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Conclusões a respeito do caso da pílula do câncer

CAPÍTULO III O DIREITO À SAÚDE E A JUDICIALIZAÇÃO

3.5 Conclusões a respeito do caso da pílula do câncer

Diante de todos os posicionamentos e fatos aqui expostos, vimos que se trata da defesa dos princípios e dos direitos individuais e sociais previstos na Constituição Federal. De um lado o Poder Legislativo que tinha por objetivo a liberação do uso do medicamento, tendo em vista o direito à saúde e a dignidade da pessoa humana. Porém, o Judiciário, apesar de nesse caso ter suprimido a distribuição do medicamento, o que não é a regra dos resultados das ações propostas no STF, mais uma vez se manifestou em relação aos assuntos de caráter político administrativo.

O posicionamento do Poder Judiciário demonstra que os casos chegam até ele e então são decididos com base na Constituição Federal, e sua intervenção deve ter o objetivo de solucionar o problema de uma forma que sejam ponderados os interesses ali envolvidos.

Conforme exposto no primeiro capítulo do presente trabalho, o Poder Judiciário foi ganhando espaço tendo em vista as inúmeras ações de cunho social levadas até ele, pois o Judiciário é visto como um “meio de escape”. No caso dos medicamentos, por exemplo, se o indivíduo não consegue acesso a eles pela via

administrativa, a solução seria ajuizar uma ação solicitando o fornecimento. Assim, a discordância entre os Poderes aparece evidente em muitos assuntos, principalmente os de cunho social, e como a lei inconstitucional é afastada, o que prevalece é a decisão do Judiciário, tendo em vista os efeitos do nosso sistema de controle de constitucionalidade, como foi o caso da Lei 13.269/2016.

Assim, no caso da ADI nº 5501, é possível visualizar algumas referências e comparações com os diversos casos em que há a Judicialização da política envolvendo o direito à saúde. O que distingue o caso aqui exposto com os demais é o fato de que o Poder Legislativo interferiu na liberação do medicamento, o que seria de competência do Poder Executivo. Porém, em todos esses casos, é preciso que seja observado um limite dessa intervenção de um Poder na competência do outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a nossa nova ordem constitucional, o Judiciário passou a desenvolver um relevante papel no que se refere à efetivação das políticas sociais. Isso porque em muitos casos que são levados até ele, apenas aplicar a lei já existente não soluciona o fato, e com isso, o juiz acaba por fazer ponderação dos interesses ali envolvidos, e assim interpreta a norma de modo a favorecer uns e em desfavor de outros.

Diante desses casos levados ao Poder Judiciário, por muitas vezes ele acaba por exercer um controle sobre leis editadas pelo Legislativo e sobre atos emanados do Executivo, avaliando sua conformidade ou não com o sistema jurídico. Além disso, conforme exposto, essa “intervenção” ocorre também com relação aos outros Poderes, como no caso da pílula do câncer, em que o Poder Legislativo entrou em desacordo com o Poder Executivo no que se refere a competência para autorizar o uso do medicamento.

Assim, podemos dizer que a utilização do fenômeno da Judicialização é um dos meios para a aplicação do Sistema de Freios e Contrapesos entre os Poderes. Entretanto, deve ser utilizado com moderação, de forma a evitar a sobrecarga de um com relação ao outro, bem como uma possível violação ao Princípio da Separação dos Poderes.

Diante de todo o exposto no presente trabalho, é possível concluir que no nosso país, aonde as políticas públicas não atingem os objetivos previstos na Constituição Federal, o Poder Judiciário quando chamado a decidirtenta garantir a aplicação dos direitos fundamentais, e por muitas vezes, acabada entrando em assuntos que, em regra, deveriam ser resolvidos pelas instâncias políticas, como foi o caso da pílula do câncer. Assim, o Judiciário não aplica simplesmente a previsão legal, mas exerce uma determinada liberdade em suas decisões. Todavia, deve-se destacar que existem limites a essa criatividade do Judiciário, como por exemplo, devem ser respeitados os fundamentos e princípios constitucionais estabelecidos pelo legislador constituinte.

No caso da pílula do câncer, vimos que antes da interferência do Poder Judiciário com a decisão pela suspensão do uso do medicamento, o Poder Legislativo resolveu por autorizar o uso da pílula, adentrando da seara de decisão do Poder Executivo, já que caberia à Anvisa a liberação da Fosfoetanolamina Sintética.

Logo, conclui-se que em virtude da inércia ou irregularidade na atuação de um dos Poderes, e em razão da defesa dos princípios e dos direitos individuais e sociais previstos na nossa ordem constitucional, como o direito à saúde e a dignidade da pessoa humana, é possível que haja “interferência” de um poder sobre os assuntos de competência do outro, visto que cabe aos três poderes a defesa e efetividade do bem estar social.

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