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O trabalho mostrou que a tendência de concentração da indústria esmagadora de soja, já identificada em trabalhos referentes à década de 90, acentuou-se no início da década de 2000. Este efeito foi captado tanto pela parcela de mercado das quatro maiores empresas (CR4) quanto pelo índice H de concentração de mercado. Neste último caso, o grau de concentração verificado equivale à redução do número de firmas iguais de 20 para 13, entre os anos de 1993 e 2003. Naturalmente, tal processo aumenta o poder de mercado da indústria esmagadora, o que depende, também, de outras características do mercado, tais como o grau de diferenciação do produto e a existência de barreiras à entrada de concorrentes.

Esse poder de mercado pode ser exercido tanto na compra de soja em grão, uma vez que as processadoras e traders tendem a ser “tomadoras de preços” no mercado internacional de derivados de soja (óleo e farelo). Dessa forma, o poder monopsônico se manifestaria por meio do pagamento de preços menores aos produtores de soja, nos mercados em que a concentração fosse maior.

Além do efeito da concentração, os preços recebidos pelos produtores tenderiam a ser maiores em localidades mais próximas do mercado consumidor ou do porto de exportação. Para captar esse efeito, uma alternativa é incluir, nas análises de regressão, as distâncias entre os mercados locais e os portos de embarque.

Por último, examinou-se o efeito da capacidade ociosa da indústria, sob o argumento que mercados com maior capacidade ociosa teriam maior preço pago ao produtor, devido à concorrência da indústria pela matéria-prima, e preços maiores de derivados, devido ao repasse de preços por parte da indústria.

Os resultados da análise do poder de mercado deram suporte à hipótese de exercício de poder monopsônico na compra de soja em grão. Além disso, ainda em relação ao mercado de soja em grão, tanto a capacidade ociosa, quanto a distância entre os estados e os portos, mostraram-se significativas e apresentaram os efeitos esperados.

Portanto, os resultados sugerem que tem sido viável, para as empresas processadoras, o exercício de poder de mercado em relação aos produtores de soja. Além disso, o fato de o exercício de poder de mercado estar sendo restringido nos mercados em que há maior capacidade ociosa por parte da indústria, sugere que o exercício de poder se dá de maneira mais intensa onde os processadores possuem maior poder de barganha em relação aos produtores de soja. Neste sentido, estratégias de ação conjunta na comercialização de soja em grão, via cooperativas ou outras formas de parcerias entre os produtores, poderia ser uma forma eficaz de confrontar o crescente aumento de poder da indústria esmagadora.

Finalizando, embora importantes conclusões tenham sido obtidas neste estudo, não se pode deixar de ressaltar as limitações inerentes ao trabalho executado. Inicialmente, o fato de se fazer uma análise de corte-seccional de um único ano, reduz o poder explicativo das estimações. O ideal seria o uso de estimações em painel, misturando cortes-seccionais e séries temporais, para vários anos. Isto, porém, tornou-se impossível pela indisponibilidade de dados anuais de capacidade de esmagamento. Mas como os resultados obtidos neste trabalho foram coerentes com as hipóteses e com os que haviam sido obtidos por AGUIAR e LEISMANN (2001), para o ano de 1997, fica-se com maior segurança para generalizá-los. Outra limitação, bastante séria, diz respeito à definição da variável distância, em que se usou a distância entre os portos e as capitais, e não a distância entre os portos e as regiões produtoras de cada estado. Por último, deve-se reconhecer que os mercados não se restringem a estados, uma vez que muitas regiões produtoras encontram-se próximas a

divisas estaduais e o processamento poderia ocorrer em outros estados. Mais uma vez, a opção metodológica decorreu da indisponibilidade de dados. Entretanto, a expectativa é de trabalhos futuros que possam remover algumas das limitações aqui defrontadas, venham a fornecer evidências ainda mais precisas sobre o uso, ou não, de poder de mercado na indústria brasileira de soja.

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APÊNDICE

Tabela 1A - Variáveis utilizadas nas regressões (dados de 2003)

Estados do Brasil CR4 H CAOC (%) DIST (km) em grão recebidos pelos Preços médios de soja produtores (US$/t)

Paraná – PR 33,20 0,056 4,58 285 200,74

Rio Grande do Sul – RS 45,60 0,082 (38,88) 416 200,78

São Paulo – SP 63,40 0,134 67,74 257 195,71

Mato Grosso – MT 73,90 0,171 (227,89) 1.734 168,19

Goiás – GO 68,20 0,149 (101,20) 1.143 173,61

Mato Grosso do Sul – MS 56,30 0,116 (53,39) 1.779 182,52 Minas Gerais – MG 100,00 0,375 (11,14) 914 179,22

Bahia – BA 100,00 0,621 18,01 1.288 172,50

Santa Catarina – SC 91,80 0,245 51,01 25 197,20

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