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O percurso formativo até à data realizado exigiu de mim um grande esforço pessoal, financeiro e profissional. Contudo foi muito gratificante, superando as minhas expectativas. O principal contributo, quer pessoal quer profissional, que destaco não se prende com as competências instrumentais, mas com o desenvolvimento de um raciocínio clínico e um juízo crítico transversal a qualquer área de cuidados e ao relacionamento humano.

As competências comuns de EE na área do domínio das aprendizagens profissionais, nomeadamente, o desenvolvimento do auto-conhecimento e da assertividade e o desenvolvimento de uma prática de cuidados especializados baseados em sólidos e válidos padrões de conhecimento, foram as competências mais difíceis de desenvolver pela sua especificidade mas, ao mesmo tempo, as mais gratificantes.

Das competências específicas, as mais difíceis de desenvolver prenderam-se com a capacitação da pessoa com deficiência, limitação da atividade e/ou restrição da participação para a reinserção e exercício da cidadania, uma vez que capacitar é um trabalho moroso que exige treino e perícia do EE para pesquisar e atuar sobre os fatores facilitadores e dificultadores do processo de capacitação a fim de o motivar para adesão ao regime terapêutico compatível com a incapacidade.

Embora tenha sido um percurso longo e, por vezes, com alguns percalços, consegui concretizar os objetivos a que me propôs. E como o saber nunca se esgota, tenho ainda um longo caminho a percorrer, na procura da excelência dos cuidados.

Com o aumento da esperança média de vida e o consequente aumento do envelhecimento populacional, tem-se verificado um crescente aumento de pessoas com incapacidades crónicas, o que despoletou grandes avanços científicos e tecnológicos para dar resposta a estas incapacidades. É neste contexto sociodemográfico, que o EEER se distingue pelo seu papel de cariz interventivo e imprescindível na maximização das potencialidades da pessoa para a realização das atividades de vida, promoção do autocuidado e adoção de comportamentos de procura de saúde. É neste âmbito de atuação que o EEER concebe, implementa e

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monitoriza planos de enfermagem de reabilitação diferenciados, baseados nos problemas reais e potenciais das pessoas (Regulamento nº 125/2011, 2011:8658).

A doença crónica torna-se, a longo prazo, incapacitante e acarreta enormes custos para os serviços de saúde. A implementação deste Projeto permitiu-me adquirir uma visão global das incapacidades que a doença crónica acarreta, e da importância de investir no desenvolvimento de formação específica para implementação de intervenções de enfermagem promotoras de adesão ao regime terapêutico, no sentido de minimizar os handicaps associados à doença crónica, melhorando a qualidade de vida da pessoa portadora de doença crónica e do seu cuidador, e diminuindo os gastos com os serviços de saúde.

Especificamente na pessoa com DPOC, por ser uma doença crónica evolutiva, o EEER necessita desenvolver cuidados de enfermagem cada vez mais qualificados, no sentido de minimizar as repercussões da doença, evitando episódios de agudização com reinternamentos sucessivos e consequente deterioração da função respiratória que, a longo prazo, diminui a qualidade de vida e a autonomia para as atividades de vida.

A função respiratória é a área da ciência humana que mais me apraz. Neste sentido pretendo continuar a aperfeiçoar competências especializadas nesta área. Contudo, não perspetivo a possibilidade de o fazer num futuro próximo por, há pouco tempo, ter sido transferida para uma Consulta Externa de Psiquiatria.

Num primeiro impacto, após transferência para este serviço, o meu pensamento foi de que na Psiquiatria não conseguiria exercer a especialidade de Reabilitação. Ao longo da minha integração neste serviço tenho-me apercebido do quão importante pode ser a intervenção de um EEER nesta área de especialidade. Neste sentido, tenho realizado pesquisa científica para fundamentar a intervenção de um EEER nesta área.

A pessoa com doença mental também apresenta co-morbilidades físicas. 60% da taxa de mortalidade na população com doença mental deve-se a doença física (Hert et al, 2011:52). As co-morbilidades físicas têm um grande impacto na qualidade de vida da pessoa com doença mental. Agravam a questão já existente da exclusão social destas pessoas, e refletem-se num aumento da taxa de morbilidade e mortalidade em relação à população sem doença mental. A esperança média de vida encontra-se reduzida em 10-25 anos e a taxa de mortalidade é duas vezes

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superior à população em geral (Correll et al, 2017:2). Diversos estudos concluem que 60% da população com doença mental grave apresenta doença cardiovascular, 70% é fumadora aumentando a probabilidade de desenvolver DPOC e neoplasia pulmonar, 10% da população com doença mental grave que faz antipsicóticos de longa duração desenvolve DM Tipo II. (Correll et al, 2017; Smith et al, 2013; Hert et al, 2011).

Os fatores que contribuem para o impacto da doença física nesta população são a medicação psicotrópica (antipsicóticos, antidepressivos e estabilizadores de humor), estilo de vida (sedentarismo, má alimentação, tabaco) e sintomas psiquiátricos nomeadamente os negativos (embotamento afetivo, alogia, avolição) que propiciam o isolamento social e o sedentarismo (Hert et al, 2011:52).

A obesidade é outra co-morbilidade frequentemente observada nas pessoas com doença mental, devido aos fatores anteriormente descritos, e que carreta um risco aumentado de desenvolvimento de doença cardiovascular, DM, dislipidémia, HTA, patologia respiratória, desordens hormonais e vários tipos de cancro (Hert et al, 2011:53).

Os dados estatísticos apresentados são conclusivos quanto à importância da intervenção de um EEER. A prevenção, reconhecimento e tratamento da co- morbilidade física é fundamental para o cuidado holístico da pessoa com doença mental, intervindo aqui o EEER.

Neste sentido, atualmente estou a preparar uma ação de formação em serviço, para apresentação de dados estatísticos relativos às co-morbilidades físicas em pessoas com doença mental, para, em equipa, se traçar um plano de intervenção junto desta população, no sentido de minorar danos para a saúde física da pessoa, prevenir a doença e proporcionar qualidade de vida.

Também nesta Consulta Externa de Psiquiatria está implementado o projeto “Adesão à Terapêutica Depot”. Tendo o meu Projeto de Estágio sido desenvolvido no âmbito da adesão terapêutica, e havendo inúmeros estudos científicos que revelam baixos níveis de adesão terapêutica em pessoas com doença mental, poderei contribuir para o desenvolvimento deste Projeto e melhorar os níveis de adesão à terapêutica em pessoas com doença mental.

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