• Nenhum resultado encontrado

Após a realização das vistorias as áreas da usina (áreas de canavial) e imóveis circunvizinhos (propriedades rurais afetadas) podemos afirmar que o elevado índice de infestação da mosca do estábulo “Stomoxys calcitrans” ocorrido em agosto de 2008 não é de responsabilidade direta e exclusiva da COPLASA.

De acordo com o relatório técnico emitido pelo Instituto de Veterinária da UFRRJ, nas localidades visitadas, apesar da umidade relativa apresentar-se abaixo da ideal para a reprodução das moscas, a temperatura praticamente apresentava- se na faixa onde o desenvolvimento desta e de outras moscas ocorre sem maiores problemas. Quando se soma a fertirrigação da vinhaça, evidenciado pelos acúmulos dessa substância no canavial e estruturas de distribuição (“pulmões” e canais abertos), associado especialmente ao deficiente manejo da matéria orgânica nas propriedades rurais vistoriadas (esterco, silagem, restos vegetais), vimos fornecidas as condições adequadas para o desenvolvimento não somente da mosca do estábulo “S. calcitrans”, como também da mosca doméstica “Musca domestica”.

Segundo Guimarães (1984), a mosca do estábulo pode criar-se em locais que contenham palha de arroz, de trigo e restos culturais que tenham permanecido no campo por algum tempo, principalmente se estes materiais se encontrarem fermentados ou umedecidos com urina e fezes de gado. As fezes de bovinos, eqüinos, suínos e ovinos podem servir para a criação de “Stomoxys calcitrans”, embora se saiba que estas não são o substrato preferido, a não ser que estejam misturadas a matérias orgânicas vegetais, como é o caso específico dos imóveis vistoriados visto conterem a fezes e resíduos dos cochos (alimentação) imediatamente dispostas ao lado dos locais de maiores concentrações de animais.

Os restos alimentares que ficam debaixo dos cochos e o vinhoto, que é um subproduto da indústria canavieira, podem atrair e estimular a postura desse díptero (Guimarães, 1983). As formas imaturas podem ser encontradas em grandes

quantidades neste substrato, em cochos de confinamento (Skoda et al., 1991) e ao redor de currais, matadouros e restos vegetais (Herrero et al., 1989).

O controle de eficiência de aplicação da vinhaça está sendo promovido pela COPLASA, tanto quanto controle fitossanitário da reprodução do vetor (S. calcitrans), promovendo aplicação sistemática de cal virgem, e os produtos: Abate, Difly WP e Pironim, além da impermeabilização das lagoas de vinhoto, tubulação de vinhoto evitando canais a céu aberto, drenagem das curvas de nível onde possa haver acúmulo de água de chuva e vinhaça, além de movimentação do terreno buscando aplainar as áreas de possível concentração e acúmulo de vinhaça, os quais, pelo efeito das chuvas, acabam por ser tornar poças. Foi observado um bom nível de controle biológico (natural) das larvas, em especial nos locais de maior umidade pela forte presença de aves, conforme fotografias apresentadas.

É recomendável que, nos locais onde existem maior incidência de aves, seja evitada a aplicação de produtos químicos para controle das larvas, pelo risco de contaminação destas aves. Recomenda-se a aplicação de produtos biológicos, caso haja necessidade.

Mas, como observado em vistoria, e comprovado pelas fotografias, os imóveis circunvizinhos ainda permanecem sem controle do vetor, pois mantém hábitos antigos, não promovendo a correta higienização dos estábulos, nem promovendo a aplicação de produtos para controle das larvas. Se não forem realizados tratamentos à contento nestes locais, pelos proprietários rurais, o problema da mosca S. calcitrans dificilmente será solucionado.

Diante dessas informações, e do cenário encontrado durante as vistorias, concluímos que a melhor forma de prevenir e controlar a mosca do estábulo é a interação dos diversos atores envolvidos neste processo, ou seja, a COPLASA e os donos das propriedades rurais. De modo a não oferecer condições favoráveis ao desenvolvimento das moscas. Visto que o possível manejo inadequado da vinhaça por parte da usina, bem como, o manejo deficiente da matéria orgânica por parte dos produtores rurais favorece a elevação da população de Stomoxys calcitrans.

