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Nas sociedades humanas, as institui¸c˜oes evoluem a partir de fatos verificados em n´ıvel “bruto”. Essas institui¸c˜oes s˜ao formadas por regras que definem como fatos pertencentes a esse n´ıvel bruto se transformam em fatos institucionais. Essas regras s˜ao chamadas constitutive rules.

Os SMA apresentam algumas caracter´ısticas que indicam a pos- sibilidade de intera¸c˜ao entre ambiente e institui¸c˜ao `a semelhan¸ca do que acontece em sociedades humanas. Esas caracter´ısticas s˜ao intenciona- lidade dos agentes, intencionaliade coletiva e atribui¸c˜ao (ou imposi¸c˜ao) de fun¸c˜ao aos objetos existentes no ambiente.

Ao lado desse paralelo que indica tal semelhan¸ca, estudos em SMA mostram diferentes abordagens `a intera¸c˜ao entre ambiente e institui¸c˜ao. Algumas dessas abordagens foram analisadas e, sob a ´

otica do presente estudo, algumas caracter´ısticas dos diferentes mo- delos mostraram-se importantes e merecem considera¸c˜oes. Verificou-se que apenas o modelo de (PIUNTI, 2009) considera o ambiente como abstra¸c˜ao prim´aria e isso tem importante rela¸c˜ao com a forma como o modelo ´e desenvolvido. Verificou-se tamb´em que os diferentes modelos consideram diferentes formas de fatos brutos, identificando-se cinco di- ferentes formas de fatos brutos que podem ter consequˆencias em n´ıvel institucional. Um outro aspecto a ser considerado ´e a representa¸c˜ao da intera¸c˜ao ambiente-institui¸c˜ao: alguns modelos n˜ao prevˆeem linguagem para representar tal intera¸c˜ao; outros modelos prop˜oem linguagem mas, entre esses, nem todos prop˜oem interpretador para a linguagem e nem todos citam exemplos de aplica¸c˜ao da linguagem e interpretador em um SMA.

Uma outra conclus˜ao decorrente do estudo realizado foi com rela¸c˜ao `a influˆencia da institui¸c˜ao sobre a pr´opria institui¸c˜ao: um fato institucional pode ser considerado um fato bruto em uma constitutive rule. Isso indica a possibilidade de tratar de fatos verificados na di- mens˜ao institucional de um SMA como fatos capazes de provocarem altera¸c˜oes na institui¸c˜ao. Essa abordagem ´e verificada na teoria de Serale e no modelo de (ALDEWERELD et al., 2009) e ser´a adotada no restante deste trabalho.

Conforme mencionado anteriormente, a ´unica proposta em que um SMA ´e concebido da mesma forma como ´e concebido neste tra- balho (composto por agentes, ambiente e institui¸c˜ao como dimens˜oes prim´arias) ´e o modelo de (PIUNTI, 2009). Este modelo, no entanto (i) ´e proposto com forte embasamento em modelos espec´ıficos de ambiente e institui¸c˜ao, (ii) prop˜oe uma linguagem mas n˜ao descreve interpretador

para a linguagem proposta e (iii) considera apenas eventos ocorridos no ambiente como fatos brutos. Com base nesses aspectos, no pr´oximo cap´ıtulo ser´a proposto um modelo para tratar da mudan¸ca de estado da institui¸c˜ao em fun¸c˜ao de fatos ocorridos no ambiente ou na pr´opria institui¸c˜ao em SMA2. O modelo tem inspira¸ao naquele proposto em

(PIUNTI, 2009), mas (i) ´e generico quanto a modelos de ambiente e ins-

titui¸c˜ao, (ii) considera tanto eventos quanto estados como fatos brutos e (iii) tem uma linguagem proposta e, para tal linguagem, tem proposto um interpretador.

2A “mudan¸ca de estado da institui¸ao” ser´a, algumas vezes, referida como fato institucional, `a semelhan¸ca da terminologia usada por John Searle.

3 UM MODELO PARA INTERAC¸ ˜AO INSTITUIC¸ ˜AO-AMBIENTE EM SMA

No cap´ıtulo anterior, foi analisada a rela¸c˜ao entre a realidade bruta, percept´ıvel aos sentidos das pessoas, e a realidade institucional. A quest˜ao foi analisada tanto sob a ´otica das ciˆencias humanas quanto de SMA. Na ´area das ciˆencias humanas, analisou-se a teoria da cons- tru¸c˜ao da realidade social proposta por John Searle (SEARLE, 1995), segundo a qual certos elementos da realidade f´ısica tˆem significado em n´ıvel institucional. Esse significado ´e definido por constitutive rules (que, no contexto do modelo proposto, tamb´em ser˜ao referidas como “regras count as”). Os fatos resultantes da aplica¸c˜ao de uma regra count as s˜ao chamados fatos institucionais. De forma semelhante e, em alguns casos, com inspira¸c˜ao na teoria de Searle, diversos estudos tratam de rela¸c˜oes entre as dimens˜oes bruta e institucional em SMA e prop˜oem modelos para tratar tais intera¸c˜oes.

Neste cap´ıtulo ´e apresentado um modelo para cria¸c˜ao de fatos institucionais a partir de fatos ocorridos no ambiente e na institui¸c˜ao, considerando um SMA como um sistema aberto no qual agentes, ins- titui¸c˜ao e ambiente s˜ao abstra¸c˜oes prim´arias distintas. Essa concep¸c˜ao ´

e semelhante `a concep¸c˜ao do modelo Embodied Organization, apresen- tado na se¸c˜ao 2.2.8, que inspirou o modelo aqui apresentado. Apesar dessa influˆencia, no entanto, o modelo apresentado neste cap´ıtulo apre- senta algumas diferen¸cas em rela¸c˜ao ao que o inspirou. Uma primeira diferen¸ca ´e que o modelo Embodied Organization foi proposto utili- zando como base o modelo CArtAgO para infraeastrutura ambiental e o modelo Moise para estrutura institucional. De forma diferente, o modelo aqui apresentado foi elaborado procurando manter generalidade suficiente para abstrair aspectos relacionados a modelos espec´ıficos de ambiente e institui¸c˜ao. Essa busca por generalidade implica em ou- tras diferen¸cas com rela¸c˜ao ao modelo Embodied Organization, como, por exemplo, a utiliza¸c˜ao do estado do ambiente e da institui¸c˜ao como fato bruto e a defini¸c˜ao de uma linguagem espec´ıfica para descrever a cria¸c˜ao de fatos institucionais.

Para apresentar o modelo, este cap´ıtulo est´a estruturado da se- guinte maneira:

• Na se¸c˜ao 3.1 s˜ao feitas considera¸c˜oes iniciais sobre os princi- pais aspectos relacionados ao contexto em que o modelo ´e pro- posto: SMA como um sistema aberto formado por trˆes abstra¸c˜oes prim´arias: agentes, institui¸c˜ao e ambiente.

• Na se¸c˜ao 3.2 ´e descrito o modelo de intera¸c˜ao I-E proposto.