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As plantas estudadas apresentaram uma capacidade de germinação moderada em soluções ácidas, o que indica que podem germinar em solos ácidos, típicos de áreas mineiras. A sua taxa de germinação variou entre 20 e 45%, registada nas soluções com valores de pH 3 e pH 5 respetivamente. Apesar de existirem diferenças significativas não foi possível associar essas diferenças da média da taxa de germinação com o valor do pH.

O pH da solução aquosa não influenciou o comprimento da raiz, mas influenciou o comprimento do caule (as plantas germinadas a valores de pH mais baixos apresentaram comprimentos de caule mais pequenos, à exceção do controlo). Em ambos os casos, os comprimentos máximos foram observados no tratamento com pH 6 e os mínimos nos tratamentos com pH 3. O pH também não influenciou o comprimento da maior folha, tendo sido registado o maior comprimento no tratamento com o valor de pH 5.

Do teste de germinação de C. salviifolius em soluções aquosas com diferentes concentrações de As concluiu-se que a taxa de germinação não dependeu da concentração de As. O seu valor variou entre 10% (25 µg As L-1) e 45% (500 µg As L-1).

A concentração de As na solução aquosa dos diferentes tratamentos não influenciou o comprimento da raiz, o comprimento do caule e o comprimento da maior folha da planta, apesar de haver diferenças estatisticamente significativas das médias entre os diferentes tratamentos com As e o controlo, não houve uma relação linear entre os comprimentos dos diferentes órgãos e a concentração de As na solução de hidroponia. Os valores da massa fresca e do teor em água das plantas também não variaram com o teor em As na solução, e não houve diferenças significativas entre os tratamentos e o controlo.

Em suma, as taxas de germinação obtidas nos dois testes (pH e concentração de As) apresentaram valores dentro da mesma gama, e tanto o valor de pH como a concentração de As não influenciaram significativamente a germinação e os parâmetros de crescimento analisados.

Da análise química, conclui-se que o C. salviifolius acumulou maior quantidade de As na raiz do que na parte aérea, e que esta aumentou com a concentração de As no tratamento em hidroponia. Verificou-se ainda que, para concentrações de As iguais ou superiores a 20000 μg As L-1 a planta transcolou maior quantidade de As para a parte aérea e que os mecanismos de remoção de ROS na planta não foram suficientes para eliminar o stresse oxidativo provocado pelas elevadas concentrações de As. Como resultado, as plantas expostas a estes tratamentos começaram a demonstrar sinais de toxicidade, apresentando necrose progressiva das folhas, o que conduziu à morte das plantas.

- 73 - Em relação ao efeito da concentração de As sobre a absorção/acumulação dos elementos químicos analisados concluiu-se que:

 a concentração de Ca na raiz e na parte aérea das plantas submetidas aos dois tratamentos com as concentrações mais elevadas de As aumentou;

 a concentração de Mg na parte aérea das plantas submetidas aos dois tratamentos com as concentrações mais elevadas de As aumentou;

 a concentração de Fe na parte aérea das plantas submetidas aos dois tratamentos com as concentrações mais elevadas de As aumentou;

 a concentração de K na raiz das plantas submetidas aos dois tratamentos com as concentrações mais elevadas de As diminuiu;

 existe uma correlação positiva entre a concentração de As e a concentração de Zn na raiz.

No que diz respeito ao efeito do As sobre o crescimento das plantas no ensaio de hidroponia, concluiu-se o seguinte:

 concentrações de As iguais os superiores a 20000 μg L-1 afetaram o comprimento da raiz (menor crescimento da raiz);

 a concentração de 30000 μg As L-1 afetou o comprimento da parte aérea (menor crescimento da parte aérea);

 concentrações de As iguais ou superiores a 20000 μg L-1 afetaram a massa fresca total (diminuição da massa fresca ao longo do tempo);

 concentrações de As iguais ou superiores a 20000 μg L-1 afetaram a massa fresca da raiz e a massa fresca da parte aérea (diminuição da massa fresca);

 concentrações até 5000 μg As L-1 levaram a um aumento de massa seca da parte aérea, e concentrações de As iguais ou superiores a 20000 μg L-1 conduziram a uma diminuição de massa seca da parte aérea;

 concentrações de As iguais ou superiores a 20000 μg L-1 levaram a uma diminuição do número de folhas;

 concentrações de As iguais ou superiores a 20000 μg L-1 conduziram a uma diminuição de área foliar ao longo do tempo.

O As não interferiu na capacidade fotossintética da planta, pois não se observaram diferenças significativas nos teores de clorofila a, b e total entre as médias dos diferentes tratamentos e com o controlo, ao fim de 30 dias de tratamento. Em todas as situações os valores obtidos para as plantas na solução de hidroponia com a concentração mais elevada de As foram os mais baixos.

No que diz respeito à concentração de H2O2, esta foi maior na raiz do que na parte aérea. A concentração de H2O2 na parte aérea ao fim de 20 dias de tratamento nas duas

- 74 - concentrações mais elevadas de As aumentou significativamente em relação ao controlo, seguida de uma diminuição nos 10 dias seguintes, o que indica que a planta acionou os mecanismos de remoção de ROS conseguindo remover parte de H2O2 produzido.

A concentração de ASC total, AsA e DAsA na raiz foi sempre maior do que na parte aérea das plantas, o mesmo se verificou na concentração de glutationa total, GSH e GSSG, o que possivelmente indica uma resposta à concentração de H2O2 nas raízes.

No final do ensaio, a concentração de As na planta teve uma correlação positiva e forte com as concentrações de AsA, GSSG e GSH na parte aérea, e de GSSG e GSH na raiz, embora não relacionada com a concentração de H2O2, sugerindo que outra espécie de ROS possa estar envolvida no stresse oxidativo.

As percentagens de redução de ascorbato e glutationa na raiz apresentaram diferenças significativas entre tratamentos ao fim de 20 dias de ensaio, cuja variação não permitiu tirar ilações da sua relação com a concentração de As nos tratamentos, nem com a concentração de H2O2. Na parte aérea, estes parâmetros não variaram entre tratamentos, observando-se uma diminuição da percentagem de redução de ascorbato no tratamento de 30000 μg As L-1, apontando para a possibilidade de que o ciclo do ascorbato-glutationa tenha deixado de funcionar eficientemente nestas plantas. Contudo, a percentagem de redução de glutationa na parte aérea não revelou diferenças significativas entre tratamentos e controlo, ou nos tratamentos ao longo do tempo. Foi nas plantas submetidas ao As durante 10 dias que se observaram diferenças na percentagem de redução de glutationa na raiz, não se obtendo uma relação significativa entre ascorbato, glutationa e H2O2.

O C. salviifolius é uma espécie capaz de germinar em solos ácidos (a partir de valores de pH 2,5) e com elevadas concentrações de As (pelo menos até 3000 μg L-1), característico de áreas mineiras. Esta planta revelou elevada tolerância ao As até à concentração de 5000 μg L-1, acumulando este metaloide principalmente na raiz, o que, aliado à sua capacidade adaptativa a ambientes degradados a tornam numa espécie com elevada potencialidade para ser utilizada em programas de fitoestabilização de solos das regiões mediterrânicas incluindo os das áreas mineiras fortemente contaminados com As.

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