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CONCORRÊNCIA INTERCAPITALISTA E GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRABALHO: TERCEIRIZAÇÃO

2. MERCANTILIZAÇÃO DAS PRÁTICAS CORPORAIS: CONCORRÊNCIA INTERCAPITALISTA E GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE

2.2 CONCORRÊNCIA INTERCAPITALISTA E GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE TRABALHO: TERCEIRIZAÇÃO

Um dos elementos que observamos enquanto tendência geral e que se manifesta de forma particular também no segmento de fitness e bem-estar como uma inovação, é o processo de terceirização12pelo qual passam as academias.

Segundo Alves (2005, p. 206), a terceirização constitui-se na “... focalização da produção, isto é, a empresa tende a concentrar seus esforços e a se especializar na produção daquelas mercadorias sobre as quais ela detém evidentes vantagens competitivas”. É assim que também entende a questão a

12 Nesse momento iremos tratar das conseqüências da terceirização em relação à concorrência intercapitalista, para posteriormente tratarmos de suas conseqüências para os trabalhadores do segmento de fitnesse bem-estar, principalmente professores de educação física.

Revista Fitness Business Latin América (2006c), em uma de suas matérias, intitulada “Serviços próprios ou terceirizados? Eis a questão”. Nessa matéria define-se que a terceirização serve para que as empresas direcionem seus esforços para o seu objetivo principal. Isso significa dizer que se o principal serviço de uma academia é vender práticas corporais em forma de aulas, deve focar, portanto, seus esforços exclusivamente nessa atividade, deixando para terceiros as atividades que fazem parte do entorno da vida da academia.

Alves (2005) afirma que a lógica de subcontratação, ou terceirização, acompanhou o próprio processo de industrialização do país, mas assume notoriedade no campo da administração da produção capitalista a partir dos anos de 1980, e se expande de forma acelerada no início da década de 1990. Deste modo, não poderíamos afirmar que se constitui em uma novidade em si, pois vem sendo utilizada em diferentes ramos de produção, de formas qualitativamente e quantitativamente diferentes, há algumas décadas. O que podemos considerar como uma inovação é o fato de que atualmente esse mecanismo tem sido utilizado de forma ampla, atingindo os mais diversos ramos da produção capitalista, seja de bens ou serviços, incluindo aqui o segmento de fitness e bem-estar.

Essa inovação organizacional adotada amplamente pela empresas capitalistas se manifesta no segmento de fitness e bem-estar através da subcontratação terceirizada de empresas que prestam serviços de limpeza, contabilidade, advocacia, estacionamento e manobrista, além de lanchonete, restaurante, loja de artigos esportivos, salão de beleza, agência de viagens entre outros, além de serviços mais próximos com a atividade principal da empresa, como nutricionista, fisioterapia, massoterapia, chegando até em alguns casos a avaliação física e o personal trainerserem contratados de forma terceirizada.

A idéia de terceirizar os serviços que não conformam a atividade principal da empresa só se realiza em um processo e organização do processo de trabalho das academias por constituírem-se em uma inovação que possibilita vantagens competitivas e de manutenção e ampliação de suas taxas de lucro. E se substancia na tendência geral da atual fase monopolista do modo de produção

capitalista de tornar diversos serviços anteriormente improdutivos dentro das empresas, em produtivos, ou seja, geradores de mais-valia que colocada em movimento valorizam continuamente o capital.

Os motivos específicos que induzem as empresas em geral a adotarem a terceirização são diversos e se manifestam de forma particular em cada ramo da produção, não sendo pertinente em nossa avaliação descrever as vantagens do pondo de vista do capital partindo de formas concretas e particulares que não sejam do próprio segmento de fitness e bem-estar. Isso nos ajuda a evitar, em parte, transposições mecânicas de um processo de trabalho para o outro na tentativa de generalizá-lo.

