No presente estudo, foi possível estabelecer uma relação entre a quantidade de TCA extraído das rolhas de cortiça de diâmetro de 21 mm e os diferentes fornecedores de cortiça. Considerou-se as rolhas de cortiça de três dos cinco fornecedores estudados adequadas para serem introduzidas no processo de fabrico, sem a necessidade de medidas corretivas. Uma vez que o TCA extraído nestas rolhas era estatisticamente superior a 1,5 ng/L, limite sensorial para o TCA. Um estudo sistemático de determinação do TCA extraído para uma solução etanólica a 12% das rolhas de cortiça dos fornecedores da Unidade Industrial-RARO permitiria construir uma base de dados dos mesmos com o intuito de os avaliar e selecionar, obtendo-se um maior rendimento produtivo.
A modificação de 1,5 mm no diâmetro da rolha não traz vantagens significativas na extração do TCA das rolhas de cortiça no processo industrial. A modificação do diâmetro das rolhas que dão entrada nas instalações fabris com 21 mm para 19,5 mm, na tentativa de reduzir o 2,4,6-TCA extraído para uma solução etanólica, não se justifica. Desta forma, a generalização da localização preferencial do TCA não pôde ser estabelecida no presente trabalho.
Verificou-se que existe uma tendência clara para os valores de TCA extraído estarem relacionados com a classe visual de uma rolha de cortiça natural. Concluiu-se que os valores mais baixos de TCA extraído para uma solução etanólica a 12% estão associados a uma melhor classe visual, e com diferença significativa dos valores de TCA de rolhas de classe visual inferior.
Verificou-se uma maior extração do TCA das rolhas em contacto com uma solução etanólica a 40% do que com uma solução etanólica a 12%. O maior teor em álcool da solução etanólica facilita a migração do TCA da cortiça para solução. De forma a confirmar esta conclusão preliminar, deveriam ser realizados mais ensaios de maceração de rolhas de cortiça com solução etanólica a 40%.
Em suma, uma escolha criteriosa das várias características associadas a uma rolha de cortiça permitiria evitar custos desnecessários conseguindo-se uma maior produtividade.
[1] Silva, S.P., Sabino, M.A., Fernandes, E.M., Correlo, V.M., Boesel, L.F., Reis R.L., Cork: properties, capabilities and applications. International Materials Reviews 2005. 50: p. 345-365.
[2] Fortes, M.A., Rosa, M.E., Pereira H., A Cortiça, ed. I.S.T. Press. 2004.
[3] Gil, L., Cortiça, in Ciência e Engenharia de Materiais de Construção, I. PRESS,
Editor. 2012. p. 665-715.
[4] Apcor, Manual Técnico - Rolhas. 2001.
[5] Bureau, C.I., Cortiça – História. 2010.
[6] Liège, C.E.d., CIPR, ed. V. 5. 2006.
[7] Rocha, S.M., Coimbra, M.A., Delgadillo I., Demonstration of pectin
polysaccharides in cork cell wall from Quercus suber L. J. Agric. Food Chem.,
2000. 48(6): p. 2003-2007.
[8] Graça, J., Os tipos de cortiça e os produtos da sua transformação industrial:
Departamento de Engenharia Florestal, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa. [9] Pereira, H., Chemical composition and variability of cork from Quercus suber L.
Wood Sci. Technol. , 1988. 22(3): p. 211–218.
[10] Rocha, S.M., Goodfellow, B.J., Delgadillo, I., Neto, C.P., Gil, A.M., Enzymatic
isolation and structural characterization of polymeric suberin of cork from
Quercus suber L. Int. J. Biol. Macromol., 2001. 28(2): p. 107–119.
[11] Coedeiro, N., Balyo, A., Belgacem, N.M., Gandini, A., Pascoal Neto, C., LeNest J.-F., Cork suberin as an additive in offset lithographic printing inks. Industrial Crops and Products, 2000. 11(1): p. 63-71.
[12] Neto, C.P., Evtuguin D., Química de Materiais Lenhocelulósicos na Universidade
de Aveiro: Breve revisão de uma década de investigação, in Boletim da
Sociedade Portuguesa de Química2003. p. 37-46.
[13] Conde, E., Cadahía, E., García-Vallejo, M.C., Simón, B.F.D., Adrados J.R.G.,
Low molecular weight polyphenols in cork of Quercus suber. J. Agric. Food
Chem., 1997. 45(7): p. 2695-2700.
