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A política nacional de recursos hídricos (lei nº 9.433/97) confere à água a importância de um bem de domínio público, de valor econômico, limitado, em que o uso prioritário é o consumo humano e que deve, sempre que possível, ter usos múltiplos.Além disso, no seu artigo 5º, inciso IV, definiu como o seu instrumento mais importante a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.Estabelece que a cobrança pelo uso da água deve incentivar o seu uso racional, sinalizar ao usuário o seu real valor e reconhecer a água como bem econômico, ou seja, a cobrança teria dois aspectos:i) como instrumento de gestão em que indica ao usuário o real valor econômico da água e ii) como elemento gerador de receitas para o financiamento de programas e intervenções visando o desenvolvimento, recuperação e proteção da água.

O uso de instrumentos econômicos na política de recursos hídricos, no Brasil, tem se defrontado com sérios dilemas. De um lado temos a utilização deste instrumento com viés de geração de receita, o que reduz a eficácia de seu objetivo de modificar o comportamento do usuário da água, visando reduzir seus consumo perdulário. Arnah et al (2005,p.1)

Como instrumento arrecadador, os valores cobrados de cada agente poluidor devem ser suficientes para cobrir os custos de reverter a poluição. Nestes termos, o artigo 22 da lei 9.433/97, estabelece que os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água serão utilizados: I – no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos planos de recursos hídricos: II – no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativos dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. O dinheiro obtido com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, deve ser canalizados para ações na recuperação da própria bacia arrecadadora, como recomposição das matas ciliares, controle de poluentes, educação ambiental, entre outras. Contudo, os valores propostos nos principais estudos brasileiros situam-se em valores tão baixos que não diminuiriam a quantidade consumida pelos usuários. Além disso, para viabilizar

a implantação da cobrança o valor também deve ser para não afetar os custos dos demandantes.

Como instrumento de gestão, tem como objetivo estimular o uso racional da água. Conscientizando a sociedade a estabelecer controle sobre os níveis de poluição, os excessos ou desperdícios de usuários. A lei de cobrança pelo uso da água, não é apenas um instrumento de geração de receitas, mas um instrumento de gestão para induzir a quem polui a deixar de fazê-lo. Neste caso, como instrumento gerenciador de demanda, e não para recuperar custos ou financiar investimentos, o seu valor deve ser estabelecido através de critérios econômicos, mesmo considerando as dificuldades práticas e teóricas.A análise da função demanda e de sua elasticidade indicariam o preço que induziria o usuário a diminuir o consumo, bem como o percentual de redução.

Observa-se, no entanto, que para cumprir sua finalidade de instrumento de gestão, não se pode estabelecer um limite baixo de cobrança para os usuários poluidores e perdulários dos recursos hídricos. Pois, se o valor cobrado a estes usuários for menor do que o custo de instalar, por exemplo, unidades de tratamento, estes agentes não mudarão o seu comportamento em relação à utilização da água, continuando a poluir este recurso natural e a lei, ficaria, apenas, no seu aspecto arrecadatório.

Desta forma, os valores arrecadados de cada usuário devem ser suficientes para cobrir os custos de reverter a poluição. Para isso, todos os recursos arrecadados deverão, obrigatoriamente, ser aplicados na própria bacia de origem, com vistas a aumentar o fornecimento de água tratada, o tratamento e a coleta de esgotos.

No caso da sub-bacia do rio de Ondas, a cobrança pelo uso da água se reveste de grande importância e de repercussões nos agentes envolvidos. Cerca de 98,26% da demanda hídrica da sub-bacia é da agricultura irrigada. A sua institucionalização, sem dúvidas, possivelmente, acarretará alterações nos custos de produção dos agricultores irrigantes desta sub-bacia, conforme índica este trabalho.

As simulações realizadas para as principais culturas agrícolas, mesmo considerando que a estimativa de demanda de água para culturas irrigadas apresenta sérias dificuldades, indicaram que a cobrança na sub-bacia do rio de Ondas, com o modelo CEIVAP, é viável, desde que respeitados os impactos econômicos estabelecidos como critérios de validação deste modelo.

A estimativa do potencial de arrecadação pela cobrança dos recursos hídricos, via modelo CEIVAP, com os três níveis de preços utilizados, permitiria a realização de obras de melhoria no sistema de abastecimento, como a prevista no Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água, desde 1995.

Para as 08(oito) culturas, apenas para a pastagem no nível de preço de R$ 0,0500 supera o limite superior sugerido de 0,5% nos custos de produção por hectare, ficando em 0,57%,ou seja, as demais simulações situaram-se abaixo de 0,5% dos custos/há. Ressalte-se que culturas com alto valor agregado, como as cultivadas na sub-bacia, e com técnicas de irrigação eficientes tendem a apresentar elasticidade menores que possam viabilizar a cobrança pelos recursos hídricos.

Para o setor de abastecimento humano o impacto sobre os custos da conta de água, na faixa de valores de R$ 0,0300 e R$ 0,0500, supera o limite de 0,5%, situando-se em 0,58% e 0,96%, o que penaliza os segmentos usuários de mais baixa renda.

Recomenda-se aprimorar os impactos calculados neste trabalho, através de um levantamento de dados junto ás unidades produtivas usuárias dos recursos hídricos, com vistas a obter dados primários de receitas, demanda de água regional por cultura, investimentos, amortizações, produção e outras variáveis relevantes em termos de impacto sobre os mananciais da sub-bacia. Sugere-se, ainda, que a implantação da cobrança pelo uso da água se dê de maneira gradual e com valores baixos de modo a facilitar a sua aceitação.

Gostaríamos de destacar algumas questões relevantes, a cerca do tema tratado nesta pesquisa, que poderiam ser objeto de outros trabalhos acadêmicos:

• Qual o comportamento dos agricultores irrigantes da sub-bacia frente à cobrança pelo uso e poluição dos recursos hídricos? A cobrança induziria a mudanças nas técnicas de produção e de irrigação?

• A cobrança pelo uso água modificaria a competitividade dos produtos irrigados nos mercados nacional e internacional, em decorrência do tipo de elasticidade-preço da demanda desses produtos agrícolas?

• Qual a margem potencial de redução do consumo de água através da implantação de um adequado sistema de cobrança na sub-bacia?

Apesar das dúvidas e divergências, a cobrança pelo uso da água é uma realidade e um instrumento indispensável para garantir às gerações futuras o uso de água de qualidade e um meio ambiente protegido. Como se observa, há sinais

claros de desperdício no uso da água, com uma grande margem de redução do consumo através de um adequado valor de cobrança pelo uso dos recursos hídricos nesta sub-bacia. Uma vez cobrados pelo volume que captam, esses usuários passariam a ter um comportamento mais parcimonioso na utilização da água.

Por fim, consideramos que este trabalho representa uma pequena contribuição à discussão sobre a gestão econômica dos recursos hídricos na sub- bacia do rio de Ondas a qual deve contemplar não só a função de mercado como também a função social das águas para a população da área de influência da sub- bacia.

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