• Nenhum resultado encontrado

Ao término desta etapa de estudos, no Curso de Especialização em Gestão Educacional, convivo com dois sentimentos, um marcado pela satisfação e outro de pesar, pela necessidade que ainda sinto em aprofundar os estudos sobre o campo da legislação educacional, os pressupostos teóricos da gestão escolar e de tantos outros que fazem parte do contexto da Educação Básica. Hoje, reitero, com muito mais convicção, o quão se faz necessário o processo de estudo e reflexão dos/as gestores/as escolares, principalmente dos/as coordenadores/as pedagógicos/as, em razão das suas atribuições na viabilização e articulação do trabalho didático- pedagógico junto aos professores.

Assim, ao findar este processo, entendo que há urgência em materializar muitos Artigos contemplados em Lei, principalmente os que são intrínsecos à gestão democrático- participativa, para a escola efetivar com êxito suas finalidades. Nesse sentido, considero extremamente significativo pontuar a participação como elemento-chave nessa concepção de gestão escolar em razão da sua abrangência e das possibilidades geradas através do envolvimento e do compromisso efetivo de todos nos processos de ensino e aprendizagem.

No decorrer do processo de leitura dos pressupostos teóricos relativos à participação, pude constatar o quanto ainda estamos efetivamente distantes da compreensão e concretização dessa perspectiva no contexto da Educação Básica. Infelizmente, ainda prepondera a noção de participação reduzida à tomada de decisões no tocante às eleições de diretores, e muitos aspectos relacionados diretamente aos processos de ensino e aprendizagem são contemplados de forma superficial, sem ocorrer superação de modelos tradicionais de ensino e aprendizagem e, consequentemente, de avaliação. Ouso afirmar que há muito discurso em defesa da participação, o que é muito significativo, no entanto, o processo de construção de objetivos e metas, de envolvimento e a tomada de decisões, conforme a dimensão de participação, ainda são relegados à mera representação.

A partir do percurso de pesquisa desenvolvido, foi possível inferir maior significado e abrangência ao conceito de participação e perceber o quanto ainda a escola de Educação Básica precisa avançar para efetivar na prática seu ideal para além da escolha da direção. Isso significa reiterar que a participação é um princípio

da gestão democrático-participativa, e sua opção determina a necessidade de a escola definir objetivos coletivos e compartilhar dos mesmos. Isso implica na co- responsabilidade e o compromisso do trabalho em equipe.

Através dos textos contemplados e analisados no decorrer desta pesquisa bibliográfica, foi possível conhecer e compreender a concepção de gestão escolar democrático-participativa e refletir se a mesma se configura no contexto da Educação Básica. Ouso afirmar que essa dimensão ainda requer uma compreensão ampla por parte dos/as gestores/as escolares, visto que persistem algumas formas de gestão baseadas em ações deliberativas e consultivas, sem contudo haver maior expressão e valoração da participação como eixo articulador das mudanças.

Entendo que a questão da qualidade da escola no contexto da sociedade contemporânea, está diretamente vinculada às características dos processos de ensino e aprendizagem, os quais são intrínsecos ao exercício da profissionalidade docente. São aspectos interligados e necessitam de maior rigor de estudo e investigação, a fim de se evitar a análise dos resultados quantitativos, expressos a partir de critérios econômicos. Reitero, com veemência, a importância da compreensão epistemológica dos sentidos da profissionalidade docente e o quanto se faz necessária a superação das práticas educativas tradicionais.

O exercício da profissionalidade docente é o elemento-chave para a construção dos processos de ensino e aprendizagem fundamentados na concepção da gestão democrática. Isso significa que os/as professores/as conscientes de suas atribuições têm plenas condições de propiciar o que é necessário para os/as educandos/as realizarem os processos de aprendizagem com qualidade. Dessa forma, é possível entender a complexidade das finalidades da escola no contexto contemporâneo e o quão se faz necessária a superação de certos paradigmas em relação à aprendizagem.

Ensinar e apender fazem parte do processo do exercício da profissionalidade, portanto estão interligados e se desenvolvem sincronicamente. Por isso, a almejada qualidade de ensino precisa ser analisada mediante essa concepção, além da superação da interpretação dos dados quantitativos. Em suma, existem outros aspectos que precisam ser mediados na análise dos aspectos qualitativos da escola brasileira, mas a clareza em relação ao poder de interferência dos organismos internacionais na condução das políticas públicas é fundamental a fim de evitar interpretações superficiais.

