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Conclusões gerais sobre o teste de percepção

SEÇÃO 3: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.2 Dados coletados a partir do teste de percepção

3.2.6 Conclusões gerais sobre o teste de percepção

Uma vez que se tratava de um teste de percepção, sabemos que o input recebido pelas nossas alunas seria de grande importância, por isso, nossa preocupação de que o teste fosse gravado por uma pessoa proficiente na língua inglesa. Como já foi dito na seção de metodologia, a professora escolhida para tal propósito é falante de PB, com uma ampla experiência no ensino da língua inglesa. Nossa escolha por uma falante proficiente, porém não-nativa foi intencional, uma vez que essa é a realidade para a maioria dos alunos de LE no Brasil: as aulas são ministradas por professores falantes nativos de uma outra língua que não aquela que estão ensinando.

Podemos seguramente dizer que nossa professora informante teve o desempenho oral esperado na gravação de nosso teste. Os padrões acústicos das vogais e consoantes foram mantidos e quando houve algum distanciamento, certamente ele ocorreu justamente devido ao fato de ela não ser falante nativa da LI, o que em nossa opinião, é bastante natural.

Quanto aos resultados do teste de percepção, apontamos alguns problemas gerais na identificação dos sons, principalmente no que diz respeito a identificar ou diferenciar as vogais altas anteriores /K/ e /+/; /7/ e /W/. Quanto às consoantes, poucos foram os erros na identificação das fricativas /6/ e /&/.

Portanto, como uma tentativa de conclusão para encerrar a seção, acreditamos poder afirmar que, no geral, as alunas não apresentaram grandes problemas no teste de percepção, o que pode ser explicado pelo fato de que a gravação dos dados tenha sido feita por um falante de PB, input ao qual os alunos estudantes de ILE no Brasil estão bastante acostumados.

Passamos a seguir à última seção, na qual faremos nossas considerações finais acerca desse estudo, apontando nossas conclusões de maneira aprofundada, os limites encontrados no desenvolvimento da pesquisa e os encaminhamentos para estudos futuros.

O objetivo desta pesquisa foi analisar a produção e a percepção de alguns sons da língua inglesa por alunos formandos de um curso de Letras (Português/Inglês) de uma universidade pública do interior de São Paulo e observar a contribuição da fonética acústica na aquisição da pronúncia de uma LE.

A idéia de estudarmos as vogais e as fricativas /6/ e /&/ surgiu a partir de nossa prática como professora de ILE, que nos permitiu perceber a grande dificuldade dos alunos em produzir e perceber sons da língua inglesa não presentes no PB, embora, na visão de muitos, iguais, como é o caso das vogais /K/ e /+/ das palavras sheep e ship, muitas vezes produzidas como o /K/ do português da palavra vida, por exemplo. Ou como é o caso do “temido th”, que de tão assustador passa a ser ignorado pelos alunos que não diferenciam as palavras sink e think, gerando sérios problemas de comunicação, uma vez que o falante estrangeiro pode não ser compreendido.

Para justificarmos a importância de nosso estudo e a relevância de seu tema tanto para a área de fonética acústica quanto para a área de Lingüística Aplicada e o ensino/ aprendizagem de língua estrangeira, em nossa seção que enbloba o arcabouço teórico, expusemos as diferenças e semelhanças entre os sistemas fonológicos da Língua Portuguesa (CÂMARA JR., 1976; CAGLIARI, 2002, 2007; CRISTÓFARO-SILVA, 2007) e do Inglês Americano (SMALL, 2005; LADEFOGED, 2006), expusemos sobre a fonética acústica, produção e percepção da fala (KENT e READ, 1992; BEST, 1995; LADEFOGED, 2006; PACHECO, 2006) e nos dedicamos também à exposição de idéias quanto à importância do ensino da pronúncia e da fonética nas aulas de língua estrangeira (CAGLIARI, 1978; KENWORTHY, 1987; BOLLELA, 2002; CRISTÓFARO-SILVA, 2007).