Assim, recorremos à Revista Fitness Business Latin América, que em sua edição nº 28 esboça as vantagens, para a indústria do fitness e bem-estar, em utilizar, enquanto estratégia organizacional do processo de trabalho das academias, a subcontratação ou terceirização de serviços e produtos que não façam parte da atividade principal da empresa. A primeira vantagem, de acordo com a Revista Fitness Business Latin América (2006c), trata-se da eliminação de possíveis ações trabalhistas, encargos sociais e cobertura de faltas, férias e auxílio-doença sem qualquer custo adicional, que ficariam sob responsabilidade da empresa contratada pela academia, já que os terceirizados não se constituem enquanto empregados diretos das academias. Dessa forma, atenuar-se-iam possíveis conflitos com os trabalhadores e diminuir-se-iam gastos. A segunda vantagem constitui-se na contratação de mão-de-obra especializada, fazendo com que as academias encontrem com facilidade as empresas terceirizadas, especialistas em seus ramos de atuação, diminuindo o tempo de busca por alguém especializado e não necessitando investir em qualificação de trabalhadores que não façam parte da atividade central da academia. A terceira conveniência em terceirizar diz respeito à possibilidade de expandir os negócios sem grandes investimentos. Isso ocorre, em muitos casos, por meio do oferecimento de serviços através de empresas terceirizadas ou por subcontratados. Para tal, cedem-se espaços para essas atividades paralelas, que não constituem a atividade principal da academia, como por exemplo,

restaurantes, lanchonete, salão de beleza, entre outros, e tem-se como contrapartida uma parcela dos rendimentos desses empreendimentos – aluguel, por exemplo – sem a necessidade de investir diretamente. O quarto elemento vantajoso trata-se do acesso a novos serviços e tecnologias de forma mais rápida.

A empresa terceirizada, tendo foco também em sua atividade principal, terá melhores condições de obter e oferecer serviços e tecnologias com maior velocidade. A quinta vantagem destacada conforma-se na facilidade de administrar os funcionários, pelo número de contratados diretamente ser relativamente reduzido, as funções ocupadas por esses contratados serem semelhantes, e no momento de criticar alguma atividade mal-executada por funcionário terceirizado, conversa-se diretamente com o administrador/

proprietário da empresa subcontratada. Essa vantagem repercute em uma outra que é o controle de qualidade mais eficaz sobre os serviços prestados, por ser possível manter o foco em uma atividade especifica. Outra conveniência que acaba sendo resultado de todas as anteriores, diz respeito à possibilidade de diminuir o custo final do serviço oferecido pela academia, o que a autoriza vender o serviço por um preço menor, colocando tal empresa em vantagem, do ponto de vista competitivo, perante as outras academias que prestam o mesmo serviço nas mesmas condições, por um preço superior. Ou ainda, se vendendo o serviço pelo mesmo preço que as outras academias, obterem um lucro extra.

Mesmo com as vantagens em terceirizar expostas, é possível identificar a adoção de tal inovação organizacional de formas variadas mesmo dentro do segmento de fitness e bem-estar, em que encontramos empresas que terceirizam a maioria de seus produtos/serviços e outras terceirizam muito pouco, adotando tal mecanismo de organização do processo de trabalho de acordo com suas necessidades e experiências concretas, que as possibilitem trabalhar em condições mais lucrativas. Na mesma matéria que utilizamos para descrever as vantagens de terceirizar, expostas na Revista Fitness Business Latin América (2006c), encontramos exemplos que caracterizam algumas academias como

“terceirizadas desde nascença”, que subcontratam quase todos os serviços, as de

“serviços mistos”, que terceirizam apenas alguns setores da academia e as de

“serviços próprios”, que praticamente não terceirizam. Isso demonstra que mesmo considerando a terceirização uma inovação, é possível apenas concebê-la como uma tendência geral que se manifesta também no segmento de fitness e bem-estar, adotada e manifestada nos processos de trabalho das academias de forma heterogênea.

2.3 CONCORRÊNCIA INTERCAPITALISTA E GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DOS