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A questão da inovação, aparentemente, entrou na agenda das empresas brasileiras, seja de capital nacional ou estrangeiro, e dos seus principais executivos. Devido ao processo de abertura da economia brasileira, essas empresas começam a entender que a fim de manter a sua competitividade, numa economia cada vez mais global e concorrentes com enormes vantagens com relação a custo, a capacidade em criar novos produtos é um elemento importante para fazer face ao desafio. O fenômeno pode ser visto como um processo de trazer para um dado mercado novos produtos ou serviços, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos consumidores via novas soluções de problemas, destruindo antigos conceitos e criando novos. Inovação também é encontrar novas formas que melhorem a qualidade e o preço de produtos ou serviços, os quais novamente aumentarão a qualidade de vida dos consumidores.

Apesar da recente importância que vem ganhando, os estudos e as pesquisas sobre o tema não são novos. Demonstrando a complexidade do fenômeno diversas disciplinas como economia, gestão estratégica, comportamento organizacional, gestão tecnológica, gestão da qualidade, marketing e gestão de operações tratam diferentes aspectos do assunto. Um conceito importante é o da capacidade de inovação, o qual na visão de Neely e Hii é um potencial de uma empresa para gerar saídas inovadoras. Essa capacidade é dependente dos recursos e das habilidades da organização, além de ser fruto de uma sinergia complexa entre a cultura da empresa, os seus processos internos e a sua habilidade de se relacionar e entender as características e tendências do ambiente externo.

Os temas inovação e o desenvolvimento de produto apresentam um relacionamento muito próximo, chegando ao ponto de se confundirem. Como inovação, desenvolvimento de produto também é um tema multidisciplinar, com uma extensa literatura, na qual são discutindo as boas práticas e os seus fatores de sucesso. A presente pesquisa conseguiu captar algumas características importantes do processo de desenvolvimento de produtos com potencial de influenciar o desempenho inovador da empresa.

Na fase inicial do modelo de funil de desenvolvimento utilizado na pesquisa, geração das idéias e seleção dos projetos, foram observados que as empresas, com um perfil mais

inovador, apresentam um bom mecanismo para coletar e recompensar os funcionários pelas idéias. Outras características observadas incluem também, extender a busca por idéias externamente à empresa, junto a cliente e fornecedores. Ainda dentro dentro da fase inicial do funil do desenvolvimento, observou-se também que as empresas mais inovadoras apresentam uma boa gestão da carteira de projetos, com um processo de avaliação e seleção dos projetos eficiente e uma sistemática reavaliação da carteira durante todo o ciclo de desenvolvimento.

Durante a fase seguinte do modelo do funil, a do projeto de desenvolvimento do produto, uma característica inicial observada foi a existência, nas empresas com perfil inovador, de um método adequado para execução do projeto dividido em estágios e com objetivos muito bem definidos para cada um dos mesmos. A utilização de equipes multidisciplinares, com representantes relevantes das diversas áreas ou departamento envolvidos, é uma outro diferencial juntamente com o envolvimento, num nível adequado, do corpo executivo, clientes e fornecedores.

Cabe no entanto colocar alguns pontos, os quais se tinha uma expectativa de conseguir elementos para comprovar sua importância para o desempenho inovador da empresa, mas que na presente pesquisa não foi possível provar. Inicialmente a existência de um projeto de desenvolvimento flexível, que fosse adaptável às características particulares de um dado desenvolvimento. Outro foi que, durante todo os estágios de desenvolvimento do produto as informações de mercado deveriam ser consideradas. A autonomia da equipe de projeto na condução dos projetos também não foi possível comprovar. Finalmente não foram comprovadas as atividades da fase final do funil de desenvolvimento, isto é, a existência de um plano de lançamento adequado para a introdução do produto bem como, a criação de uma base de dados, com informações de testes e de mercado.

Os elementos acima permitem colocar as seguintes recomendações para os responsáveis pela atividade de desenvolvimento de produto nas empresas: primeiramente, a necessidade da criação e definição de estruturas e processos que permita a coleta de idéias, e que essa deve ser capaz de abranger funcionários, clientes e fornecedores. A importância de focar os recursos das empresas via uma gestão de carteira de projetos eficiente e sistemática. Desta forma, abrindo a possibilidade da empresa recolher o maior número possível de idéias e sendo capaz de se concentrar nas mais promissoras. Um outro conjunto de recomendações, dentro do estágio do projeto de desenvolvimento de um produto, é a importância de uma

metodologia de execução dos projetos, o envolvimento do corpo executivo da empresa e a colaboração com clientes e fornecedores.

Uma limitação importante, é o da amostragem, apesar de ter representantes de diversos setores industriais, a mesma não cobriu todo o espectro e não foi totalmente aleatória e probabilística, alguns setores foram prestigiados pela facilidade em se obter as informações. Assim, não é possível nenhuma generalização. Outra que poderia se comentada, é que as informações obtidas correspondem à avaliação dos gerentes ou diretores das respectivas empresas, uma questão que foi discutida durante a metodologia de pesquisa. Alguns autores como Brown e Eisenhardt colocam a questão dos vieses, já outros como Cooper e Kleinschmidt (1995) afirmam que, quando o respondente possui uma ampla perspectiva do processo de desenvolvimento da organização, a estratégia é válida.

O campo de estudo da inovação é muito amplo e complexo, permitindo que o mesmo possa ser pesquisado em várias perspectivas. Pesquisas ainda relacionando os dois temas, desenvolvimento de produto e inovação, poderiam ser consideradas. Primeiramente num esforço de aumentar o número de amostras e de setores industriais e com isto, ter-se uma amostra probabilística. Também poderiam ser verificados se existe algum tipo de distinção entre os setores industriais, o qual não pode ser realizado na presente pesquisa devido a quantidade de elementos. Finalmente uma linha de trabalho seria no sentido de estratificar a inovação, em incrementais e radicais, a fim de verificar quais práticas, no desenvolvimento de produto, correlacionam-se ou influenciam o desempenho inovador de uma empresa, considerando o tipo da mesma.