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Capítulo 2. Relações comerciais Europa China: Novas oportunidades de base tecnológica

4. Conclusões

Segundo Cheptea at al. (2005) os ganhos ou perdas de quota de mercado no comércio mundial ao nível dos países, são muitas vezes considerados como um indicador da competitividade das suas exportações. A pressão competitiva das exportações dos países emergentes aumentou significativamente na última década, em especial da China e de outros países asiáticos, originando alterações das quotas dos países da UE15 no comércio com a China, assim como alterações sectoriais na composição das importações e das exportações, em particular ao nível do conteúdo tecnológico dos produtos.

A adesão da China à OMC ocorrida em 2001, teve efeitos claros no crescimento das importações e das exportações, constatando-se que após esse período, em particular nos períodos analisados de 2000 a 2003, ocorreram efeitos distintos entre países com dispersão de factores explicativos dos crescimentos. Através do modelo de análise Shift-share seguido no presente estudo, podemos constatar que o crescimento das importações nos triénios em estudo tem um maior contributo dos factores específicos dos países na explicação dos crescimentos verificados. Ao nível das exportações no triénio de 1997 a 2000 e no triénio de 2000 a 2003, continuam a ser factores específicos dos países os que prevalecem na explicação dos crescimentos das exportações, apesar de pouco significativos. O triénio 2003 a 2006, ocorre efeito inverso prevalecendo os factores estruturais na explicação dos crescimentos das exportações, no entanto assumem valores mais significativos quando comparados com os triénios anteriores.

O conteúdo tecnológico das importações com origem na China tem revelado uma evolução ao longo do tempo, em particular após a abertura da China ao comércio externo com a sua adesão à OMC. Os produtos de alta tecnologia têm vindo a ganhar importância na composição das importações em detrimento dos produtos da baixa tecnologia que têm vindo a diminuir a sua concentração na composição das importações. Esta situação é reveladora da especialização da indústria produtiva chinesa que tem vindo a resultar no aumento do nível de sofisticação dos produtos exportados pela China, que integram maior quota de produtos de alta tecnologia conforme constatado no presente estudo. Ao nível das exportações, a mudança do conteúdo tecnológico com o crescimento das exportações não é tão notório, no entanto há que referir que a quota média dos produtos de alta tecnologia nas exportações da UE15 no período em estudo, 1997 a 2006, é de 29%, 1% acima da média registada nas importações (28%), sendo a média das

exportações resultado de valores anuais estáveis ao longo dos anos, enquanto a média das importações resulta claramente do crescimento da quota anual. Outro factor a referir é que as importações assentam em produtos de baixa tecnologia, apesar da tendência de mudança verificada, e as exportações assentam em produtos de média tecnologia. Assim as exportações têm um conteúdo tecnológico médio superior ao das importações.

Entre os países da UE15, quer os crescimentos ou decréscimos verificados no comércio com a China (importações e exportações), conjuntamente com as respectivas variações das suas quotas no comércio da UE15 com a China, são reveladores da competitividade dos países. Na UE15 como países motores do comércio com a China, destacam-se nas importações a Alemanha, a França, o Reino Unido e a Holanda. Estes países têm marcado a tendência em termos de mudança no conteúdo tecnológico das importações. O contributo positivo da componente estrutural resultou do facto da composição das importações destes países apresentar quotas por categoria tecnológica, superiores às verificadas para a UE15, em particular ao nível de produtos de alta tecnologia. No período em estudo não são significativas as mudanças em termos de quotas por países da UE15. As únicas excepções são a Holanda pelo aumento de quota de mais 6 pontos percentuais e o Reino Unido pela perda de quota de menos 4 pontos percentuais, verificada entre 1997 e 2006.

Nas exportações para a China, como países da UE15 motores do comércio destacam-se a Alemanha, a França, o Reino Unido e a Itália. O período pós adesão da China à OMC resultou em maiores divergências de crescimentos com factores específicos dos países a influenciarem os crescimentos. Apesar de ligeiros aumentos na quota dos produtos de alta tecnologia, nas exportações não são significativas as mudanças em termos de composição tecnológica. Destaca- se ainda no período entre 1997 e 2006 o reforço da quota da Alemanha em mais13 pontos percentuais, na participação das exportações da UE15.

De acordo com o relatório da AICEP (2009), as empresas com capital estrangeiro instaladas na China contribuíram para cerca de 57% das exportações totais em 2007 (contra 20% em 1992). Apontando paralelamente que o facto da China se estar a transformar na base mundial de produção, leva a que mais de metade das importações chinesas se destinam às empresas estrangeiras existentes no país e que necessitam de bens de equipamento, matérias-primas e produtos intermédios para operarem. Gaulier et al. (2007) e Lemoine e Unal-Kesenci, (2004) nos estudos desenvolvidos apontavam este factor como um dos motivos da segmentação da produção

mundial, assim como de mudança do comércio com a China. No presente estudo constata-se o progressivo aumento das exportações da China com produtos de maior conteúdo tecnológico o que corrobora a tendência referida anteriormente.

Recentemente, de acordo com dados estatísticos publicados pela Organização Mundial do Comércio, nos primeiros seis meses de 2009, a China ultrapassou a Alemanha e os Estados Unidos em termos de exportações, assumindo-se desta forma como o maior exportador mundial (World Trade Organization, 2009). Apesar da crise económica registada actualmente ser apontada como um factor explicativo para esta liderança da China em termos de exportações, esta tendência vai de encontro com a evolução registada ao longo dos últimos anos e referida por diversos autores, corroborando de igual forma algumas das constatações apontadas ao longo do presente estudo.

Em conclusão, este estudo pretende ser um contributo empírico à literatura sobre as relações comerciais Europa – China e sua evolução em termos da transacção de produtos de maior conteúdo tecnológico. Confirmaram-se tendências esperadas na relação comercial de alguns países da UE15 e a China, que se têm assumido como o motor do crescimento. Por outro lado, quanto ao conteúdo tecnológico confirmou-se no presente estudo uma efectiva intensificação da transacção de produtos de maior conteúdo tecnológico.

Em novos estudos será relevante avaliar grupos tecnológicos específicos a um nível maior de desagregação, permitindo identificar tendências ao nível de artigos comercializados, ou cruzando com outras variáveis como por exemplo a inovação, indústria ou produto. Um maior nível de desagregação, contribuirá de igual forma para um maior aprofundamento dos factores explicativos dos crescimentos ao nível do cada país da UE.

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