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A aproximação da escola com a universidade, por meio de atividades realizadas em parceria, evidenciou duas situações necessárias e complementares: a primeira, sua importância no processo de formação continuada do professor, e a segunda, o fato de possibilitar a aproximação da academia com o cotidiano da escola, estreitando os sujeitos para que os pesquisadores possam refletir sobre o ensino. O histórico de envolvimento da EMEF Padre Francisco Silva em parcerias com universidades foi considerado um fator de grande influência para o perfil dos profissionais que lá se encontram: a grande maioria tem interesse pela participação em grupos de estudo, atividades de pesquisa e considera positiva a aproximação e parceria com a universidade. Esse foi um fator fundamental para que as trocas de experiências vivenciadas pela pesquisa se tornassem possíveis.

O envolvimento dos professores em atividades de reflexão sobre a prática foi essencial para que estes profissionais pudessem analisar suas formas de trabalho, desestruturar, questionar e reorganizar questões, conforme estas lhes pareciam mais ou menos significativas para o aprendizado do aluno. Para isso, o desenvolvimento de atividades com os estudantes – servindo como aplicação das inovações que estavam sendo pensadas (reordenação dos conteúdos, utilização de materiais diferenciados, atividades elaboradas conjuntamente por duas disciplinas, por exemplo) – foram importantes para que as professoras pudessem analisar estas práticas. Isso conduz ao seguinte fato: as inovações curriculares dependem da disposição do professor em refletir sobre sua prática, de entrar em contato com novos conhecimentos e, especialmente, de ter a oportunidade de experimentar as inovações junto aos estudantes. Somente após esta etapa é que o professor terá condições de permitir a tensão entre o tradicional e a necessidade de mudança de mentalidade diante do ensino, da avaliação e da inovação curricular.

É notável o quanto a inovação curricular alterou o programa inicial proposto pelas professoras. Procuramos indicar a seguir que a atividade de campo foi etapa decisiva da mudança de conhecimento. Ao mesmo tempo, a experiência revela a importância do conteúdo na inovação curricular e que mudanças limitadas ao enfrentamento de problemas de gestão escolar pouco interferem na construção de um ensino mais integrado.

propiciou a trajetória que parte da experiência vivida dos alunos para crescente abstração e concepção sobre o funcionamento da natureza e de suas inter-relações com atividades humanas.

Os dados mostraram que um segundo oferecimento das atividades desenvolvidas com os alunos (com uma segunda classe) foi motivador para que as professoras repensassem o primeiro ensaio e, a partir das considerações que fizeram sobre este, buscassem alternativas para solucionar questões que só então puderam aparecer: necessidade de promover maior familiarização dos alunos com os objetivos da atividade de campo, promover contato prévio das crianças com os materiais que seriam utilizados, adaptação do percurso com quantidade menor de paradas, etc. Antes da efetiva aplicação da atividade com as crianças, não havia sido possível perceber estes aspectos em suas reais proporções. Certamente, se houvesse um terceiro oferecimento, outras questões poderiam ainda ter sido trabalhadas (aprimoramento da atividade). Isso comprova que os professores têm muito o quê dizer sobre o ensino, pois são eles quem colocam em práticas as atividades juntamente aos alunos – atividades, muitas vezes, elaboradas por especialistas de fora da sala de aula.

A respeito do ensino do tema ciclo da água, o desenvolvimento e análise das atividades mostrou que a observação dos fenômenos é um fator de especial importância para a aprendizagem. No entanto, sabemos que nem todas as etapas do ciclo podem ser vivenciadas da mesma maneira, ou seja, nem todas são imediatas em nossas experiências cotidianas (como os reservatórios subterrâneos, a existência de água nas rochas, nos vegetais, etc). A percepção de que a observação é importante para a aprendizagem somada à ênfase dada pelos materiais didáticos aos reservatórios superficiais, explicam a pouca atenção dada aos reservatórios subterrâneos no ensino do ciclo da água. Foi possível ao longo da pesquisa, constatar essa questão e, o que é mais importante, refletir junto com as professoras sobre ela. Dessas reflexões foi possível perceber uma efetiva preocupação em realizar inovações nas práticas de modo a valorizar o aspecto sistêmico da circulação da água em seus vários reservatórios.

O ciclo da água é um sistema geral de entrada, armazenamento e saída de água na hidrosfera, atmosfera, biosfera e litosfera. Compreender a importância da água nas rochas é

fundamental para que se forme uma visão sistêmica dos caminhos da água. A água presente na atmosfera tem grande importância para nossa saúde e nossa vida, mas, em termos de armazenamento e abastecimento, possui importância secundária quando comparada aos reservatórios subterrâneos. Esse é um entendimento fundamental e, junto com ele, os fluxos entre solo e rocha complementam idéias dinâmicas das trocas que ocorrem durante as passagens da água. Defendemos, portanto, que para compreender o ciclo da água há necessidade cognitiva de construir a visão sistêmica e cíclica dos processos envolvidos. Assinalamos que o funcionamento e importância das águas subterrâneas devam ser abordados em igualdade de importância com o que ocorre no subciclo da água na biosfera pois, sem isso, não é possível alcançar a visão sistêmica.

Possibilitar a integração entre disciplinas distintas foi um aspecto apontado, inclusive pelas professoras, como essencial para possibilitar a abordagem interdisciplinar. Outro fator igualmente importante foi o tratamento de um tema comum pelas duas disciplinas. Reforçamos, nesta questão, que temas relacionados às Geociências mostraram-se potenciais para tal. Abordar questões vinculadas ao relevo, água, rochas e solo permitiu uma gama de possibilidades para que as professoras envolvidas na pesquisa – no caso, professoras de Ciências e Geografia – pudessem desenvolver atividades inter-relacionadas com seus alunos (o que ficou especialmente comprovado pela atividade de campo relatada).

Ao buscar o trabalho integrado de duas disciplinas para tratar temas ligados ao ambiente foi possível diminuir a importância de uma ordem tradicionalmente acadêmica de abordagem dos conteúdos em benefício de uma nova ordem que se inicia naquilo que está mais próximo do aluno: o ambiente em que vive. Essa aproximação é especialmente importante para possibilitar a apropriação dos conhecimentos por parte dos estudantes e a percepção sistêmica do meio. Isso, por sua vez, deverá implicar no desenvolvimento de valores como o respeito ao ambiente, a responsabilidade e cidadania.