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O estudo realizado incidiu sobre o efeito de quatro diferentes modalidades de rega e os seus efeitos em diferentes parâmetros na casta Touriga Franca, localizada na sub-região do Douro Superior.

Os resultados obtidos no presente estudo permitiram retirar algumas conclusões sobre o efeito que diferentes dotações exercem em diversos parâmetros quer ao nível vegetativo, quer nos cachos, permitindo verificar se existem ou não benefícios no rendimento e qualidade da colheita e, a partir destes, verificar qual a evapotranspiração cultural (ETc) que irá demonstrar mais vantagens.

Apesar de este estudo ser uma continuação de outros realizados desde 2015, os resultados obtidos no presente ano são muito influenciados pelas condições climáticas que se fizeram sentir neste mesmo ano, não querendo, no entanto, dizer que não existe um efeito cumulativo nas videiras e na água aplicada nos anos anteriores.

Em primeiro lugar, o ciclo vegetativo do ano de estudo foi extremamente diferente ao verificado no ano anterior, registando-se como um dos anos mais secos de há várias décadas, não só devido à inexistência ou reduzida precipitação nas estações da primavera e verão, mas também à muito baixa precipitação que ocorreu ao longo de todo o inverno, desde o ano anterior. Foi assim um ano em que foi necessária maior frequência de rega em comparação com o ano de 2016.

No que se refere às medições ocorridas no início do ciclo fenológico, permitiram aferir a homogeneidade do ensaio experimental, incluindo a carga à poda, o número de pâmpanos e o número de inflorescências. Através destes parâmetros foi ainda possível calcular outros como a percentagem de abrolhamento e o Índice de Fertilidade Potencial (IFP). Neste sentido, registou-se uma homogeneidade entre a carga média deixada à poda e o número médio de pâmpanos por videira nas diferentes modalidades, assim como na taxa de abrolhamento.

Já no que diz respeito ao número médio de inflorescências, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre a modalidade não regada e R50 e a modalidade R0 quando comparada com R75.

No que diz respeito à Área Foliar, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas em todas as modalidades, em particular na Área Foliar das Netas e

Principais entre a testemunha não regada e R75 e na Área Foliar Total registaram-se diferenças entre a modalidade R0 e a modalidade R75 no dia da vindima.

Em termos de medições da densidade vegetal, na medição do “Point Quadrat” registaram-se diferenças estatisticamente significativas no Número de Camadas de Folhas, em particular entre R0 e a modalidade com a maior dotação de rega e na Percentagem de Buracos, na medição de 6 de julho entre R25 e os tratamentos R0 e R75, em que R25 foi onde se registou o menor valor. Já na medição de 9 de setembro, apesar de não se terem verificado diferenças estatísticas, a taxa de falhas na vegetação foi maior em R0, tendo aumentado tal como esperado, da primeira para a última medição. Já no caso da Superfície Foliar Exposta ocorreram diferenças estatisticamente significativas entre a modalidade R0 e as duas modalidades em que foi aplicado um maior teor de água.

Em relação às medições ecofisiológicas, em termos de Potencial Hídrico de Base, os registos feitos no dia 25 de maio e 20 de julho demonstram valores semelhantes entre modalidades, que acabam por se diferenciar na medição realizada no início de agosto já com desigualdades estatisticamente significativas entre R0 (maior stress hídrico) e R75. A 17 de agosto são também observadas diferenças estatísticas entre a modalidade não regada e as duas modalidades com maiores teores de dotação de rega.

No caso do Potencial Hídrico Diário existem também, em geral diferenças estatisticamente significativas entre as modalidades, mais concretamente entre R0 e R25 em comparação com as modalidades com maiores taxas de evapotranspiração. Neste parâmetro, os valores mais elevados foram ainda registados ao início da tarde (às 14h) e os mais baixos, foram medidos durante a madrugada (4h).

Nas medições das trocas gasosas, feitas com o dispositivo IRGA, em termos de Fotossíntese Líquida não se registaram diferenças estatísticas relevantes entre modalidades, no entanto em geral houve uma tendência para ocorrerem valores superiores em R75 e inferiores na testemunha não regada. Em termos de Condutância Estomática, os valores foram em média extremamente baixos em todas as datas e nas horas em que se realizaram, devido às elevadas temperaturas que se fizeram sentir e revelando um elevado índice de stress hídrico, registando-se apesar de tudo diferenças estatísticas entre diferentes modalidades a 7 e 21 de julho na medição das 14h. Já na Taxa de Transpiração, houve um aumento em geral deste parâmetro da medição das 10h para as 14h, sendo que na maior parte dos casos houve uma redução desta taxa

das 14h para a última medição do dia. Nos tratamentos em que houve um maior conforto hídrico, apesar de não se registarem diferenças estatisticamente significativas, observaram-se maiores perdas por transpiração.

Em termos dos componentes de qualidade dos mostos, em geral não se verificaram diferenças estatisticamente significantes entre modalidades, observando-se no entanto que a percentagem de álcool provável foi ligeiramente superior em R25 e inferior em R0, o pH foi também superior tanto em R25 como em R75 e com menores valores na modalidade não regada, a Acidez Total registou os maiores valores em R75 e o menor valor em R25; no caso do Ácido Málico, tendo-se registado uma diminuição ao longo das medições, a testemunha R0 registou o menor valor e R25 foi a que obteve o valor mais elevado. No caso das Antocianas e Polifenóis, o tratamento em que não se aplicou rega foi onde se registou o valor mais baixo e o valor mais elevado foi verificado em R75.

Por fim, nos componentes de rendimento verificam-se algumas diferenças em termos estatísticos entre os parâmetros, em particular no número de cachos em que houve diferenças entre R0 e R75, com a primeira a registar o menor número; no caso do peso dos cachos houve também diferenças entre R0 e as duas modalidades com maior teor de rega. No caso quer do peso quer no volume dos bagos, apesar de não se terem registado diferenças estatisticamente significativas, obtiveram-se valores superiores nas duas modalidades com as mais altas percentagens de evapotranspiração.

Na produção por videira, na altura da vindima registaram-se diferenças estatisticamente significativas entre as duas modalidades com as maiores dotações de rega em comparação com a testemunha não regada.

Desta forma, e como conclusão, as modalidades que em geral registaram os valores mais favoráveis foram as modalidades R50 e R75. Apesar disso, será interessante a continuação deste estudo, uma vez que será expectável que estas diferenças entre modalidades sejam cada vez mais evidentes. É também importante referir que devido às disparidades tão grandes em termos climáticos ao longo dos últimos 3 anos de estudo, seja importante dar continuidade a este estudo de forma a colmatar esta problemática e reforçar os resultados obtidos nestes últimos anos.

Por ter sido um ano extremamente seco, no ano em que se registaram estes parâmetros, poderá não ter havido tantas diferenças em termos estatísticos uma vez que após 4 a 5 dias todas as videiras em estudo e independentemente da modalidade mostravam já sinais de stress hídrico, como demonstravam os valores da sonda do solo

presente na Quinta. Desta forma, será de ponderar a realização de rega com uma maior frequência, a cada 5 dias por exemplo em detrimento do uso a cada 15 dias, para que os resultados estejam mais dependentes das dotações de rega e não tanto dos fatores climáticos.

Apesar de tudo, os resultados deste estudo demonstram já evidências tanto em termos qualitativos como quantitativos que maiores dotações de rega parecem ter um impacto positivo nas videiras e particularmente na produção e uvas para vinificação.