[14] Vieira, H., Análise de Características da Cortiça Amadia Relevantes para a sua
Qualidade Industrial, 2009: Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
[15] Costa, A., Cortiça: Produção e transformação da industria corticeira. Silvicultura
geral, 1998: Instituto Superior de Agronomia – Centro de Estudos Florestais.
[16] Apcor, Kit Técnico sobre Rolhas de Cortiça, Apcor, Editor. 2004.
[17] Apcor, Rolhas de Cortiça. 2010, Cork Information Bureau.
[18] Cortiça – História, 2010: Cork Information Bureau
[19] Gil, L., A cortiça como material de construção - Manual Técnico, in Apcor
[21] Mourão, P.A.M., Carrott, P.J.M., Carrott M.M.L.R., Cortiça: uma nova
perspectiva. Revista de Ciências Agrárias, 2007. 30: p. 282-289.
[22] Pereira, C., Gil, L., O problema do odor a mofo nas rolhas de cortiça e processos
para a sua redução/eliminação. Silva Lusitana, 2006. 14(1): p. 101-111.
[23] Chatonnet, P., Bonnet, S., Bouton, S., Labadie, M., Identification and
responsibility of 2,4,6-tribromoanisole in musty, corked odors in wine. J. Agric.
Food Chem., 2004. 52(5): p. 1255-1262.
[24] Sefton, M.A., Simpson, R.F., Compounds causing cork taint and the factors
affecting they transfer from natural cork closures to wine – a review. Aus. J.
Grape Wine Res., 2005. 11(2): p. 226-240.
[25] Özhan, D., Anli, R.E., Vural, N., Bayram, M., Determination of chloroanisoles and
chlorophenols in cork and wine by using HS-SPME and GC-ECD detection. J.
Inst. Brew., 2009. 115(1): p. 71-77.
[26] Vlachos, P., Kampioti, A., Kornaros, M., Lyberatos, G., Matrix effect during the
appplication of a rapid method using HS-SPME followed by GC-ECD for the
analysis of 2,4,6-TCA in wine and cork soaks. Food Chemistry, 2007. 105(2): p.
681-690.
[27] Maggi, L., Mazzoleni V., Fumi, M.D., Salinas M.R., Transformation ability off ungi
isolated from cork and grape to produce 2,4,6-trichloroanisole from 2,4,6-
trichlorophenol. Food Additives and Contaminants, 2008. 25(3): p. 265-269.
[28] Álvarez-Rodriguez, M.L., López-Ocaña, L., López-Coronado, J.M., Rodríguez, E., Martínez, M.J., Larriba, G., Coque, J.R., Cork taint of wines: role of the
filamentous fungi isolated from cork in the formation of 2,4,6-trichloroanisole by O
methylation of 2,4,6-trichlorophenol. Appl. Environ. Microbiol., 2002. 68(12): p.
5860-5869.
[29] Pereira, C.S., Danesh, P., Marques, J.J.F., San Romão M.V., O gosto a rolha em
vinhos - Estado actual dos conhecimentos. Ciência Téc. Vitiv., 1999. 14(2): p. 79-
99.
[30] Riu, M., Mestres, M., Busto, O., Guasch J., Determination of 2,4,6-
trichloroanisole in wines by headspace solid-phase microextraction and gas
chromatography-electron-capture detection. J. Chromatogr. A, 2002. 977(1): p. 1-
8.
[31] Pollnitz, A.P., Pardon, K.H., Liacopoulos, D., Skouroumounis, G.K., Sefton M.A.,
The analysis of 2,4,6-trichloroanisole and other chloroanisoles in tainted wines
and corks. Aus. J. Grape Wine Res., 1996. 2(3): p. 184-190.
[32] Simpson, R.F., Sefton, M.A., Origin and fate of 2,4,6-trichloroanisole in cork bark
[33] Pereira, H., Cork. Biology, Production and Uses. 2007, Technical University of
Lisbon, Instituto Superior de Agronomia, Portugal.
[34] Macku, C., Gonzalez, L., Schleussner, C., Mesquita, A.C., Herwatt, J.W., Kirch, L.C., Schwartz, R.J., Sensory screening for large-format natural corks by “dry
soak” testing and its correlation to headspace solid-phase microextraction
(SPME) gas chromatography/mass spectrometry (GC/MS) releasable. J. Agric.
Food Chem., 2009. 57(17): p. 7962-7968.
[35] Taylor, M.K., Young, T.M., Butzke, C.E. and Ebeler, S.E., Supercritical fluid
extraction of 2,4,6-trichloroanisole from cork stoppers. J. Agric. Food Chem.,
2000. 48: p. 2208–2211.