Referências Bibliográficas

AGPNP. 2009. Artigo técnico: Mosca dos estábulos. Internet: <http://www.agpnp.com.br/conteudo/downloads/75_39.pdf>. Acesso em 23.03.09, 20:35.

ARANTES, C.A., Perícia Judicial Aspectos Técnicos e Legais. Edição do Autor, 2009.

BADINI, P.V.; MORAES, A.P.R.; CASTRO, B.G.; ALMEIDA, C.R.R.; SOUZA, M.M.S. & BITTENCOURT, A.J. 2004. Avaliação da capacidade de Stomoxys calcitrans (Linnaeus, 1758) em carrear bactérias envolvidas nas etiologias das mastites no município de Rio Claro – RJ. In: XIV JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO. Seropédica. Anais... Seropédica: Editora da UFRRJ, 2004, 14(1): 443-448.

calcitrans no município de Planalto-SP. 2008.

BITTENCOURT, A.J. & BORJA, G.E.M. 2002. Stomoxys calcitrans (Linnaeus, 1758) (diptera: Muscidae): preferência por locais do corpo de bovinos para alimentação. Revista Brasileira de Zoociências Juiz de Fora, Juiz de Fora, 4(1): 75-83.

BITTENCOURT, A.J. 1998. Aspectos clínico-epidemiológicos de Stomoxys calcitrans (Linnaeus, 1758) em bovinos e eqüinos em Espírito Santo do Pinhal - SP. Tese de Doutorado em Medicina Veterinária – Parasitologia Veterinária. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 120p.

BRUCE, W.N. & DECKER, G.C. 1958. The relationship of stable fly abundance to milk production in dairy cattle. J. Econ. Ent., 51(3): 269-274.

BRUES, C.T. 1913. The geographical distribution of stable fly, Stomoxys calcitrans. J. Econ. Entomol., 6: 419-477.

CAMPBELL, J.B.; BERRY; I.L.; BOXLER; D.J.; DAVIS, R.L.; CLANTON, D.C. & DEUTSCHER, G.H. 1987. Effects of stable flies (Diptera : Muscidae) on weight gain and feed efficiency of feedlot cattle. J. Econ. Ent., 80(1):117 – 119.

CAMPBELL, J.B.; WHITE, R.G.; WRIGHT, R.; CROOKSHANK, R. & CLANTON, D.C. 1977. Effects of stable flies on weight gains and feed efficiency of calves on growing or finishing rations. J. Econ. Ent., 70(5): 592-594.

CARRERA, M. 1991. Insetos de interesse Médico Veterinário. Curitiba: Editora da UFPR. 228p.

DOUGHERTY, C.Y.; KNAPP, F.W.; BURRUS, P.B.; WILLIS, D.C.; BURG, J.G.; CORNELIUS, P.L & BRADLEY, N.W. 1993. Stable flies (S. calcitrans L.) and the behavior of grazing beef cattle. Applied Animal Behaviour Science, 35(3): 215-233. DRUMMOND, R.O.; BRAM, R.A. & KONNERUP, N. 1987. Animal pests and world food production. In: LEANING, H.D. & GUERRERO, J. (Ed.) The economic impact of parasitism in cattle, Proc. MSD AGVET Symp., p.9 – 24.

DUPONTE, M.W. & LARISH, L.B. 2003. Stable Fly In: Livestock Manegement Insect Pests. College of Tropical Agriculture and Human Resources.

ELIAS NETO, A. & NAKAHODO, T. 1995. Caracterização físico-química da vinhaça. Centro de Tecnologia Canavieira, Piracicaba.

FURMAN, D.P. & CATTS, E.P. 1982. Manual of Medical entomology, 4ª ed., Cambridge: University Press. 207p.

GRISI, L.; MASSARD, C.L.; MOYA BORJA, G.E. & PEREIRA, J.B. 2002. Impacto econômico das principais ectoparasitoses em bovinos no Brasil. Hora Veterinária. 21(125): 8-10.