A análise dos dados nos revelou que as alunas, independentemente do tempo de sua experiência e vivência com a LI, apresentaram alguns erros quanto à produção e percepção dos fonemas foco de nosso estudo.

Com relação às vogais, pudemos perceber que a maioria delas não distingue a diferença entre /K/ e /+/, principalmente no par mínimo sheep; ship. A exceção, neste caso, é a produção da aluna A. Como sabemos é a aluna que mais tem experiência como professora e que morou mais tempo fora do Brasil. No entanto, a proficiência lingüística da aluna A e das outras alunas não foi fator determinante para o reconhecimento das diferenças entre os fonemas. Houve uma alternância de erros e acertos entre elas.

Por exemplo, notamos que praticamente não houve distinção na produção das vogais /'/ e /3/ nas palavras pen; pan, bet; bat, men; man, independentemente de terem sido

apresentadas como par mínimo ou não, ou do nível lingüístico das alunas. O mesmo pôde ter sido observado quanto à produção do /‹/ ou das vogais posteriores /#/, /n/, /7/ e /W/ e das fricativas /6/ e /&/.

No que se refere aos dados do teste de percepção, primeiramente gostaríamos de apontar que a professora informante neste estudo possui as competências necessárias para desempenhar um bom trabalho como docente e demonstrou competência em sua produção oral. Tais características ajudaram nos resultados dos dados de nossas alunas, que demonstraram alguns erros eventuais quanto à distinção dos sons propostos, principalmente no que diz respeito às vogais /K/ e /+/; /7/ e /W/.

Embora pudemos verificar algumas não identificações de diferenças dos sons da LI por parte das alunas, fato que já esperávamos quando nos propusemos a fazer este estudo, concluímos, por meio de nossos dados, que as alunas informantes não apresentaram graves problemas tanto na produção quanto na percepção dos sons propostos, ainda que estas também não produzam os sons específicos da língua inglesa com grande acuidade.

No entanto, como nosso maior objetivo é verificar a contribuição da fonética acústica para o aperfeiçoamento da pronúncia no aprendizado de uma LE, notamos a necessidade de se exercitar mais a pronúncia por parte das alunas investigadas.

Assim, faz-se evidente a importância de se abordar a fonética nas aulas de LE, principalmente nos locais de formação de professores, como os cursos de graduação em Letras, para que os futuros professores dominem as habilidades orais e sintam-se seguros quanto à pronúncia do idioma que ministram (BOLLELA, 2002).

Nesse contexto, Cagliari (1978) sustenta que ensinar uma pronúncia adequada é tornar o aluno (ou futuro professor) consciente das posturas fonéticas que deve realizar, a fim de articular corretamente os sons, pois do contrário, fará com que o aluno reproduza e internalize formas “erradas”. Em sala de aula, o papel do professor é fundamental para a aprendizagem da pronúncia de uma LE.

Portanto, exercícios de treinamento fonético de produção (performance) e reconhecimento (ear-training) dos sons da língua devem ser praticados desde o início do contato do aluno com a nova língua para que ele tenha um auto-controle fonético crítico da pronúncia, essencial para que não haja transferência dos hábitos lingüísticos de sua língua materna na aprendizagem de outra língua (CAGLIARI, 1978).

Desta forma, atribuímos enorme contribuição da fonética acústica ao ensino de línguas, uma vez que podemos nos utilizar dela como uma importante ferramenta para o

estudo da competência oral em LE, possibilitando a investigação de problemas na produção e percepção da fala.

Destarte, esperamos que essa pesquisa possa contribuir para que seja dada maior importância ao ensino da pronúncia em sala de aula de LE, incentivando a prática de exercícios que priorizem as habilidades orais antes mesmo de se ensinar as outras habilidades, uma vez que o sucesso do ensino/aprendizagem da mesma só será pleno quando o aluno for capaz de reconhecer e produzir os sons de forma correta, nos contextos adequados (AMARANTE, 1985, apud BORGES e FRAGA, 2007).

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