendidos na sua dor”.

«O impacto da dor crónica na qualidade de vida dos doentes é devastador e superior ao provocado por muitas outras patologias crónicas, principalmente pelo sofrimento que acarreta e pelas limitações que impõe em múltiplas atividades do dia-a-dia. Frequentemente, a dor do doente afeta também de forma muito significativa o bem-estar e as atividades dos familiares e outros cuidadores, fator que não pode ser ignorado. Tendo ainda em conta a elevada prevalência da dor crónica, pode concluir-se que estamos perante um grave problema de saúde pública que urge combater com todos os meios ao nosso alcance.»

Dr. José Castro Lopes, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto [38]

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