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III. Sistematização de corpo docente, programas selecionados e elenco

1. Conclusões

É possível considerar que o aspecto técnico-instrumental é predominante na FGV- SP, EPGE e FIPE. Tal aspecto também se apresenta, porém com menor ênfase curricular e histórico-institucional, na PUC-RJ, IE-UNICAMP e IEI-UFRJ. Nestas as vertentes históricas e sociológicas também imprimiram-se com significativo vigor. Na primeira, sob a perspectiva da economia do setor público e do planejamento político-econômico. Na segunda, sob a perspectiva histórica da industrialização e do desenvolvimento econômico brasileiro. Em ambas, o aspecto instrumental esteve articulado de forma mais integrada às questões sociológicas, políticas e históricas. Já naquelas onde o aspecto instrumental foi predominante, é lícito afirmar que a preocupação com tais aspectos e com os pensadores clássicos se fez mais presente na USP do que na FGV. A primeira configura-se mais como instituição acadêmico-universitária e a segunda como centro de excelência, mesclando preocupações acadêmicas e profissionalizantes em maior grau. Em ambas instituições, houve uma forte influência do ensino econômico norte- americano. Tal ensino embutia a idéia de um desenvolvimento capitalista internacional compatível ao desenvolvimento nacional. Os acordos/convênios mencionados na primeira parte são expressão viva de tal idéia. Por fim, o estudo econômico que sofreu maior influência das vertentes sociológicas, políticas e, sobretudo, históricas, foi o Instituto de Economia da UNICAMP. Nessa instituição, o aspecto instrumental é menos valorizado, senão criticado como condizente a interesses internacionais avessos a um efetivo desenvolvimento nacional socialmente sustentável.

O currículo obrigatório da UNICAMP expressa a preocupação com a revisão dos traços centrais do desenvolvimento da economia mundial e da economia brasileira. Tal preocupação reafirma a importância da questão histórica no seu Curso de Pós- Graduação. Isso nos permite apontar para uma vertente mais sociológica e histórico- institucional do que propriamente técnica ou instrumental.

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RE L A T Ó R I O D E PE S Q U I S A Nº 2 2/ 19 97 A análise da grade curricular e do conteúdo programático do curso da PUC-RJ permite apontar para um ensino da economia fortemente marcado pelo interesse em torno do setor público e da ação estatal no planejamento e coordenação da política econômica. Tal perfil, embora contenha a preocupação com os aspectos instrumentais da formação, faz, do conhecimento sociológico, não somente um elemento de formação cultural merecedor de importância, mas sim o vê como parte constitutiva da formação básica do economista, particularmente daqueles dedicados à referida problemática da política econômica no setor público. Isso implica uma ligação estreita do programa às questões das realidades econômica e social brasileiras.

A Pós-Graduação em Economia na FGV-SP surgiu oficialmente em 1989, mas, desde o regimento de 1973, as disciplinas: Desenvolvimento Econômico, Teoria e Instituições Monetárias e Economia de Empresas já figuravam como disciplinas específicas do curso de Pós-Graduação em Administração de Empresas (iniciado em 1959), particularmente da área de concentração intitulada Economia de Empresas. Nessa mesma área de concentração, também eram ministradas disciplinas eletivas, a saber: Economia Brasileira, Elaboração e Avaliação de Projetos, Política Econômica, Econometria e Seminário Avançado de Economia. Ou seja, o curso configurava-se como predominantemente administrativo, ao mesmo tempo que abarcava duas áreas de concentração voltadas aos estudos econômicos, sendo uma com ênfase jurídico-empresarial (Direito Econômico e Empresarial) e outra com ênfase econômico-administrativa (Economia de Empresas), além de uma área sociológico-administrativa (Sociologia de Empresa e do Estado). Tal fato nos demonstra, por um lado, um acento administrativo no embrião do estudo de Pós- Graduação em Economia e, por outro, uma possibilidade de diálogos da Administração com a Economia, a Sociologia e o Direito, confirmando, desse modo, a aludida vocação generalista.

Em 1985, o regimento aponta para reformulações que nos permitem identificar um fortalecimento do acento administrativo outrora já predominante, ao mesmo tempo

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RE L A T Ó R I O D E PE S Q U I S A Nº 2 2/ 19 97 que constituíam-se um maior número de disciplinas eletivas na área de concentração em Economia de Empresas (que então já figurava também no curso de doutorado em Administração). Vale então mencionar as disciplinas eletivas - Economia Brasileira, Seminário de Metodologia de Pesquisa e Orientação Monográfica, Economia Matemática, Economia Industrial, Economia do Estado, Análise e Avaliação de Projetos, Econometria, Teoria e Política Monetária, Economia Urbana e Regional e Desenvolvimento Econômico. Assim, se no período de 1974 a 1985 figurava uma diversidade no corpo docente que abarcava nomes como o de Sérgio Miceli e Maurício Tragtemberg (do FSJ), ou seja, de uma diversidade que abarcava importantes elementos do pensamento sociológico. Em 1989, predominava o corpo docente mais afim às áreas de Administração e Economia, ainda que incluindo professores fortemente influenciados pelo pensamento crítico da sociologia, tais como Luiz Carlos Bresser Pereira e Luiz Antonio O. Lima.