GUIMARÃES, J.H. 1986. Problemas ocasionados ao gado por moscas hematófagas no Brasil Stomoxys calcitrans e Haematobia irritans. Curso sobre doenças parasitárias dos ruminantes S.P.S.A.A. Coordenadoria de Pesquisas Agropecuárias – Instituto de Zootecnia.

GUIMARÃES, J.H. 1984. Mosca dos estábulos - Uma importante praga do gado. Agroquímica Ciba – Geigy, 23: 10-14.

GUIMARÃES, J.H. 1983. Moscas - Biologia, ecologia e controle. Agroquímica Ciba Geigy, 21: 20-26.

HERRERO, M.V.; MONTES, L.; SANABRIA, C.; SÁNCHES, A. & HERNÁNDEZ, R. Estudio inicial sobre Ia mosca de los establos Stomoxys calcitrans (Diptera: Muscidae) en Ia region del pacífico sur de Costa Rica. Ciências Veterinárias, v. 11, n. 2-3, p. 11-14, 1989.

MELLO, R.P. 1989. Estudo de alguns aspectos do desenvolvimento biológico e do comportamento, em laboratório, de Stomoxys calcitrans (Linnaeus, 1758) (Díptera: Muscidae). 141f. Tese (Doutorado em medicina Veterinária – Parasitologia Veterinária) – Universidade Fderal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica.

MORAES, A.P.R. 2007. Stomoxys calcitrans: estabelecimento de colônia e efeito de Metarhizium anisopliae sobre seus estágios imaturos. Dissertação (mestrado), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Veterinária. 65p.

MORAES, A.P.R.; BADINI, P.V.; SOUZA, M.M.S. & BITTENCOURT, A.J. 2004. Avaliação da capacidade de Stomoxyys calcitrans (Linnaeus, 1758) em carrear bactérias envolvidasnas etiologias das mastites de municípios do Rio de janeiro. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. 13(4): 143-149.

MOYA BORJA, G.E. 1982. Oberne: biologia, comportamento e controle. Agroquímica Ciba Geygi, 17: 19-26.

NAKANO, O.; PARO Jr., L.A. & CAMARGO, A.H. 1973. Controle químico de adultos e larvas da mosca doméstica. O Biológico, 34: 5-8.

NEVES, D.P. & FARIA, A.C. 1988. Profundidade de empupação de Stomoxys calcitrans (Díptera, Muscidae) e presença de microhimenópteros parasitópides nas pupas. Revista Brasileira de Biologia, 48(4): 911-913.

ORLANDO FILHO, J. & LEME, E.J.A. 1984. Utilização Agrícola dos Resíduos da Agroindústria Canavieira, Simpósio Sobre Fertilizantes na Agricultura Brasileira, Brasília, DF, Anais, p.451-475.

RASMUSSEN, R.L. & CAMPBELL, J.B. 1981. Investigation of environmental factors and their relationship to populations of the stable fly, Stomoxys calcitrans (L.). Environ. Entomol., 10: 798-800.

SBRT 2009. Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas. <http://sbrtv1.ibict.br/upload/sbrt5133-2.html> . Acesso em 19.03.2009.

SOULSBY, E.J.L. 1987. Parasitología y enfermidades parasitarias en los animales domésticos. 7ª. Ed. México: Nova Editorial Interamericana. 823p.

SKODA, S.R.; THOMAS, G.D. & CAMPBELL, J.B. 1991. Developmental sites relative abundance of immature stages of the stable fly (Diptera: Muscidae) in beef cattle feedlot pens in eastern Nebraska. Journal of Economical Entomology, v. 84, n. 1, p. 191-197.

STORK, M.G. 1979. The epidemiological and economic importance of fly infestation of meat and milk producing animals in Europe. Vet. Rec., 105: 341-343.

URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L.; DUNN, A.N. & JENNINGS, F.N. 1996. Parasitologia Veterinária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 273p.

Documentos relacionados