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O principal objetivo deste capítulo foi o de identificar as possíveis implicações geopolíticas decorrentes da atuação estadunidense, pautadas na nova Estratégia de Segurança protagonizada pelo Governo Obama, para a Guerra da Síria. Com base nisso, a primeira seção do presente capítulo buscou apresentar, a partir dos eventos da Primavera Árabe, tanto o surgimento do conflito quanto as suas principais dinâmicas geopolíticas por meio do mapeamento dos principais atores envolvidos – estatais e não-estatais – e de seus respectivos interesses no conflito. Frente à complexidade de objetivos, de alianças e de capacidades das diversas partes, dez atores-chave foram discutidos.

Dado o recorte de pesquisa do presente trabalho, uma seção especial foi dedicada à exposição da postura estadunidense no decorrer da guerra durante a Gestão Obama, com base no redirecionamento estratégico apresentado no capítulo anterior e alicerçado nos pressupostos teóricos discutidos até então. Por meio da análise do comportamento de Washington – alicerçado na tentativa de engajamento diferenciado protagonizada por Obama e pautado na cuidadosa análise das prioridades de Washington no conflito, levando em consideração custos e benefícios na escolha dos métodos necessários na garantia das mesmas -, constatou-se que a prioridade estratégica dos Estados Unidos no Oriente Médio durante o Governo Obama esteve relacionada ao combate ao autointitulado Estado Islâmico – único ator com potencial de

90“Syria is now the frontline of a global battlefield, where a number states and networks with their own ambitions

and interests find themselves. The civil war incorporates several global conflicts and, as such, there is little hope for its end. The actors involved will not withdraw unless the others do; but why would anyone withdraw?”.

ameaçar a balança regional de poder e os interesses estratégicos de Washington na região, sobretudo relacionados ao petróleo e à manutenção do status quo regional.

Diante disso, percebeu-se que a questão Assad ficou relegada à segundo plano, visto que nenhum interesse considerado vital pela administração Obama se encontrava ameaçado pelo governante, cabendo aos Estados Unidos apenas a aplicação de sanções econômicas contra o Regime, o fechamento da sua embaixada em Damasco, a manutenção da retórica em oposição à Assad e o apoio a parceiros regionais e - de forma mais limitada e restrita - às forças de oposição síria, com vias ao enfraquecimento gradual do Governo Sírio - a queda de Assad sempre foi de interesse estadunidense, mas nunca foi considerada de facto uma prioridade estratégica, especialmente após a ascensão do ISIS (o que se confirma pela recusa da Gestão Obama em agir militarmente contra Damasco).

Uma vez que o posicionamento Obama se fundamentou sobretudo na primazia da defesa mais pragmática de interesses vitais estadunidenses no Oriente Médio em restrição da busca irrestrita pela proteção de valores - como a democracia e os Direitos Humanos -, bem como de operações militares de grande escala, notou-se também que a atuação Obama se alicerçou em três posturas fundamentais: : i) ataques aéreos regulares por meio da coalizão internacional contra alvos estratégicos específicos do Estado Islâmico, objetivando o enfraquecimento do grupo; ii) suporte e apoio - por meio do envio de armamento e material militar leve, e de um número restrito de forças especiais estadunidenses com o objetivo exclusivo de treinamento, auxílio e aconselhamento militar – a grupos de oposição considerados “moderados” – não fundamentalistas -, qualificados por Washington como as forças responsáveis pelas operações terrestres contra o ISIS; e iii) trabalho de articulação militar e de inteligência com parceiros regionais, como Países do Golfo, Jordânia e Turquia.

Ante a tal estratégia, percebeu-se também o benefício gerado aos Estados Unidos por diversos atores estatais e não-estatais envolvidos no conflito sírio: curdos, aliados regionais, rebeldes sírios, além da própria Rússia e do Governo Sírio, se portaram como importantes “pontas de lança” no combate terrestre ao ISIS. Ademais, é relevante notar que Washington, durante a Gestão Obama, optou também pela maior utilização de recursos de poder alternativos – como a construção de capacidades de parceiros regionais, o uso de mecanismos multilaterais e de instituições internacionais, além de canais diplomáticos, por exemplo – e pelo engajamento militar redimensionado na lida de questões delicadas como a crise humanitária, as armas químicas e, por fim, o combate ao Estado Islâmico.

No entanto, como qualquer estratégia, resultados adversos derivaram de tal postura estadunidense. A terceira seção, nesse sentido, almejou identificar as implicações geopolíticas

desse comportamento dos Estados Unidos para as dinâmicas da Guerra da Síria. A partir da caracterização da estratégia Obama para o Oriente Médio como uma estratégia semelhante à de dominância defensiva (MONTEIRO, 2011/12), três implicações geopolíticas da postura norte- americana foram constatadas, resultantes do vácuo de poder decorrente de um comportamento mais limitado da potência unipolar no conflito: i) o fortalecimento de movimentos jihadistas em solo sírio, ii) o fortalecimento da Rússia na região, e iii) a maior participação de potências regionais – sobretudo Arábia Saudita e Irã - no conflito por meio de proxy wars.

Ante ao exposto, concluiu-se, por fim, que todas as três questões dificultam ainda mais a resolução da Guerra da Síria: os resultados do comportamento do unipolo frente ao conflito teriam sido, em última instância, o encorajamento da continuidade dos conflitos, o aumento das incertezas e o afastamento de uma solução para as clivagens internas da Síria.

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