Já nas áreas de Economia Industrial e de Tecnologia da UFRJ, os estudos relativos à estrutura industrial e dinâmica econômica envolvem temas como: avaliação macroeconômica da importância relativa dos diferentes setores industriais; estudos setoriais (incluindo questões da estrutura industrial brasileira, evolução das principais empresas do setor de transformação industrial e estudos de políticas industriais e suas repercussões e conseqüências em setores específicos); pesquisa no setor de Engenharia na Indústria de Construção ou “Engenharia Pesada”; grandes empresas nacionais (na indústria, sistemas financeiro e bancário e setor de serviços); empresas estatais; empresas multinacionais (histórico da evolução dos principais cartéis internacionais); política econômica e política industrial. Na área de política científica e tecnológica, área onde haviam fortes interesses de instituições como CNPq, FINEP e MIC, abordam-se estudos setoriais nos quais se analisavam: políticas explícitas e implícitas de ciência e tecnologia; a influência destas na realização de atividades científicas e tecnológicas e importação de tecnologia; as conseqüências dos desenvolvimentos industrial, científico e tecnológico advindos de tais políticas; industrialização e urbanização; tecnologia e processo de trabalho; efeito da tecnologia sobre o nível de emprego; progresso técnico e conseqüências

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RE L A T Ó R I O D E PE S Q U I S A Nº 2 2/ 19 97 econômicas; progresso técnico nos países subdesenvolvidos, etc. Assim, o ensino se caracterizava por diversidade temática e pluralidade metodológica, mas com clara ênfase em Economia Industrial.

Vale adicionar que enquanto na USP e FGV-RJ o modelo hard science figura-se como predominante (ainda que amenizado pela tradição clássica uspiana), na PUC- RJ e na UFRJ tal modelo mescla-se mais facilmente ao modelo soft science. Já na UNICAMP, a predominância é do modelo soft science, ainda que na atualidade as preocupações instrumentais e quantitativas tenham sido inevitavelmente incluídas ao longo dos desdobramentos curriculares do DEPE e do Instituto de Economia. Vale, também, apontar que embora as relações soft science - vertente ciências humanas, e hard science - vertente técnico-instrumental, não sejam imediatas e inequívocas, são, por outro lado, passíveis de serem consideradas, minimamente, como mais condizentes umas às outras.

Por outro lado, se é possível aproximar o perfil preponderante da economia na USP aos princípios defendidos pelos ideólogos da FGV, é inegável que seu ensino herda uma tradição européia que, de forma mais ou menos latente, acompanha a forte influência norte-americana que se instituiu como hegemônica. Tal influência possibilitou uma mescla da concepção soft com a concepção hard, possivelmente mais intensa da ocorrida na EAESP e na EPGE. Também é possível considerar que se esses três centros receberam impulsos tanto do governo brasileiro quanto do americano, comparativamente à EPGE, a EAESP e a FIPE, por localizarem-se em São Paulo, tiveram o apoio de um importante segmento do empresariado nacional, o empresariado paulista.

Selecionamos como anexo deste relatório alguns programas recentes de Macroeconomia, Microeconomia e Economia Brasileira (a disciplina com conteúdo mais heterogêneo) dos seis centros estudados. Dessa amostra, podemos extrair algumas conclusões:

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1.1. Macroeconomia

Os cursos de Macroeconomia I são introdutórios e extensos. Na UNICAMP, a preferência é clara no sentido da leitura dos originais (Keynes, Kalecki, Hicks e Modigliani) em detrimento dos modernos manuais. Mesmo os textos atuais que são recomendados, alguns de jovens autores brasileiros, expressam uma visão mais próxima do modelo soft. A análise do programa da UFRJ nos leva a mesma conclusão, com a observação de que o único autor brasileiro sugerido é o próprio professor da disciplina.

Na FGV-SP, o predomínio absoluto é de autores mais recentes nas leituras do curso. A distribuição das leituras por década em que foi produzida é a seguinte:

Década Número de Leituras

30 (Hicks) 1 50 (Phillips) 1 60 (Tobin e Friedman) 3

70 9 80 e 90 56

Cabe a observação de que a maioria são artigos que se encontram nos principais

journals americanos e que não consta nenhum artigo escrito por um brasileiro.

Na PUC-RJ, no curso Macroeconomia II, a concentração de leituras é forte nos autores americanos e na ênfase e nas contribuições da moderna econometria e dos modelos de desenvolvimento econômico. Na EPGE, a carga dos cursos de Macroeconomia é dividida em 4 módulos trimestrais, sendo que todos os textos adotados são dos últimos 15 anos e de autores estrangeiros (com exceção de Simonsen e Cysne). Na FEA-USP, os programas selecionados abarcam a leitura de Keynes e de manuais neokeynesianos em 1985 e 1995, sendo que, atualmente, vários cursos da área são calcados nos teóricos modernos.

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1.2. Microeconomia

Na UNICAMP, o curso é calcado em autores modernos, apresentando, inclusive, tópicos da moderna teoria dos jogos, autores neo-schumpeterianos e novos- keynesianos, sem nenhuma referência aos clássicos da área, como Walras ou Marshall. Já na UFRJ, há uma evidente mescla entre autores contemporâneos e antigos. A lista de leitura contempla artigos escritos em todas as décadas deste século.

Na FGV-SP, o curso de Microeconomia II concentra-se em Organização Industrial e o de Microeconomia III é totalmente calcado em teoria dos jogos, assim como o de Microeconomia II na PUC-RJ. Na EPGE, os três módulos de Microeconomia mesclam os modernos manuais de micro com tópicos em economia da informação e teoria dos jogos. Na USP, a concentração é de textos mais antigos, das décadas de 40 a 60, buscando varrer os temas tradicionais da matéria (Microeconomia I), desdobramentos mais recentes (Microeconomia II) e teoria dos jogos (Microeconomia III).

Esta breve e parcial análise dos programas não refuta as características gerais dos centros, mas também não corrobora (e nem poderia, dado que é uma pequena amostra).

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