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Chega o momento de concluir o meu testemunho acerca da experiência no EP e são sentimentos contraditórios que me acercam. Por um lado, um enorme orgulho e satisfação por terminar a minha formação inicial, por outro, começa já a fazer-se sentir uma saudade dos momentos de alegria, de conquista, de sucesso e, por estranho que pareça, de dificuldade. De facto, foi nos momentos de dificuldade que pude realmente ficar a saber daquilo que sou capaz. Foram as dificuldades que me permitiram transcender e tornar-me melhor e mais forte. Sei, contudo, que as dificuldades não vão ficar por aqui… e ainda bem, pois são elas que munem de valor as nossas vitórias.

Uma das dificuldades iniciais que afrontou no início do EP foi o facto de ainda não me sentir professor. Talvez por excesso de humildade, pensava para mim próprio que os alunos iriam olhar para mim como alguém ainda sem capacidade para os liderar uma vez que ainda não tinha terminado a minha formação. Esta dificuldade originou a que sentisse dificuldades em controlar a turma, porém, com a ajuda e o apoio do PC, ultrapassei esta dificuldade e comecei a sentir-me mais professor e menos estudante.

A exigência do PC em que os “estagiários” fossem tratados como colegas, estimulando também a nossa intervenção e participação nas diversas atividades, discussões, não só de NE, mas também nas reuniões de Grupo de EF e de Conselho de Turma e até nas conversas informais e momentos de confraternização, modificaram a imagem que eu tinha de mim próprio. A este respeito, Batista e Queirós (2013) referem que o EE torna-se membro da comunidade educativa, conhecendo os contornos da profissão, quando é inserido nos espaços reais. Foi a partir deste momento que comecei a “viver a escola” e a não me sentir pressionado pelo medo de errar. Não quero com isto dizer que deixei de me sentir nervoso nos momentos precedentes ao início da aula e, muito menos, que me tornei menos preocupado com a tarefa de ensinar. Aliás, o nervosismo antes de iniciar a aula foi uma constante ao longo de todo o EP, contudo, a partir do momento em que os alunos começavam a chegar ao

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local da aula, talvez por quererem sempre partilhar alguma novidade e me levarem a esquecer o nervosismo, sentia-me confortável na pele de professor.

Tal como refere Batista (2014), são as tarefas inerentes ao processo de ensino e aprendizagem, sobretudo, as interações que se estabelecem com os alunos que mais marcam os EE. Segundo a mesma autora, os alunos são o centro do investimento dos EE, portanto, as minhas decisões foram sempre tomadas com base nas necessidades dos meus alunos. Se o contexto fosse diferente, certamente que as minhas decisões tinham sido outras e o resultado do meu EP teria sido completamente diferente. Não existem decisões totalmente certas nem totalmente erradas, existem sim contextos que exigem tomadas de decisão conscientes e refletidas. Uma boa decisão num contexto pode não o ser num contexto diferente. Como tal, procurei sempre orientar as minhas decisões no sentido de promover o sucesso dos meus alunos. Neste sentido, a reflexão surge como instrumento essencial na execução desta tarefa, pois é nela e através dela que imaginamos como será ou recordamos como foi a nossa ação. O facto de ter estado envolvido no Desporto Escolar e na Direção de Turma facilitou a minha adaptação à cultura da escola e permitiu uma melhor compreensão do contexto em que estava inserido. Ao ter uma participação ativa no DE, pude sentir o significado que a ginástica tem na comunidade educativa. Já o acompanhamento da DT permitiu-me recolher mais informações sobre os meus alunos, sobretudo relativamente ao seu desempenho académico e ao seu contexto familiar, de forma a adequar a minha atuação perante cada um deles.

Para além disso, também os professores com quem convivi e partilhei dúvidas, tiveram um papel importante na minha ação pedagógica. A aplicação de estratégias por eles sugeridas ou o facto de não me rever em algumas delas, contribuíram para formação da minha identidade enquanto professor. Todavia, considero que este processo nunca ficará finalizado porque os contextos serão sempre diferentes e, consequentemente, as minhas opções/decisões serão sempre diferentes.

Desta forma, a elaboração deste RE possibilitou o relato daquelas que considerei serem as aprendizagens, vivências, dificuldades e inseguranças mais marcantes ao longo do meu EP.

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A possibilidade de vivenciar a minha prática pedagógica numa escola que me marcou enquanto aluno, tornou este desafio mais aliciante e prazeroso. O contacto com pessoas que tinham sido meus professores e agora foram meus colegas, as sensações múltiplas vividas no ambiente de aula e fora de aula, a capacidade para entender algumas atitudes dos alunos por também tê-lo sido há pouco tempo e a dificuldade em entender outras por não me rever nas mesmas, a alegria por conseguir ensinar os alunos a realizarem coisas que até então julgavam não conseguir e a frustração de, por vezes, não o conseguir, são recordações que guardarei para sempre.

O culminar deste EP torna-se, simultaneamente, na possibilidade de iniciar o sonho de ensinar e partilhar a minha experiência através de algo que sempre me fascinou, a EF e o Desporto. Digo “possibilidade” de iniciar o sonho porque reconheço que o atual panorama do ensino não é motivador e, muito provavelmente, ficarei impedido de lecionar em contexto de escola por algum tempo. Não sei o que o futuro me reserva, contudo, posso garantir que a minha ligação ao Desporto será mantida. Assim, as minhas perspetivas futuras mais imediatas, baseiam-se na aquisição de experiência na área do Desporto, onde tentarei continuar a minha formação enquanto treinador de futebol, sempre na expectativa de conseguir uma colocação numa escola que se reveja numa política de promoção da disciplina de EF

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