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5.1 - Pronunciamento Global sobre a Convenção

A forma como a Espanha, ao longo dos anos, tem vindo a utilizar, no seu território e nos troços internacionais, os recursos hídricos das bacias luso-espanholas, tanto no que se refere aos aspectos de quantidade como aos de qualidade da água, e a forma como tem estado a planificar a sua utilização futura, em diversos casos ao arrepio mesmo dos tratados e convenções bilaterais já existentes e do direito comunitário e internacional aplicável, tem vindo a causar justa e profunda preocupação no nosso País, dadas as implicações progressivamente mais negativas que tal utilização tem para os legítimos direitos e interesses portugueses.

Neste contexto, e como resulta da exposição feita nos capítulos anteriores, a Convenção em apreciação introduz um quadro técnico-jurídico susceptível de, em alguns casos, suster ou atenuar o agravamento da situação e, noutros casos, criar melhores condições para Portugal defender os seus legítimos direitos e interesses.

Como também resulta da apreciação feita nos Capítulos 3 e 4, a Convenção, em termos dos seus princípios e orientações, apresenta aspectos positivos de grande importância para a defesa dos interesses e direitos portugueses no que se refere ao aproveitamento sustentável das águas das bacias hidrográficas luso-espanholas, especialmente quando comparada com a situação actualmente existente, nomeadamente a que decorre dos Convénios anteriormente estabelecidos com Espanha.

Por outro lado, a Convenção em apreciação deixa em aberto questões fulcrais e, relativamente a algumas matérias, notam-se importantes insuficiências na forma como são abordadas. Entre estas matérias destacam-se as que são reguladas pelo Protocolo Adicional que suscitam justificadas preocupações.

Pelo seu conteúdo e características, a Convenção deve ser considerada como o início ou ponto de partida de um processo de coordenação da gestão e de partilha de águas das bacias luso-espanholas, e não como conclusão desse processo, constituindo uma plataforma de negociação mais favorável para Portugal do que o regime até agora vigente, mas que salvaguarda também as perspectivas e os interesses espanhóis de utilização dos recursos hídricos das bacias compartilhadas com Portugal.

Essa negociação prosseguirá num contexto em que, por um lado, é previsível que se continue a registar uma intensificação do uso da água em Espanha, com as consequentes dificuldades acrescidas para Portugal e, por outro lado, o direito internacional e comunitário deverá continuar a evoluir no sentido de acolher progressivamente um quadro mais protector do país de jusante, designadamente sempre que estiverem em causa valores ecológicos e ambientais.

As virtudes da Convenção e a minimização dos seus aspectos negativos dependerão, em grande medida, da forma como a relação entre os dois países for gerida no futuro, nesta e noutras matérias, e em particular dos esforços portugueses para dinamizar e influenciar a negociação das questões que a Convenção deixa em aberto ou que são prejudiciais para o nosso País.

Neste contexto, resulta clara a necessidade de Portugal tirar pleno partido de todo o espaço negocial que a Convenção permite e continuar, com perseverança e pertinácia, a fazer valer os seus direitos e a defender os seus interesses. Se tal for conseguido, e é imperioso que o venha a ser, julga-se que o balanço global da aplicação desta Convenção será suficientemente equilibrado e positivo para Portugal.

5.2 - Recomendações para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção

Como já foi referido anteriormente, a implementação da Convenção em apreciação constitui um fortíssimo desafio à capacidade de fundamentação e negociação da Parte portuguesa, não

a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção, mas também no âmbito das instâncias políticas e diplomáticas, no sentido da defesa dos interesses portugueses.

É precisamente tendo em vista essa fase de implementação da Convenção que se considera oportuno fazer, desde já, algumas recomendações, sem prejuízo do futuro acompanhamento que o CNA venha a ser solicitado a fazer a essa implementação.

Assim, e para além das recomendações que natural e claramente resultam da exposição feita nos Capítulos 3 e 4, considera-se importante explicitar as seguintes:

1- A composição, estrutura e funcionamento da Comissão e da sua componente portuguesa, pela importância, complexidade e amplitude das atribuições deste órgão na implementação da Convenção, devem merecer uma grande atenção. Neste contexto:

a) as partes podem e devem ser mais ambiciosas do que o definido no texto da Convenção, dando uma frequência maior às suas reuniões, particularmente nos primeiros anos e, eventualmente, constituir um órgão permanente executivo;

b) haverá que discutir e fixar, com muito cuidado, a composição da Comissão e das Sub-Comissões e ou Grupos de Trabalho a criar, bem como dos Grupos de Apoio eventualmente a constituir, assegurando o envolvimento directo ou indirecto, entre outros, dos órgãos de bacia, dos grandes utilizadores, das ONG de Ambiente e Desenvolvimento, das instituições científicas e técnicas, dos órgãos ligados ao ordenamento do território e das populações;

c) no que se refere mais especificamente à componente portuguesa da Comissão, Sub-Comissões, Grupos de Trabalho e Grupos de Apoio, é importante que os seus membros, além de adequada formação, experiência e capacidade, tenham a disponibilidade de tempo necessária para assegurar uma resposta permanente, correcta e eficaz aos desafios que terão de enfrentar; por outro lado, será necessário assegurar também uma boa capacidade de resposta de órgãos, organismos e serviços com

intervenção nos problemas da água, em particular do Ministério do Ambiente, em articulação com os de planeamento e ordenamento do território e de saúde.

2- A Convenção deixa em aberto um conjunto muito importante de questões que deverão ser abordadas e definidas pela Comissão. Por esse motivo é da maior importância que:

a) a Parte portuguesa proponha, logo de início, um programa de trabalhos e um calendário de execução realista que permita o desenvolvimento célere dos trabalhos a realizar. Neste contexto, assume particular relevância e prioridade a definição conjunta do regime de caudais a observar nos rios luso-espanhóis que substitua o regime transitório estabelecido no Protocolo Adicional da Convenção;

b) se proceda à efectiva mobilização dos recursos necessários para uma rápida recuperação do atraso nacional em áreas como a vigilância e controle de qualidade, a gestão coordenada da procura, a conservação e protecção dos recursos naturais, o controle de perdas de água e do desperdício e a programação dos investimentos, de forma a poder dar resposta satisfatória e atempada às referidas questões, com respeito pelos interesses nacionais.

3- No que se refere à permuta de informação entre as Partes, há dois aspectos que merecem particular atenção:

a) a permuta de informação deve incluir o conhecimento recíproco das tecnologias utilizadas por cada Parte, dos códigos de boas práticas agrícolas e ambientais recomendados e dos programas impostos, para controlar as situações mais graves, em zonas vulneráveis ou sensíveis;

b) no que se refere, em particular, à permuta de informação sobre as condições ecológicas das águas transfronteiriças, para que ela seja eficaz é necessário aumentar muito o esforço de monitorização destas condições e também padronizar as respectivas metodologias.

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