65

Nesse sentido, cabe destacar que existe uma série de questões circunscritas à fragilidade do processo de construção do ideal da gestão democrático- participativa, algumas são vinculadas às políticas educacionais, que sofrem pressões dos organismos internacionais; outras, relacionadas à incapacidade dos gestores dos sistemas educacionais em levar adiante as boas iniciativas construídas, principalmente, pela maneira como se articulam as reformas (predominam as reformas de caráter provisório, entendidas como políticas de governo, em detrimento das políticas de Estado). São questões que implicam a construção de mudanças necessárias ao âmbito da Educação Básica, em especial à escola pública, contexto no qual as políticas de governo exercem grande poder de influência. Em síntese, há uma pressão muito grande pelo desmantelamento do Estado como agente público e a interferência das políticas de regulação, conforme os ditames do mercado.

Dessa forma, é imprescindível aos profissionais da educação compreenderem as questões envolvidas nas políticas educacionais e, assim, exercerem de forma crítico-reflexiva suas atribuições. Essa questão é urgente face às demandas dos/as educandos/as no contexto da sociedade da informação. É impossível acreditar que as práticas educativas tradicionais baseadas na transmissão e repetição de conteúdos e de um modelo de avaliação meramente quantitativo possam responder às finalidades da educação no contexto século XXI.

Assim, é de suma importância que os gestores escolares, através da articulação da coordenação pedagógica, mobilizem os/as professores/as para a materialização da gestão democrático-participativa. Essa perspectiva atribui significado à escola como um espaço-tempo de aprendizagem e articula todos, principalmente os/as gestores/as escolares, na assunção de suas atribuições, tendo, como centralidade do processo, os/as educandos/as. Assim, a coordenação pedagógica envolve os/as professores/as na construção de ações que objetivem a concretização das finalidades da escola no contexto contemporâneo, o que torna imprescindível o exercício da liderança. A capacidade em exercer a liderança não é tarefa fácil e exige abertura mediante processo permanente de reflexão e articulação para congregar o coletivo à participação, ao planejamento de ações e à definição de objetivos comuns.

Hoje, compreendo, de forma crítica, as razões da fragilidade dos princípios democráticos na maneira de conduzir as decisões nas instituições brasileiras, ao

perceber nossa tradição histórica fortemente marcada pela participação restrita e de cunho representativo. E afirmo com total convicção, que temos muito ainda a aprender em relação ao exercício da participação de acordo com os pressupostos teóricos da concepção de gestão democrático-participativa. Acredito veementemente na necessidade de superação da concepção de participação restrita à escolha do/a diretor/a de escola e às decisões de alguns segmentos de caráter consultivo e ou deliberativo. De maneira geral, os/as professores/as atuam mediante as orientações dos sistemas de ensino, sendo parco o envolvimento à desconstrução dos modelos tradicionais de ensino, fortemente marcados pela rigidez disciplinar e curricular. Creio em que uma das (des)aprendizagens realizadas foi de fato reconhecer o quão são restritas a compreensão das concepções de gestão democrática no contexto da Educação Básica e a relevância do trabalho do/a coordenador/a pedagógico/a para a superação de tais aspectos.

A gestão democrático-participativa implica a assunção de sujeitos pensantes, reflexivos e intelectualmente autônomos, características ainda distantes da maioria dos profissionais que atuam na Educação Básica, em especial no contexto deste estudo, da rede pública de ensino. Enfim, os desafios a serem superados são complexos e demandam rupturas extremamente sérias, principalmente por parte dos gestores educacionais, que muitas vezes prescrevem pareceres, resoluções na força do “canetaço”, sem um rigor no acompanhamento e sem avaliação criteriosa das medidas implementadas.

Portanto, é inexequível qualquer mudança no contexto da escola sem a compreensão de todas as implicações políticas e econômicas inscritas nas politicas educacionais. Além do mais, os profissionais da educação, principalmente os/as gestores/as escolares, precisam estar imbuídos do seu papel político em uma sociedade desigual e extremamente injusta, e colocar seus serviços em prol da construção do ideário de gestão democrática. Isso significa a superação de um modelo de ensino centrado na transmissão e repetição de conteúdos e na avaliação baseada na seleção e exclusão.

