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As conclusões principais sobre a dinâmica sedimentar e pedogênica das áreas de lençóis de areia eólica estudadas nesta tese são:

a) Dentre os principais fatores que governam a sedimentação em lençóis de areia eólica em detrimento da formação de dunas com faces de avalancha, destacados por Kocurek e Nielson (1986), na Formação Marília assumem especial importância a presença de cobertura vegetal e a disponibilidade de clastos de granulação superior a areia grossa para a sedimentação eólica. Na área de La Salina, a vegetação somada a filmes de lama e cimentação superficial oriundos de inundações periódicas do lençol freático preponderam sobre os demais fatores;

b) A pedogênese em lençóis de areia eólica é restrita a momentos nos quais a superfície morfodeposicional encontra-se estabilizada. As condições ideais para a estabilização da superfície ocorrem em momentos de diminuição do aporte e regulação sedimentar (efluxo equivalente ao influxo) e em situações de aumento da densidade vegetacional. Na Formação Marília, as duas condições se manifestaram em períodos de maior umidade atmosférica e permitiram o desenvolvimento de perfis espessos de solos. Em La Salina, apesar de parte da superfície do lençol ser coberta por vegetação, esta não é suficientemente extensa para criar uma condição de estabilidade da superfície. As altas taxas de sedimentação que caracterizam a área são responsáveis pela não interrupção dos processos sedimentares e assim não geração de condições favoráveis ao desenvolvimento de solos. Provavelmente, durante a deposição da Formação Marília, houve concomitância entre a diminuição do aporte sedimentar e o aumento da cobertura vegetal, pois não há registros que assegurem a existência de um paleoclima mais úmido na formação estudada que o vigente em La Salina;

c) A construção do sistema eólico foi diferenciada nas duas áreas. Na Formação Marília, o suprimento primário de sedimentos foi alogênico, proveniente de rios que fluíram durante fases paleoclimáticas mais úmidas, e secundariamente houve significativa contribuição autogênica, derivada de erosão de porções superficiais de perfis de solos durante as fases mais secas. Em La Salina, o suprimento sedimentar é originado por deflação de morros conglomeráticos neogênicos que afloram a oeste da área. A deflação gera significativa quantidade de areia que alimenta o sistema eólico, deixando os morros compostos por pavimentos de deflação de granulação superior a areia muito grossa.

A disponibilidade de sedimentos para o transporte e deposição eólica foi controlada na Formação Marília pela extensa cobertura vegetal e elevação temporária do nível do lençol freático nos canais fluviais, durante as fases paleoclimáticas mais úmidas e por cimentação de horizontes de solos, nas fases mais secas, que limitaram a atividade de deflação às porções superficiais dos solos. Em La Salina, a disponibilidade não deve ter sido um fator limitante à construção do sistema eólico, tendo em vista que a deflação dos morros neogênicos depende da capacidade de transporte dos ventos, que não representa um fator limitante. A distribuição desigual das precipitações, com grandes volumes de chuva concentrados em períodos curtos, favorece também a rápida infiltração e o escoamento superficial da água num substrato predominantemente arenoso, não possibilitando o encharcamento da superfície e diminuindo, assim, o tempo de adesão capilar das areias.

A capacidade de transporte pelo vento é função de sua força e independe da disponibilidade sedimentar. Na Formação Marília, a capacidade de transporte foi considerada como um fator limitante à construção do sistema eólico apenas em circunstâncias nas quais o potencial de transporte eólico se equivaleu a capacidade realizada de transporte, situação que ocorreu em momentos nos quais o suprimento de sedimentos foi gerado a uma taxa maior que a capacidade de transporte dos ventos (cf. Fig. 21, Basilici e Dal’ Bo, 2009, Sed. Geol.). A ausência de dados sobre a capacidade de transporte e o regime dos paleoventos impossibilitou uma análise mais refinada dessa variável. Em La Salina, a análise de dados climáticos dos últimos 37 anos revelou que a capacidade de transporte pelo vento não tem sido um fator limitante à construção do sistema eólico, tendo em vista que a velocidade limiar para o transporte tem sido alcançada periodicamente, principalmente nos meses de verão (cf. Fig. 3F, Dal’ Bo e Basilici, 2011, Sed.

Geol., em submissão);

d) Os mecanismos de acumulação, responsáveis pela formação de corpos geológicos tridimensionais, também foram diferenciados nas duas áreas. Na Formação Marília, ao decorrer de fases paleoclimáticas mais úmidas, a superfície de acumulação foi controlada pelo aumento da cobertura vegetal e consequente formação de perfis de solo que estabilizaram a superfície. Durante as fases mais secas, a superfície de acumulação foi erodida por deflação e decaiu até o nível de desenvolvimento de horizontes cimentados nos solos (Bk e Bkm) mais resistentes à deflação ou foi controlada pela regulação sedimentar eólica nas áreas caracterizadas por depósitos ou por solos que não desenvolveram horizontes cimentados. Em La Salina, a

acumulação de estratos sedimentares está ligada a fatores localizados e intermitentes de estabilização da superfície de acumulação. A vegetação é o principal agente estabilizante e atua como um obstáculo natural à livre circulação de ventos saturados ou subsaturados em sedimentos, permitindo a acumulação localizada de sedimentos em suas zonas de sombra. O desenvolvimento de estruturas radiculares atua também na fixação e manutenção desse sedimento preso ao substrato e assim possibilita a elevação da superfície de acumulação no tempo. Corpos lamíticos e cimentação superficial por sulfato de cálcio são outros agentes estabilizantes, que estão relacionados às inundações periódicas ocasionadas por elevação temporária do nível do lençol freático em períodos de maior precipitação atmosférica. A atuação dos agentes estabilizadores aumenta o potencial de preservação dos depósitos, porém, como a atuação desses agentes na natureza é transitória, uma vez eliminadas as condições que permitem a estabilização, a acumulação estará sujeita à erosão e até à sua completa destruição, não deixando vestígios no registro sedimentar;

e) A incorporação da acumulação e consequente preservação do sistema eólico no registro sedimentar da Formação Marília ocorreu por subsidência tectônica, que criou o espaço de acomodação, e por progressivo soterramento dos corpos geológicos, que foram sujeitos a diversas fases de construção, destruição e estabilidade do sistema deposicional. Em La Salina, a porção preservada do sistema eólico possui espessura mínima de 4 m, e sua incorporação no registro sedimentar tem sido favorecida por altas taxas de criação de espaço de acomodação, em uma região tectonicamente ativa, e por altas taxas de sedimentação, que propiciam o contínuo soterramento dos corpos geológicos.

No documento PATRICK FRANCISCO FÜHR DAL BÓ (páginas 31-35)

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