[36] Howland, P.R., Pollnitz, A.P., Liacopoulos, D., Mclean, H.J., Sefton, M.A., The
location of 2,4,6-trichloroanisole in a batch of contaminated wine corks. Aus. J.
Grape Wine Res., 1997. 3(3): p. 141-145.
[37] Barker, D.A., Capone, D.L., Pollnitz, A.P., McLean, H.J., Francis, I.L., Oakey, H. and Sefton, M.A., Absorption of 2,4,6-trichloroanisole by wine corks via the
vapour phase in an enclosed environment. Australian Journal of Grape and Wine
Research, 2001. 7(1): p. 40-46.
[38] Prescoot, J., Norris, L., Kunst, M., Kim, S., Estimating a "consumer rejection
threshold" for cork taint in white wine. Food Quality and Preference, 2005. 16(4):
p. 345-349.
[39] Juanola, R., Guerreo, L., Subirá, D., Salvadó, V., Insa, S., Garcia Regueiro, J.A., Anticó, E., Relationship between sensory and instrumental analysis of 2,4,6-
trichloroanisole in wine and cork stoppers. Analytica Chimica Acta, 2004. 513(1):
p. 291-297.
[40] Valente, A.L.P., Augusto F., Microextracção por fase sólida. Química Nova, 2000. 23(4): p. 523-530.
[41] ISO/CD 20752 Cork Stoppers – Determination of releasable 2,4,6-trichloroanisol (TCA).
[42] Miller, J.N., Miller, J.C., Statistics and Chemometrics for Analytical Chemistry. 5 ed. 2005.
ANEXO I – Testes estatísticos
Para estabelecer a relação entre a quantidade libertada de TCA e as características da rolha (diâmetro, fornecedor, etc) utilizou-se a média dos valores obtidos, sendo este parâmetro uma das características mais importantes numa população. A medida de dispersão calculada foi o desvio-padrão.
Porém não é suficiente comparar o valor das médias da extração do TCA, é necessário averiguar a dispersão de resultados, para isso utilizou-se o teste F. Os resultados foram submetidos ao teste F sob a análise da variância ao nível de 5% de probabilidade. O teste F é realizado por:
F = s2 / s 2 2
onde s2 / s22 é a razão entre as variâncias. Se o valor de F calculado exceder o valor tabelado [42], a hipótese nula é rejeitada.
Para a análise da comparação de resultados utilizou-se o teste estatístico “t de Student” (teste t), adequado para variâncias iguais ou para variâncias desiguais (conforme resultado proveniente do teste F) de forma a testar a significância de resultados que obedecem à distribuição normal e que são baseados em amostras pequenas [30].
Foi aplicado o teste t para determinar qual a probabilidade de ser nula a diferença entre as médias dos valores de TCA extraído em rolhas de cortiça de diâmetros diferentes de distintos fornecedores e classes visuais.
Foi utilizado o teste t para amostras independentes, bilateral e para um nível de significância estatística de 5% (α = 0,05).
As hipóteses em estudo são: H0 : µ1 = µ2 vs H1 : µ1 ≠ µ2
A hipótese nula (H0) é a hipótese sob a qual o teste é realizado, esta hipótese será aceite
ou rejeitada conforme a estatística do teste. A H1 é uma hipótese alternativa a H0. Por isso
se rejeitamos H0, consequentemente aceitamos H1.
No sentido de verificar se a diferença entre duas médias 1 e 2 é significativa, o teste t é
calculado por (variâncias desiguais, com base no teste F):
t = (1 )2
s 1
1 1 2
s2 = (1 1) 1 (2 1) 2 (1 2 2)
Ou (variâncias iguais, com base no teste F):
t = (1 )2
12
1 22
onde s é o desvio-padrão e n é o tamanho da amostra.
Se o teste fornecer uma probabilidade superior a 5% deve aceitar-se a hipótese nula. Por outro lado se o teste fornecer uma probabilidade inferior a 5% deveremos rejeitar a hipótese nula.
Para a comparação de médias o teste apropriado foi o teste t para as médias com dois dados emparelhados (dependentes) [30].
O teste estatístico é calculado por:
t = √/
onde e são a média e o desvio-padrão respetivamente de , diferença entre os valores dos dados emparelhados. Se o valor calculado é menor que o valor critico tabelado, a hipótese nula é rejeitada, e os dois métodos não apresentam diferença significativa.
Para a verificação da diferença entre a média e um valor conhecido , o teste estatístico é calculado por:
t = ( − )√/
onde é o desvio-padrão e é o tamanho da amostra. Se |t| é maior que o valor critico tabelado a hipótese nula é rejeitada, não apresentando diferença significativa.