O desafio que se perfila é justamente caminhar na direção da perspectiva da gestão democrático-participativa, que precisa ser redimensionada e materializada, deixando de ser um ideal prescrito em forma de lei. Cabe a todo aprofundar os conhecimentos sobre as finalidades da escola no contexto contemporâneo e assumir seu papel como agente, articulador de mudanças. Assim, a participação

67

envolve todo um processo de pensar a escola a partir de seus sujeitos, em definir ações e estratégias com vistas a atingir suas finalidades, conforme as orientações legais e as demandas locais. Para tanto, os gestores escolares precisam articular suas ações a partir desses critérios e ter muito presente a especificidade de suas atribuições, para, então assumir efetivamente o compromisso nos processos de ensino e aprendizagem e efetivar com êxito, o papel da escola no contexto contemporâneo.

ALARCÃO, I. Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

ARAUJO, S. C.L.G. Ser professor coordenador pedagógico: sobre o trabalho docente e sua autonomia. Dissertação de Mestrado. Disponível na biblioteca digital UFMG, 2007.

ARROYO, M. Ofício de Mestre: imagens e autoimagens. 13. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

_____. Outros sujeitos, outras pedagogias. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. AURÉLIO. Dicionário on line. Disponível em: <http://www.dicionario.com.br>. Acesso em 28 out.2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal., 2013.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da

Educação Básica. Brasília: MEC, 2013.

_____. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília, 1996. CANARRO, P.; DAYRELL, J. (org.). O jovem como sujeito do ensino médio. Curitiba: UFPR/ Setor de Educação, 2013.

DEMO, P. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

DUARTE, R. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos

de pesquisa, n. 115, p. 139-154, mar. 2002. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/cp/n115/a05n115>.

FERREIRA, L.S. Gestão da escola: o projeto pedagógico, o trabalho e a

profissionalidade dos professores. Educação em Revista, Marília, v. 8, n. 1. p. 35- 48, 2007.

_____. Trabalho dos professores na escola: por que gestão do pedagógico?

Educación y Educadores, v. 12, n, 2, p. 145-156, ago. 2009.

_____. As professoras e os professores como autores de sua professoralidade: a gestão do pedagógico em aula. Revista de política e Administração da

Educação, Porto Alegre: v.13, n1, ste. Dez.2009.

FERREIRA, N. S. C. (Org.) Políticas públicas gestão da educação: polêmicas, fundamentos e análises. Brasília: Líber Editora, 2007.

69

FLECHA, R.; TORTAJADA, I. Desafios e saídas educativas na entrada do século. In. IMBERNÓN, F.(org.) A educação no século XXI: Os desafios do futuro

imediato. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

_____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 1996. ______. Pedagogia da indignação. Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000.

FREITAS, A. L.S. Pedagogia da conscientização: um legado de Paulo Freire à formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

GADOTTI, M. Reinventando Paulo Freire no século 21. In: TORRES,C.A (et al.).

Reinventando Paulo Freire no século 21. São Paulo: Editora e Livraria Instituto

Paulo Freire, 2008.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. IMBERNÓN, F. (org.) A educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

_____. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010. LIBÂNEO, J.C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2001.

LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J.F.; TOSCHI, M.S. Educação escolar: políticas, estruturas e organização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

LÜCK, H.; FREITAS, K.S.; GIRLING, R.; KEITH, S. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

LÜCK, H. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

_____. Liderança em gestão escolar. 6. ed. Petrópolis: RJ. Vozes, 2010. (Série Cadernos de Gestão).

MINAYO, C. S.; DESLANDES, S.F.; GOMES, R. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 25. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

NEVES, C. M. de C. Autonomia da escola pública: um enfoque operacional. In: Veiga, Ilma Passos A. (Org.). O projeto político-pedagógico e a organização do

trabalho da escola. Campinas, Papirus, 1998.

OLIVEIRA, D.A.; ROSAR, M.F.F. Política e gestão da educação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

OLIVEIRA, D. A. A real identidade do coordenador pedagógico no espaço escolar.

Revista Educação em foco. Disponível em: <blogspot.com/2012/11 sumario-

1.html>. Acesso em 15 set.2015.

OLIVEIRA, D. A. (Org.). Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos. 10ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

SILVA, J. R.P.; ALMEIDA, C.D.; GUINDANI, F. Pesquisa documental: pistas

teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História e Ciências Sociais, ano I, n. 1, jul.2009,

TENAZI, T.C.R. As interfaces da pesquisa etnográfica na educação. São Paulo, 2004.

VEIGA, I. P.A. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, I.P.A Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 14. ed. Papirus, 2002.

VIEIRA, S. L. Política (s) e gestão da educação básica: revisitando conceitos simples. 2005.

WELLER, W.; PFAFF, N. (org.). Metodologia da pesquisa qualitativa em

Documentos relacionados